sábado, 15 de maio de 2010

Amandos e Sucessandos

Como meus leitores mais assíduos já devem ter percebido, tudo que tange as relações entre pessoas é um tema muito caro a este blogueiro. Em um post anterior falei sobre o amor. Essa eu considero a capacidade (nem sempre aproveitada) mais importante que todos possuem. É um raro tesouro que, quando posto em ação produz um bem igualmente grande tanto para o indivíduo quanto para o coletivo em que este se insere.

Como deixei bem evidente naquele post, tenho consciência de que não são muitos os que se aproveitam desta capacidade, um vez que ela exige tempo, devoção, paciência e um monte de outras virtudes que não é necessário explicar para quem ama, e é impossível explicar para quem não ama (blasé). Este blogueiro acredita que o amor é o caminho mais seguro para felicidade, seja ela individual, seja ela coletiva.

Como escrevi no outro post, um blasé pode tentar a busca de sua felicidade por meio do sucesso, do sucesso próprio. O sucesso não demanda relações profundas com ninguém a não ser consigo próprio. Isso põe o sucesso muito mais próximo do alcance do que o amor.

É importante que eu defina a que estou me referindo com a palavra sucesso: é toda e qualquer finalidade individual, seja ela política, econômica, acadêmica, profissional... que pode ser alcançada por meio de algum planejamento racional, e que não atribui nenhuma importância para o amor.

Enquanto quem ama (que, para facilitar a escrita e a leitura chamarei de "Amando") tem que estar a todo o tempo preocupado consigo próprio e com que(m) ama, quem busca o sucesso pessoal (que chamarei se "Sucessando") só tem que se preocupar consigo próprio e com seus intentos pessoais.

Há, entretanto um problema. O Sucessando está tão ou mais imerso no mundo das pessoas quanto o Amando. Mais que isso, o Sucessando depende de muito mais gente do que o Amando.

(Como bem lembrou minha amiga Dani em um comentário ao referido post, não se pode amar a tudo e a todos ao mesmo tempo)

O amor torna certas pessoas/entidades especiais. Essas pessoas/entidades são, portanto, "selecinadas" por quem as ama (os Amandos). Já diria Weber, esta é uma relação social comunitária, que nesse caso se baseia no amor (e faz parte de uma ação social afetiva).

O sucesso já diverge nisso: ele não é um sentimento, mas sim uma finalidade a ser alcançada. Algo racional, portanto. Então, quem visa o sucesso não escolhe com quem se relacionar (durante o tempo em que agir com a finalidade do sucesso, logicamente): se relaciona com quem tiver maior potencial para alavancar-lhe ao sucesso, independentemente de quem seja a pessoa. Ele (Sucessando) converte a relação que tem com outras pessoas em um relação que se tem com um meio (para o sucesso) ou com um obstáculo (ao sucesso). Marx já dizia algo parecido com isso, mas falava da conversão da relação entre pessoas em uma relação entre coisas. Em ambos os casos ocorre uma objetivação das relações pessoais.

O Sucessando é incapaz de enxergar em sua frente algo que divirja do seguinte binarismo: pessoas-meio X pessoas-obstáculo. É com esse tipo de gente (?!) que ele se relaciona.

Eventualmente dois ou mais Sucessandos podem se agregar em torno de uma causa comum a que ambos aspirem. Um se torna uma pessoa-meio para o outro, e dessa maneira eles se agregam. Estabelecerão entre si uma relação de fidelidade, uma vez que há um objetivo em comum sendo perseguido por todos eles. Hmmmmm..... então este é um caminho por meio do qual aproximaram-se do amor os Sucessandos, certo?

Errado!

Uma relação que se estabelece pela existência de um fim comum a todas as pessoas não torna as outras pessoas indispensáveis! Muito pelo contrário, este tipo de relação torna o fim (e somente o fim) indispensável, e as pessoas totalmente dispensáveis.

A partir do momento em que um Sucessando disser para o outro que o fim a que buscam já não é mais o mesmo, irá cada um para seu lado (novamente). Não há nada, absolutamente nada que seja capaz de mantê-los juntos. Se eles se unem é exclusivamente porque há entre eles um objetivo comum. Acabou o objetivo, acabou a relação. Desse jeito. Utilitarismo puro. Os Sucessandos devem conhecer bem esta lógica.

Isso na melhor da hipóteses, já que ainda existe a possibilidade de um Sucessando trair o outro (o que, acredite, não é nada raro). Nesse caso, a glória do Sucessando traidor nunca é maior do que o fracasso do Sucessando traído. Numa situação de traição, o Sucessando traidor muito se orgulhará de ser um Sucessando, e o Sucessando traído se arrependerá (ao menos por um instante) amargamente de ter estabelecido uma relação com este outro Sucessando.

Pode ser que (o traído) se perguntará desesperado "por que razão não sou Amando, meu Deus do céu?". Entretanto, eu acho mais provável que ele se pergunte "por que fui tão burro e não o traí antes?". Não nos esqueçamos de que um Sucessando é racional.

Falando nisso, onde estavam os Amandos durante todo esse tempo? -Bom, provavelmente estavam sorrindo e comendo o bolo que prepararam juntos. Benditos sejam os Amandos. Espero que em algum dia desta minha vida consiga me tornar um deles.

É isso por hoje.