terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Trabalho, logo, existo.

Leitores,

Perdoem o meu sumiço deste blog. A razão para este sumiço é a decadência pela qual passa meu time, a Sociedade Esportiva Palmeiras, que se encontra em uma draga danada há 11 anos, e isto tem demandado muitos dos meus esforços. Criei inclusive um outro blog, só para falar da SEP, o http://arrancada1942.blogspot.com/, que mantenho junto com um colega, o "Maluco". Ultimamente minhas atenções têm se voltado para este outro blog.


Dito isto, vamos ao que interessa.


Hoje tive contato com um causo que não poderia deixar de compartilhar convosco.


Certa pessoa, dona de uma clínica veterinária, após anos e anos a fio sem parar de trabalhar, devido à soma de problemas particulares com outros problemas que ocorriam dentro da própria clínica teve um ataque de stress. A intensidade deste ataque foi tamanha, que sua cabeça e sua barriga entraram em parafuso, de forma que imediatamente ela foi ao médico para verificar sua situação e saber o que ocorrera.


Avaliada no consultório, o médico disse a esta pessoa que para seu problema não haveria remédio melhor do que uma boa viagem, que lhe permitisse descansar bastante e esquecer dos problemas que a incomodavam naquele momento. Ela voltaria novinha em folha.

Uma hora depois, esta pessoa já tinha pêgo seu cônjuge, as malas e o carro, e já estava léguas distante de casa. Deixou um bilhete em cima da mesa da cozinha e sumiu, simplesmente. Depois de anos, teve uma semana de férias. Mas só porque o médico indicou, é claro.


Não sei se você reparou algo de estranho nesta história, leitor.

Eu reparei. Mas vou começar do começo:


No mundo em que eu vivo, pouca coisa se ganha de graça. Se quiser comer tem que pagar, se quiser beber tem que pagar, se quiser vestir tem que pagar, se quiser ir pra longe tem que pagar..... enfim. E só pode pagar quem tem dinheiro. E para ter dinheiro (caso não se trate de um "fora-da-lei", obviamente), é necessário trabalhar. No mundo em que eu vivo, o trabalho é o meio mais comum para ter acesso ao dinheiro, e o dinheiro o meio mais comum para alcançar as coisas de que se necessita/gosta/precisa para viver.


E as coisas acontecem de uma forma tal que uma parada no trabalho pode significar uma parada no dinheiro, e até uma parada na sobrevivência. O TRABALHO se torna algo NECESSÁRIO.  Para muitos, um mal necessário.


A maioria das pessoas que conheço trabalha porque é coagida a isto. Como disse acima, trabalho gera dinheiro, que gera meios de sobrevivência. Não se sobrevive numa cidade como São Paulo sem dinheiro nenhum. Se as pessoas pudessem ganhar dinheiro e sobreviver sem trabalhar, ou não trabalhariam, ou trabalhariam em algo que lhe fosse mais agradável.


Independentemente disto, muitas pessoas fazem de seus trabalhos suas vidas. Não páram. Trabalham. E não páram. trabalham. E não páram. E trabalham. E não páram. E trabalham mais. E ainda assim não páram. Fazem isto de forma tão sistemática e repetitiva,  que o trabalho acaba se tornando um fim em si mesmo: vive-se para trabalhar. Se você pergunta "mas por que raios você trabalha tanto?" a resposta que vem é "porque eu não sou do tipo de gente que consegue ficar parado.", ou "porque eu preciso disso". Se conseguem uma promoção, então...

- "Beeeeeeeeeeeeeemmmmmm!!!!!!!!! Fui promovido!!!! Vou ganhar o dobro!!!!! A única diferença é que agora além de segunda a sábado, vou ter que trabalhar meio período no Domingo. Não é demais???????!!!!!!!"

O único refúgio para isto é o consumismo. É autopresentear-se. Torrar a fortuna que ganha nas superfluidades do Shopping. E fazer dívidas. Dívidas estas que serão pagas com mais trabalho. Se torna um círculo vicioso.

Mas é isso o que é ser feliz? É ter de tudo? É trabalhar até o  médico dizer que "olha, rapaz, você deveria trabalhar menos, porque isto está acabando com você."?! Me poupe. E poupe seu médico também.

Aliás, não espere seu médico:

- Dizer que você tem que viajar, para que então você viaje.
- Dizer que você deve fazer sexo, para que então você faça sexo.
- Dizer que você deve rir mais, para que então você ria mais.
- Dizer que você tem que levar uma vida mais leve, para que então você leve uma vida mais leve.

Faça você mesmo. A sua felicidade só pode ser feita por uma pessoa: você. E ninguém mais (nem seu médico). Se possível, trabalhe o mínimo e viva o máximo. Ninguém veio aqui pra sofrer. Trabalho é um meio para atingir as coisas, não faça dele a atividade principal da sua vida. Curta quem você gosta.

A vida não dura para sempre, não se esqueça. O ontem não volta amanhã.

Bom, por hoje deu.

É isso.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Público zero? - Aqui é Palmeiras!

"É neste momento de dificuldade que esperamos apoio. E foi o que a diretoria fez. Agradecemos ao palmeirense que veio hoje. O torcedor que gosta do Palmeiras jamais vai fazer uma greve. É o amor acima de tudo. " São Marcos

Quarta-feira, 21:50. Um clima de protesto do lado de fora do Estádio Municipal. Boicote das organizadas. Especulações de que o público de ontem seria o menor da história do Palmeiras. Um placar de 6x0 a ser revertido no primeiro encontro entre time e torcida desde o fatídico jogo na capital paranaense.

Então o Palmeiras sobe a campo. Protestos? - Não. Vaias? - Nenhuma.

No jogo do ano em que o time mais precisava de apoio, a torcida apoiou. E foi do começo ao fim. E não foram 1 ou 2 mil, mas sim 6541 pagantes. Um público total de quase 7 mil. Na semana passada, eu me perguntava se a torcida do Palmeiras era uma torcida de resultados. Ontem à noite tive a resposta: não o é. Pelo menos não o são os 7 mil que no Pacaembu ontem estiveram.

Bem como escreveu o companheiro Barneschi, ontem tivemos no Pacaembu um público seleto, que foi a estádio para, e somente para apoiar o Palmeiras. E eu também fui lá para isso. O torcedor que gosta do Palmeiras jamais vai fazer uma greve, é amor acima de tudo. Ninguém melhor que ele, o Santo, para dizer algo como isso.

Falando em greve, acredito que há várias interpretações a uma campanha do estilo "público zero".

Primeiramente, ficou provado ontem que, quando se trata de Palmeiras, uma campanha para pouco público deveria se chamar "público 6500". Além disso, há de fato uma ruptura entre o tipo de torcedor (?) que promove uma campanha como esta e o torcedor que abre mão de tudo para ver seu time jogar, em qualquer situação. É a este último que São Marcos se refere.

Além do mais, (o "público zero") é um protesto passivo, e eu concordo com quem diz que "isso aí é coisa pra torcedor que nunca vai ao estádio se sentir importante". Acredito que se o torcedor quer mudar alguma coisa no clube, tem que optar pela ação (presença), e não pela "não-ação" (ausência). Se das arquibancadas não é possível fazer mais que ajudar a levar o time à vitória, então associe-se ao clube!

Como o 3vv bem colocou, sãoR$70,00 por mês, e você de fato terá voz, voto e uma parcela de poder para alterar o rumo do clube.

Mas também há a opção de nem se associar, nem ir ao estádio, nem incentivar o time. Ficar no zero.

Pensando bem, é até melhor mesmo que adiram ao "público zero" de maneira vitalícia e não apareçam mais para atrapalhar o time. Não farão falta. Mas eu aposto que na hora da decisão aparecerão querendo comprar ingressos.

PS.: Foi um prazer dividir a arquibancada com todos os presentes ontem. Nós somos o Palmeiras!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Torcedores de resultados?

6x0. Taí um bom motivo para escrever.

O Palmeiras vinha de um momento muito bom durante o campeonato Paulista e a própria Copa do Brasil. A torcida toda confiante de que neste ano pudéssemos reverter a sina de insucessos que nos persegue já há algum tempo, afinal de contas tínhamos Felipão no banco, Valdívia e Kléber representando com a nossa camisa...

Mas bastou um jogo. Um único jogo. Foi o suficiente para que as camisas palestrinas sumissem das ruas, para que os torcedores começassem a reclamar do time, para que Felipão, o mestre, passasse a ser contestado, enfim. Uma avalanche em questão de 5 dias. Crise de desconfiança. O que foi construido em quase um ano é agora colocado em xeque por conta de 1 jogo. Não era isso o que eu esperava, sinceramente.

Aliás, este tipo de postura partido de um "torcedor de televisão" é até compreensível. A relação do cara com o time se resume àquelas duas horinhas por jogo no sofá, com a cervejinha do lado: não pula, não canta, não vive o futebol, como faz o torcedor de arquibancada. Se sai um gol, grita pra todo mundo dos prédios próximos ouvir, e se ele não sai, ou desliga a TV, ou fica em silêncio, sei lá..., é um torcedor de TV: quando acaba o jogo ele vai dormir e acabou.

Mas há certas posturas que julgo inadmissíveis por quem canta a todo momento "Palmeiras a razão do meu viver", "Palmeiras até morrer", "se ele jogasse lá no ceú eu morreria só pra (lhe) te ver", entre outras.

Há quem defenda a existência de profundas diferenças entre a torcida do SPFC e a nossa. Eu mesmo sou um dos que tendo a ver dessa maneira. Mas acho que esta minha opinião terá sua prova de fogo em local, dia e hora marcados: Pacaembu, 12/05/2011 às 21h50. Vamos ver como se portará a torcida que "ganhando ou perdendo, não pára de cantar".

Já ouço dizer que quem for ao estádio neste próximo jogo contra o Coritiba irá pra protestar. Até aí, beleza. Qualquer um (inclusive não-palmeirenses) pode protestar. Mas tem uma coisa: se a postura da torcida for de protesto ao invés de incentivo, então pelo menos que pare de se arrogar "diferente" de todas as outras.

Não quero defender aqui que a torcida deva ocupar um papel passivo o tempo todo. Mas protestos, se ocorrerem, devem ser feitos em momentos em que o time já não precise mais da torcida para vencer. De preferência ao final da partida.

Quem for ao Pacaembu na próxima quarta-feira para xingar o time (ou peças dele), estará corroborando com a suspeita de que a nossa torcida só quer saber de resultados, e que o time não pode ter sequer uma partida ruim (mesmo que muito ruim, como este inengolível 6x0) que a "torcida que canta e vibra" se converte em torcida que silencia e xinga em questão de segundos. É uma torcida de resultados, como qualquer outra, inclusive como os tão famigerados bambis.

E se é pra ser uma torcida de resultados, que seja pelo menos uma torcida de resultados decente, que não tente enganar ninguém sob o discurso de "amor incondicional ao Palmeiras". Este clube merece mais.

A conferir.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A solução do transporte público

Sou totalmente entusiasta dos transportes públicos.

Talvez por viver boa parte do meu tempo na cidade de São Paulo, onde o trânsito é caótico, coaduno com a posição de muita gente que aparece na TV dizendo que a solução são os meios de transporte alternativos. Ciclovias, corredores de ônibus, metrô, trens, enfim. Se não jogar milhares de toneladas de poluição no ar, então, tanto melhor.

Mesmo porque, além de tudo, o transporte particular (leia-se automóvel) em minha opinião é muito mais desgastante. O condutor tem que prestar atenção em tudo o que está acontecendo à sua volta, tomar cuidado com os motoboys que passam arriscando suas vidas nos corredores das vias, tomar cuidado com os outros motoristas, enfim. Dentro dos transportes públicos, na grande maioria das vezes, é sentar e esperar.

Também é relevante o preço do transporte. Na maioria das vezes, é muito mais barato pagar uma irrisória taxa de ônibus para se deslocar do que comprar um carro e arcar com sua manutenção o tempo todo. Combustível, seguro, IPVA, manutenção, enfim. Tudo isso consome uma grana relevante.

Sem contar com o meio ambiente. Eu não sou ativista ambiental, mas mesmo assim não posso fechar os olhos para os maiores causadores de poluição do país: os carros.

Não mudei minha opinião em relação aos transportes nestes últimos tempos: sigo achando que a melhor alternativa ainda são os transportes públicos.

Entretanto atualmente eu já não faria uma campanha do tipo "deixe seu carro em casa". Uma campanha como esta incentivaria uma troca: a troca do transporte particular pelo transporte público.

Acontece que nos últimos tempos me dei conta que uma simples troca já não é mais viável. E explico porque:

Num trajeto da cidade de Guarulhos até a Universidade de São Paulo, ida e volta se gastaria, e valores de hoje:
R$3,75 de ônibus intermunicipal EMTU para chegar até o metrô Armênia
R$2,90 de metrô
R$3,00 de ônibus municipal SPTrans da cidade de São Paulo

R$9,65 para ir. +R$9,65 para voltar. =R$19,30 na soma, o trajeto de ida e volta.

Fazendo-se este trajeto em todos os dias úteis, se tem o gasto de R$96,50/semana.
Num mês de 30 dias, sendo 21 deles dias úteis, o gasto é por volta de R$400,00.
Em um ano com 11 meses úteis, quem precisa destas 03 conduções todos os dias paga nada mais nada menos que R$4400,00.

Isso é um assalto.

E para mim, ao menos, ficam algumas perguntas:

1ª Se um indivíduo sozinho dentro de seu carro consegue fazer o trajeto Guarulhos-USP-Guarulhos gastando bem menos que R$19,30, como é que os caras que carregam MILHÕES de pessoas em seus trens e ônibus não conseguem fazê-lo, uma vez que em um ônibus cabem pelo menos 70 pessoas?!

2ª Se chegamos ao cúmulo de pagar R$3,75 em uma passagem de ônibus intermunicipal, então porque é que só passa 01 ônibus a cada 15 minutos?

3ª Quanto recebe um motorista de ônibus?

4ª Quanto recebe um cobrador de ônibus?

5ª Quanto recebe (sim, em Guarulhos isto existe) um motorista-cobrador?

6ª Para onde vai tanto dinheiro?

7ª Como pode ser mais caro que uma pessoa se desloque com outras tantas num ônibus do que se esta mesma pessoa usar seu próprio carro para fazer o mesmo trajeto?

8ª É possível incentivar o transporte público desta maneira?

Diante disto tudo, acredito que uma troca já não seria justa com a população. Não é justo pedir ao povo que abandone seu carro, abra mão de seu conforto conquistado com base em seu suor, e pague mais caro ainda para andar de transporte público abandonado e sustentar a corrupção de um penca de engravatado filho da puta (perdão) que só anda de helicóptero.

Mas qual é a solução para o transporte público então?

Simples: fazer a cidade parar. Chegar um dia em que ninguém se desloca na cidade. Forçar os magnatas todos a comprar helicópteros. Helicópteros esses que não poderão circular em dias de chuva, e farão com que seus donos percam seus compromissos por conta do trânsito. Na hora em que os (literalmente) cachorros grandes se sentirem prejudicados, não tenha dúvida de que teremos rapidamente uma solução para o transporte público. Não tenha dúvida disso.

A solução para o transporte público está no transporte privado. Vamos encher as ruas de carros, até que não haja mais ruas para eles.

Neste momento então, veremos quando haverá outro aumento no preço do busão.

É isso.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Ídolos do futebol, e marketing

Já faz algum tempo que o futebol se rendeu ao mercado. Se hoje é irritantemente comum ouvir falar em "profissionalização do clube", "marca X. F.C.", "nossos consumidores" (no que se refere aos torcedores), "o clube deve operar como uma empresa" e outras coisas do tipo, não se pode acreditar que sempre foi assim.

Este discurso é eminentemente recente, a propósito.

A entrada do futebol no mundo dos negócios, entretanto, não é tão recente assim. Conforme o Brasil e o mundo foram tornando mais intensos seus respectivos processos de modernização, paralelamente foi avançando o processo de modernização (ou corporativização) dos clubes.

Os clubes de futebol mais importantes do nosso país, e talvez mesmo os clubes mais importantes do mundo surgiram como associações desportivas, sem fins lucrativos, cujo intuito era agregar dentro de si os sócios para a prática de desportos e haver algum convívio social interno. Reuniam pessoas de uma mesma comunidade, conhecidos, em um ambiente familiar, de proximidade. Eis um trecho do estatuto da Sociedade Esportiva Palmeiras:

"TÍTULO I

DA DENOMINAÇÃO, SEDE, FIM E DURAÇÃO.

Art. 1º - A Sociedade Esportiva Palmeiras (SEP), com sede social,
administrativa e foro jurídico em São Paulo, Capital, na
rua Turiaçú, 1840, Perdizes, CEP 05005-000, fundada com
o nome de Sociedade Esportiva Palestra Itália, em 26 de
agosto de 1.914, alterado para o de Sociedade Esportiva
Palestra de São Paulo, conforme ata da sessão de 27 de
março de 1.942, e mantida com o nome atual, conforme
ata da sessão de 19 de outubro de 1.942, é uma entidade
civil de caráter desportivo, com personalidade jurídica de
direito privado, sem fins econômicos lucrativos, constituída
na forma da lei, mediante o exercício de livre associação.

Art. 2º - A sua finalidade é promover, difundir e aperfeiçoar a
prática da educação física, de desportos em geral, formais
e não formais, bem como promover as culturas morais,
artísticas, cívicas, sociais, recreativas e educacionais dos
associados que a compõem, além de todas as atividades
complementares inerentes ao alcance dos objetivos
sociais, podendo, ainda, participar de outras sociedades,
como quotista ou acionista, mediante a aprovação do seu
Conselho Deliberativo (C.D.)."


Isto foi uma mera ilustração. Este é o link para o site da SEP. Neste estatuto não há nenhuma menção a empresa, corporação, nem nada do tipo.

Com o tempo, as massas foram aderindo aos clubes de futebol, que perderam a característica da proximidade entre os sócios. A princípio, eram os próprios sócios os únicos torcedores dos clubes.

Com o passar do tempo, as torcidas foram se desvencilhando de seus clubes sociais originais. Daí alguém teve a brilhante ideia de fazer com que os torcedores gerassem dinheiro para os clubes. É a partir deste momento que se inicia a trajetória do marketing esportivo.

Pois bem, o tempo foi passando, e o marketing esportivo foi avançando. Primeiro foram os patrocínios de camisa. Depois a lei Pelé, que dava ao jogador status de funcionário do clube, uma inovação no Brasil. Aí começaram as ações de marketing, boneco pra cá, camisa comemorativa pra lá, e assim por diante. Os clubes se tornaram empresas, e os torcedores, consumidores. Pelo menos na ótica dos diretores.

Talvez o ápice do marketing esportivo no Brasil tenha sido a vinda dos Ronaldos para Corinthians e Flamengo, respectivamente.

Jogadores conhecidos mundo afora, cheios de empresas a seu redor (sim, alguns jogadores também se tornaram empresas) patrocinando-os, mandando em seus trajes, chuteiras e até cortes de cabelo (!!!!). São um prato cheio para o marketing esportivo.

E a imprensa (que conhece menos de futebol que os bêbados do bar da esquina da minha casa) elogia o marketing, uma fonte alternativa de receitas, a modernização, o profissionalismo desses clubes. Até aí tudo bem. O problema é que quem se rasga em elogios perante contratações e ações como estas (me refiro às contratações dos Ronaldos, nesse caso) só enxerga um lado da moeda.

Semana passada aconteceu algo que os marketeiros não previram: sua galinha dos ovos de ouro não jogou nada pela 5ª vez consecutiva no ano. Isto culminou na eliminação de sua empresa por um time totalmente desconhecido dos brasileiros, e a revolta de seus torcedores. Que fazer com o marketing agora?

Eu, particularmente adorei o modo pelo qual isso se desenrolou, por dois motivos principais:
1º: Sou palmeirense.
2º: Odeio quando tratam o futebol como um frio negócio.

Depois da última quarta-feira ficou muito claro que futebol não se ganha no marketing, mas sim no campo. Prova disso é que bastou a saída dos dois "astros" somada a um pouco mais de brio no time para que (veja só) vencessem o meu time (o Palmeiras, seu maior rival), 04 dias depois da fantástica eliminação.

Não se deve dar tratamento de ídolo a quem de fato não o é. O travequeiro não tem, e nunca teve identificação com o SCCP. Aliás, com que clube ele teve alguma identificação? Barcelona? Então porque jogou no Real Madrid? Inter de Milano? Então por que jogou no Milan? Diz que torce para o Flamengo. Então por que o preteriu e foi para o Corinthians?

O cara ainda me vem falar de amor?! Amor ao Corinthians? Ah, me poupe, vai...
Então porque não parou de comer/beber/farrear pra jogar decentemente pelo Corinthians? Se isso é amor, então a minha concepção sobre o assunto deve estar bem equivocada.

O outro Ronaldo, o agora flamenguista, a exemplo do chará, preteriu seu suposto clube do coração (o Grêmio) para rumar ao Flamengo. Este já foi bem mais descarado e não deixou dúvidas que o fez justamente pelo dinheiro. Pelo menos foi mais honesto.

Ídolos não são contruídos nas propagandas, em ações de marketing, ou qualquer frescura do tipo. Pára! Só existe um lugar dentro do qual um ídolo pode ser cunhado: o campo de jogo. E nenhum mais. E isso independe de caráter, conduta sexual, ficha criminal e o que quer que seja. E acima de tudo exige respeito à camisa que se veste. É o mínimo. E não me venha reclamar que teve o carro arrebentado. Ainda ficou muito barato, sinceramente. Acho que esses caras não têm noção do que é futebol.

A Nike deve ter virado a cabeça deles.

Por hoje é isso.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Natal e as coisas

A maioria dos ricos morre rico, e a maioria dos pobres morre pobre, até que provem o contrário. O que foge disso vira filme.

Não, eu não sou aquele cara de origem humilde, que teve que superar todas as dificuldades possíveis que a vida poderia ter imposto a mim, que no final da vida terá uma história de superação digna de um filme hollywoodiano. Longe disso.

Aliás, as histórias de vida que viram filmes retratam feitos extraordinários, de gente que conseguiu feitos impossíveis. São poucos os filmes que mostram pobres que fracassam, ou ricos que têm sucesso. Ninguém precisa de filme nenhum constatar isso.

Filmes tratam de exceções, pontos fora da linha, outliers. Falando nisso, é para um outlier, que me (de maneira indireta, é verdade) incentivou a escrever algo hoje, que este post quase natalino se oferece.

Fora do "espírito hollywoodiano", sabemos bem como as coisas funcionam. A tendência é a reprodução, e não sou só eu quem fala isso. Marx, Bourdieu..., enfim. Esses caras e outros tantos descrevem mecanismos sociais cuja tendência é fazer com que o abastado siga abastado, e o despossuído siga despossuído.

Quem tiver a oportunidadede ler a teoria de ambos (Marx e Bourdieu, no caso) provavelmente concluirá que esses anciões das ciências sociais têm bastante razão quando caracterizam as relações entre dominantes e dominados pelo aspecto da reprodução da desigualdade geração após geração. Quem, como eu, tiver uma inclinação para o pensamento de esquerda, se identificará mais ainda.

Partindo para o plano prático, e saindo um pouco da teoria, acho cabível uma crítica a um pensamento como esse:

"Caramba, a pessoa sempre teve de tudo na vida, nunca lhe faltou nada... como é que ele pode fazer uma coisa como essa?"

É claro que normalmente um comentário como este se refere a uma atitude alheia que é julgada errada na ótica de quem faz o comentário.

Tenho lá algumas ressalvas a este tipo de pensamento, e é para expô-las que este post se destinará.

Conforto material é muito bom. É algo a que, com raras exceções, todos aspiram de alguma maneira. E é uma aspiração tão generalizada que quem não o possui (ou então não é satisfeito com o que tem) pode pensar que quem possui não pode ter problemas na vida, uma vez que possui tudo o que seria possível ter. E esta é uma das maiores enganações que alguém pode cometer, e vou dizer por quê:

O fato de uma pessoa viver em situação confortável não a torna mais ou menos humana que ninguém. Esta pessoa segue tendo sentimentos, decisões a tomar, relações a manter ou estabelecer... enfim, uma vida a viver. E por que é que uma pessoa dessas estaria menos sujeita às interpéries da vida? Não consigo enxergar nenhum argumento que possa provar este ponto de vista. Por favor me indique se tiver, leitor.

Minha posição é esta:

Se pessoa A pensa que a pessoa B é feliz porque "B" tem tudo o que "A" gostaria de ter, isto significa que:

1º "A" inveja B pelo que B tem.
2º "A" não é feliz com o que tem.
3º "A" imagina que seria feliz se tivesse o que B tem.
4º Por acreditar que B tem tudo o que A gostaria de ter, A acredita que B não pode ser outra coisa, senão totalmente feliz e satisfeito com sua vida.

Os 4 pontos se articulam bem, mas formam um conjunto perigoso. Quem pensa desta maneira dá muito valor às posses e se ilude, em minha opinião. Está acreditando que conforto traz felicidade. E isso não é necessariamente verdade. Para uma pessoa que pensa da maneira acima descrita, seria possível comprar a felicidade, portanto. E isto, para este blogueiro, é um absoluto absurdo. Mais que isso: é pequeno. Atribui sua infelicidade à falta de posses, e a vê refletida nas posses alheias. Chega a dar dó. Alguém assim deve sofrer demais na vida.

A felicidade é algo totalmente subjetivo, isto é, para cada um a felicidade é uma coisa diferente. Isto já me é suficiente para dizer que nem todos serão felizes com o conforto material, e nem todos serão infelizes sem ele. Sempre haverá quem dará muita importância ao que o dinheiro pode trazer. Mas também haverá quem enxerga além (ou aquém) do dinheiro e do mundo "comprável".

Talvez o mais importante seja saber que a felicidade não está nas posses, e sim nas pessoas. Tanto para o rico quanto para o pobre. O rico pode comer o que quiser (seja vegetal, animal ou humano), beber o que quiser, ter o que quiser, enfim. Mas o dinheiro também tem um alcance limitado. O filho rico que passar a Noite de amanhã diante de uma mesa farta, mas somente com a companhia da babá e o cachorro na mansão de sua família difícilmente terá melhores lembranças deste Natal do que o menino pobre que estiver rodeado por sua família, mesmo que seja muita gente pra pouca comida.

Pelo menos amanhã, na Noite de Natal, não será o dinheiro o que fará as pessoas felizes.

Nunca reclame de um presente. Pelo contrário, dê graças aos céus que alguém doou seu trabalho, seu tempo e sua energia pra fazer com que aquele presente, excelente ou horrível, chegasse em suas mãos. Este alguém merece um grande sorriso e um forte abraço, independentemente do que esteja dando. O ato de presentear é muito mais grandioso e importante que o presente em si.

Feliz Natal, fiel leitor.

P.S.: Em 2011 voltamos.

É isso.

domingo, 19 de setembro de 2010

Tiririca e a democracia brasileira

(Continuação do post "Lula e a democracia brasileira")

Se no plano do poder Executivo, o acesso ao poder tornou-se mais democrático com a eleição de Lula, no plano Legislativo o mesmo demorou um pouco mais para ocorrer.

Até 2002, não tínhamos candidatos ao Legislativo diferentes de burocratas engravatados. Talvez a eleição estrondosa de Enéas Carneiro em 2002 fosse um indicativo de que o povo estava cansado de opções tão homogeneamente ruins.

A eleição é uma escolha de representantes. Uma vez que não há no rol dos candidatos ninguém que o eleitor olhe e diga "ah, este cara me representa", a democracia se enfraquece. Poucos são os deputados que se conhece. A relação cidadão-deputado só é mantida por um laço de obrigação eleitoral. Nada mais que isso. Depois da eleição, se esquece quem está lá. Não há identidade.

Clodovil Hernandes em 2006 e Netinho de Paula em 2008 se deram conta disso, e foram eleitos como deputado federal e vereador, respectivamente. Isso já foi um escândalo à sua época. Mas o mais escandaloso ainda estava por vir: O abestado. Tiririca se tornou em fenômeno do horário eleitoral paulista.

Minha opinião: vai se eleger, e provavelmente será o deputado com mais votos em São Paulo, e talvez bata o recorde de Enéas, de 1,57 mi de votos.

Isso é bom?

Tem muita gente metendo o pau no abestado. Dizendo que seria um retrocesso elegê-lo.

"Como é que pode alguém ser tão burro a ponto de votar no Tiririca?"

É o que ouço de diversos cantos. Eleger o abestado seria realmente um retrocesso?

Eu particularmente só não votarei nele por um motivo: ele não irá ao Congresso devidamente trajado caso eleito. Se ele prometesse ir à Câmara dos Deputados como Tiririca, e não como Francisco Everardo Oliveira Silva, certamente teria o meu voto.

Com raras exceções o Legislativo brasileiro em geral é ainda algo que paira a uma gigantesca distância do povo brasileiro. O povo vota porque é obrigado, não porque acha que deve votar.

A questão é que candidatos com quem o eleitor de fato se identifique só começaram a aparecer agora. E o que é representação se não a identificação entre representado e representante?

Tiririca é um homem público. Todo mundo sabe quem ele é, principalmente depois das propagandas políticas. Se ele fizer alguma besteira ou maracutaia enquanto no poder, sua carreira (política e artística) estará acabada. Ele nunca perderá o estigma de corrupto caso se envolva em algum "esquemão" dentro do Congresso Nacional.

Além disso, se eleito, estará sob constante vigilância. De todos. Será de fato um representante. Não será alguém que já nem se lembra quem é um mês depois da eleição.

Este blogueiro interpreta a potencial eleição do "abestado" mais como um progresso no que diz respeito à qualidade e à intensidade da representação política no plano Legislativo brasileiro do que como um retrocesso.

Com a eleição de gente conhecida para a ocupação dos cargos de poder nacionais, a cobrança que pode ser exercida é absurdamente maior. O poder não está nas mãos de um "sem-nome" qualquer, mas sim nas de alguém extremamente conhecido, que será cobrado (principalmente pelos que se opuseram à sua candidatura) até o final de seu mandato, se conseguir chegar lá.

Tiririca é um avanço, não um retrocesso. Uma vez que os engravatados não inspiram a confiança de ninguém, o Tiririca inspira. Mesmo que seja numa espécie de "voto de protesto", ou o que quer que seja.

Além de tudo, o cara ainda zoa, dentro de suas próprias propagandas a distância que separa o povão dos cargos legislativos hoje em dia.

"Você sabe o que faz um deputado federal? Bom, na realidade eu também não sei. Mas vota em mim que eu te conto." Tiririca

E é isso mesmo. Você, leitor, sabe o que faz um deputado Federal? Eu (o blogueiro) tenho uma vaga (eu disse vaga) noção, e olhe que eu estudei Política I, II, III e IV.

"Trouxe minha família para comover o eleitor" [...] "Pede voto, pai. Pede voto, mãe. Sorri, pai. Sorri, mãe." Tiririca

O abestado vai sacudir a política nacional. Já está sacudindo. E muita coisa tende a mudar (pra melhor) com sua eleição. Mesmo que esta mudança seja oriunda de uma reação conservadora partida de quem não admite uma derrota para um palhaço.

"O povo não é palhaço. Mas eu sou." Tiririca

Que você acha do abestado, leitor?

É isso.