sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sobre fortuna, virtú e o Zico

Não é possível ser bem sucedido em tudo na vida. Mesmo porque, o sucesso não é algo que dependa só de uma pessoa, tampouco somente de um único acontecimento, e (ao contrário do que muitos querem tentar nos convencer) não é algo que um bom planejamento consiga garantir. O próprio Maquiavel já dizia que um bom Príncipe deveria ter aliadas em sua pessoa duas características fundamentais para um governante: a FORTUNA e a VIRTÚ (este último vocábulo é, inclusive um termo criado pelo autor dentro desta obra). A virtú seria o talento, o jogo de cintura, o "agir certo na hora certa". Já a fortuna seria o imponderável, o que não se pode prever, nem planejar; a sorte.

Concordo plenamente com a lógica maquiaveliana de que há coisas que se pode controlar (virtú) e outras que não se pode controlar (fortuna). Parto deste pressuposto para o post de hoje.

Quem busca pela excelência nunca terá certeza de que a alcançará, mesmo porque isto não depende exclusivamente de quem a persegue. Entretanto, a vida nos dá chances para que possamos aproximarmo-nos dela. E quando ela (a chance que a vida dá) aparece, pode-se ter diversas reações. Fugir pode ser uma. Deixar para um futuro que nunca chegará pode ser outra. Mas o único caminho que pode conduzir ao máximo da capacidade/potencial que se tem é ir para cima dos desafios. Como já repeti mais de uma vez, ir para cima do desafio significa enfrentá-lo, e não necessariamente vencê-lo.

Da minha parte, julgo que o remorso por não ter tentado será sempre mais intenso do que o desgosto por um eventual fracasso. Por isto sou teimoso demais, e dificilmente fujo das dificuldades que me são impostas por alguém, mesmo que isto me custe altos preços. Há na história um exemplo que acho emblemático para descrever esta minha maneira de pensar/agir.

Dia 21/06/1986.

Quase 25 anos atrás. Após uma copa do mundo em que o Brasil provavelmente jogou seu futebol mais vistoso da história (a copa de 1982), os tupiniquins tentavam honrar o nome do país no México, o país onde o Brasil havia conquistado seu último título mundial em 1970, 16 anos atrás. À sua frente, a perigosa França, do maestro Platini. O jogo estava 1X1, caminhando para o final de seu segundo tempo quando entrou em campo Zico, o astro da Seleção.

2 ou 3 minutos após sua entrada em campo, armou um contra-ataque fulminante para o Brasil, deixando Branco na cara do goleiro, que não teve outra alternativa e derrubou nosso lateral: pênalti para o Brasil. Torcida em êxtase. Zico, a referência daquele time, foi para a cobrança. O resto vocês podem acompanhar som seus próprios olhos aqui.

O jogo terminou empatado e foi para a disputa de pênaltis, onde o Brasil foi eliminado de mais uma Copa do Mundo.

Há muitos meses atrás, talvez um ano, ouvi uma entrevista dele (Zico), que está tendo uma carreira muito bem-sucedida fora dos gramados, onde lhe perguntavam sobre este lance. A pergunta foi algo do tipo: "Ainda hoje (2009, eu acho) você carrega alguma mágoa por ter perdido aquele pênalti em 1986?".

A resposta foi algo assim: "apesar de ainda estar frio e somente há alguns poucos minutos em campo até aquele momento, não me martirizo por ter perdido aquele pênalti. Eu era o centro das atenções naquele momento, a referência do time. Se, ao invés de eu bater, alguém outro o fizesse e perdesse, aí eu teria que conviver com a fama de pipoqueiro até hoje. A responsabilidade era minha. Perdi o pênalti. Mas só perde o pênalti quem bate."

Pra quem não conhece o que este cara jogou em campo, vai aqui um pouquinho disso. Apesar de tudo o que ele sabia de bola, não foi capaz de jogar pra rede aquela bola em 1986. Da mesma maneira que ele, nós, por melhores que sejamos no que fazemos, nunca estaremos a salvo de grandes fracassos e decepções em nossas vidas.

Há acontecimentos na vida que são como testes, que medem o tipo de pessoa que somos. Em 1986, Zico teve o dele. Poderia muito bem ter passado a bucha pra qualquer um dos outros 10 jogadores sob o pretexto "poxa, acabei de entrar, estou frio e não estou confiante". Não foi o que fez. Ciente do craque que era e da responsabilidade que carregava por isso, pegou a bola, pôs na marca da cal e bateu. E perdeu.

Daí terá quem dirá: "ele é maluco"; "quis dar um passo maior que a própria perna"; "se precipitou"... e coisas do tipo. Mas ninguém poderá dizer que ele tenha se apequenado diante de uma situação aguda como aquela. Não jogou a responsabilidade pra ninguém que não ele, e até hoje é cobrado por seu erro. Mas só perde o pênalti quem bate. Num momento como o desse lance, acho muito mais importante o fato em si de se ter tomado coragem e ter batido o pênalti do que o resultado da cobrança. Atitude de quem tem fibra, coisa de gente grande. Belo exemplo. Valeu, Zico.

Comente se se sentir à vontade para fazê-lo. Por hoje é isso.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Os que amam e os blasés

O post de hoje vem quase que num tom de protesto. Não consigo falar racionalmente de coisas que não são racionais.

São poucas pessoas as que têm a capacidade/vontade de amar algo na vida. A explicação para esta falta de amor para mim é muito simples: amar é uma coisa difícil. Demanda tempo, atenção, paciência, sabedoria, muuuuita reflexão.

Talvez por comodismo, talvez por medo de sofrer, talvez por incapacidade mesmo, muitas pessoas optam (ou são cooptadas?) por uma vida de associações superficiais, sem muita profundidade, blasé. Afinal de contas, quem sempre nada na superfície rasa nunca correrá o risco de se afogar. Se todas as pessoas fossem dessa maneira, superficiais para todas as relações que estabelecem, imagino que haveria pouquíssimos problemas de relacionamento. Afinal de contas eles seriam resolvidos de uma maneira fácil: houve um atrito? - corte a relação; mude pra outra, esqueça a pessoa com quem teve o último relacionamento superficial e parta para um novo relacionamento superficial, e assim viveríamos em constantes rodízios de relacionamentos superficiais. E assim relacionar-nos-íamos somente na medida em que o outro fosse necessário para nossa sobrevivência: acabou a necessidade, acabou a relação. Algo muito mais Exato que Humano. Linguagem binária, praticamente.

Sim, na lógica matemática isso funciona muito bem. Pessoas que conheço provavelmente quereriam transformar isso em uma fórmula, tentar numerizar as propriedades relacionamentais que há entre as pessoas. Mas antes que os estatísticos entrem em ação já vou dizendo: esse modelo não fecha. E eu vou dizer o porquê.

Felizmente, (ainda) há pessoas que amam, e que não abrem mão de determinados relacionamentos, e que se dedicarão o quanto puderem para o bem daquilo, afinal de contas o bem do que(m) se ama e o bem da relação que se tem com o que se ama se converte no bem da própria pessoa. Para muitos isso é bem difícil de compreender, justamente porque são muitos os que, por algum motivo são incapazes de entender este tipo de coisa, os blasés.

Aos que têm o "dom do amor", vai aqui meu recado: muitos serão os que vocês encontrarão que não estarão à altura de vosso dom.

Que fazer se estas pessoas cruzarem por vosso caminho? É possível "ensinar" alguém que passou a vida inteira com seus "relacionamentos perecíveis", e que, por consequência tornou-se alguém relacionalmente perecível a "imperecibilizar-se"? É possível ensinar um blasé a amar?

O exemplo melhor que conheço disso são as Igrejas de crentes. Apesar de todo o preconceito que as circunda, elas conseguem, sim Senhor, transformar gente blasé em amantes (pessoas que amam, não me entendam mal). É como se dessem uma causa por que viver às pessoas. Por mais que eu discorde da maneira que isso é feito, conheci pessoas cujas experiências me confirmaram a eficácia destas Igrejas no que diz respeito a isso, e respondem com uma sonoro SIM à última interrogação que pus neste texto.

Mas uma característica própria dessas Igrejas é que elas inserem o "novo crente" em uma comunidade de pessoas que também estão forradas com os princípios cristãos de "amor ao próximo", e que, somente pelo fato de pertencerem a uma mesma comunidade já dedicam a seus pares um "amor fraternal". Fazem com que um blasé, muitas vezes pela primeira vez na vida, sinta-se amado por alguém. É muito mais fácil amar quando já se é amado.

E que resta aos blasés então?
Meu palpite:

1- Tentar serem bem-sucedidos em suas vidas, e converterem seu desejo por felicidade no desejo por sucesso, e se descobrirem felizes por se acharem bem sucedidas (em breve virá um post sobre o sucesso).

2- Dar a sorte de encontrar por aí alguém que esteja disposto a amá-los.

Se sentirem-se à vontade comentem. Por hoje é isso.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Como joga um Grande, e minhas preocupações com o Palmeiras

Muito atrasado, mas me sinto na obrigação de comentar a atual situação do Palmeiras, que vem me afligindo há alguns dias, desde o dia 17/02/2010.

(Vejam aqui o que aconteceu nas últimas horas da quarta-feira)

Nas primeiras horas da quinta-feira 18/02/2010 não saía da minha cabeça o seguinte pensamento:

"Não precisa jogar bonito, não precisa ser campeão, não precisa ganhar tudo. Mas precisa ser Palmeiras."

Apesar de achar o Muricy um técnico muito ético, e muito correto no trabalho que faz, acho que nenhum palmeirense pode negar que o time simplesmente não deu certo nas mãos deste treinador. Até sua chegada (até o memorável jogo Palmeiras 3X0 Corinthians, sob o comando de Jorginho), nossa equipe vinha apresentando um futebol muito vistoso, que dava gosto de assistir e torcer, digno das melhores aspirações de qualquer palmeirense. A partir do momento de sua chegada, e de seu primeiro jogo, um Palmeiras 1X0 Fluminense, começamos a jogar um futebol burocrático.

O futebol burocrático não seria um problema se com ele viessem os resultados. E o problema foi justamente este: eles não vieram. Além de não termos jogado mais um bom futebol, perdemos nossa consistência em campo, e assim perdemos o título brasileiro de 2009, que foi um fim-de-ano pra testar nosso amor por este time.

Começou o Paulista-2010, e mesmo contra as pequenas equipes do interior paulista passávamos um grande sufoco pra vencer (quando vencíamos). O jogo contra o Monte-Azul foi emblemático nesse sentido: gol de pênalti duvidoso, e futebol medonho. Contra o Corinthians então... jogo inteiro com 1 jogador a mais, e não conseguimos marcar um mísero gol de empate. Contra o Botinha de Ribeirão Preto, conseguimos um empate na bacia das almas. E contra o São Caetano..., bom desse jogo não precisa de link nem precisa dizer nada.

Eu particularmente detesto futebol burocrático. Muito mais ainda no Palmeiras, que nunca foi time de jogar futebol burocrático. Futebol burocrático pra mim é coisa de time pequeno. E, ao meu ver, só poderia ser usado no Palmeiras com uma condição: que jogando burocraticamente o Palmeiras ganhasse tudo. Isso, convenhamos, passou bem longe de acontecer no Palestra Itália enquanto sob o comando de Muricy Ramalho.

Não quero saber do que acontece nos bastidores, se a diretoria faz isso ou aquilo, se o presidente (quem muito admiro, e inclusive mereceria um post exclusivamente sobre sua pessoa neste blog) fez ou não fez isso ou aquilo...enfim. Me interessa o que acontece dentro do campo, e não fora dele.

Com o futebol que vínhamos jogando, era possível que nem passássemos para a fase final do Campeonato Paulista, fôssemos eliminados nas oitavas ou quartas-de-final da Copa do Brasil, e não fizéssemos nem cócegas em ninguém no Brasileirão. O fato é que em 34 jogos , Muricy não conseguiu fazer com que o líder do campeonato se tornasse o campeão brasileiro, e teve um dos piores aproveitamentos entre os técnicos que nos dirigiram de uns sete anos pra cá.

Inclusive me pareceu que quanto mais ele trabalhava o time, pior ele jogava. E assim, por mais gente boa e correto que o cara seja, não dá. Fica difícil mantê-lo diante de circunstâncias como estas. Desejo-lhe muita sorte, pois falta em nosso futebol gente como ele. Infelizmente desta vez não deu.

E Palmeiras: FAÇA O FAVOR DE VOLTAR A JOGAR COMO PALMEIRAS! Somos grandes demais pra jogarmos em casa, com 3 volantes e no contra-ataque contra times do interior. Quem tem que ditar o jogo no Palestra é o Palestra, jogue contra Flamengo-PI ou Corinthians. O grande domina o pequeno, e é por isso que se chama os grandes de grandes (que têm torcida e responsabilidade por causa disto) e os pequenos de pequenos (que não têm nem responsabilidade pelo resultado nem torcida por causa disso).

Amanhã à tarde (21/02/2010, às 17hs), poderemos ver se o problema foi resolvido, se estamos na mesma, o se andamos pra trás. Por mim, pode perder de 4, 5, 10, 100X0. Se nosso jogo fôr à altura de nossa grandeza, continuarei cantando e torcendo, e não direi mais nenhuma palavra sobre isso. Paro por aqui por hoje.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O que o "Feminismo" quer para a humanidade?

Nas aulas de legislação que tive no CFC que fiz (sim, em tese aprende-se algo de legislação num curso de CFC), houve um momento em que meu professor falou algo do tipo:

"... não precisa ficar desesperado pra salvar a vida da vítima em caso de acidente no trânsito, nem com medo da punição por omissão de socorro. Basta não fugir, e se necessário aplicar o que se aprendeu nas aulas de primeiros socorros daqui. E no Brasil, a única coisa que dá cadeia sem discussão, é deixar de pagar pensão alimentícia: se o cara atrasa um dia na pensão, no dia sguinte já aparece um oficial de justiça lá na casa dele."

E depois desse parênteses continuou normalmente o assunto da aula.

Isso me fez pensar em uma série de conversas que tenho tido com algumas das minhas amigas feministas (não conheço nenhum homem que se diga feminista). Como não sou um feminista, costumo "travar" boas discussões com as que são.

É bom deixar claro que não tenho nada contra o feminismo, muito menos com as feministas que conheço, e acho justíssima a causa pela qual elas se dedicam. Não se pode negar que desde que o "Ocidente" se conhece como tal, as mulheres são o "sexo frágil", ou o "sexo dominado", ou como quer que queiram que isso seja dito.

Para ilustrar: nos 10 mandamentos de Moisés, há um (o 9°) que diz "não cobiçarás a mulher do teu próximo", mas não há outro que diga "não cobiçarás o marido de tua próxima" (deve-se depreender daí que os mandamentos foram feitos para os homens?). Em Atenas, mulheres não eram cidadãs, por mais bem-nascidas que fossem. E exemplos da Antigüidade até atualidade não faltam para exemplificarmos a dominação da qual elas foram "vítimas" por todos esses tempos.

Eis que a Revolução Francesa proclamou o ideal a que o Ocidente aderiria até os dias de hoje "liberdade, igualdade e fraternidade". Ao proclamarem o(s) ser(es) humano(s) genérico(s) igual(is), e igualmente livre(s), deu-se margem para todos os que não eram brancos, europeus, católicos, heterossexuais e homens a buscarem uma equiparação de direitos e de tratamento em relação aos que possuíam todas as características acima citadas. Foi isso o que possibilitou a ascensão de muitos movimentos que são nossos contemporâneos: movimento negro; feminista; homossexualista; a laicização de tudo, e assim por diante (só se é possível falar de feminismo tendo-se em mente a noção de "ser humano genérico" e de direitos humanos, que surgiram na Revolução Francesa).

Bom, até agora estou contando historinhas. Mas não estou te enrolando, viu leitor?! Só estou te situando na História.

Pois bem. O post de hoje se enfocará no movimento feminista (que trato aqui em nível macro, e não deste, ou daquele feminismo especificamente), e em mais nenhum dos outros movimentos citados dois parágrafos acima. Acho totalmente plausível que um grupo que se sinta reprimido lute por sua "libertação", nada mais justo que isso. O que eu gostaria de discutir aqui, é pelo que o "feminismo" (ou movimento feminista, pra que não seja mal-interpretado) luta. Ou melhor, pelo que não luta.

Não é novidade pra ninguém a luta das mulheres pela equiparação de salários com os homens, a aspiração à igualdade de poder em qualquer esfera da sociedade e em qualquer tipo de relação... Enfim, acho que pode-se agrupar tudo isso em sua (das mulheres) luta pela emancipação das funções domésticas (seu estigma), e pela total igualdade de direitos na sociedade, o que, convenhamos, até hoje não ocorre plenamente. Até aí, têm o meu apoio irrestrito.

Mas o que me deixa com a pulga atrás da orelha, e me motivou à elaboração da doidice de hoje é o seguinte raciocínio: se no caso da separação de um casal com filhos a prioridade de guarda (no caso brasileiro, ao menos) pertence à mulher, isto não constituiria um resquício do pensamento "lugar de mulher é em casa cuidando da comida e dos filhos"?

Se sim, as feministas, que pregam principalmente a igualdade entre os sexos, não deveriam lutar contra isso? Não deveriam tentar abolir esta lei, ou tomar qualquer tipo de postura para mudá-la?

Aliado à prioridade de guarda da mãe, a prisão imediata do homem por atrasar a pensão alimentícia, não é um indicador de que o pensamento "homem sustenta o filho, e mulher cuida" ainda vive? Não lhe soa, querido(a) leitor(a), muito estranho que um acusado de assassinato tenha direito a julgamento, e um homem que atrasa a pensão vá pra prisão sem choro nem vela? Quem luta pela igualdade de direitos entre os sexos não deveria ter alguma política incisiva em relação a isso?

A partir daqui já vou um pouco mais fundo em minha doidice. Chego a pensar se a luta das feministas se limita somente ao bem das mulheres, e não à igualdade e à liberdade, que, ao menos em tese, seria o motivo inicial de sua organização: a (in)eqüidade entre os sexos. Será que não rola algo do tipo "vamos mudar só o que nos prejudica, e não mexamos no que prejudica aos outros, já que nós próprias somos as maiores beneficiadas com isso"?

Ora, se o carro-chefe do feminismo for, ao invés de equiparar a relação entre os sexos, inverter a relação de dominação, aí passarei a discordar de todas suas causas, pois já não as acharei justas. Acho que a única pessoa que deve ser subjugada é aquela que acha justo subjugar aos outros. Enquanto se luta para sua liberdade/libertação, esta luta é justíssima. A partir do momento em que se luta para encarcerar ao outro, seria melhor se não se lutasse. Isso (lutar para encarcerar ao outro) já gerou muitas guerras que mataram muita gente. Espero que eu esteja enganado sobre este aparente aspecto do feminismo.

Se falei alguma besteira, por favor me corrijam. Por hoje é isso.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O jornalismo e as velhas futriqueiras

Já faz algum tempo que tenho pensado sobre este assunto, mas acho que só agora ele "deu a liga" suficiente na minha cabeça pra que eu postasse algo sobre.

Hoje falarei sobre nossa "Grande Mídia", e aos "Grandes Fatos" que ela vive nos "informando" (quantas aspas, ?!).

Principalmente depois de ter entrado na faculdade comecei a ter um olhar um pouco mais crítico para o que me era dito uma, duas, três, cinco, dez, cem vezes pelos jornais, principalmente pelos televisivos (que são, ainda hoje, os mais massificados), mas sem tirar desse grupo também os radiofônicos, os escritos, e (por quê não?) também a internet (se bem que esta última permite ao "informado" ter uma mobilidade maior dentro do que lhe é noticiado).

Bem, antes mesmo de entrar na faculdade já me incomodou um pouco a grande repercussão que foi dada ao problema do "Aquecimento Global", já que (pensava eu), por se tratar de um acontecimento que foi sendo construído ao longo de séculos de mau uso do meio-ambiente, por que então justamente naquele momento ele (o Aquecimento Global e problemas ambientais afins) era(m) posto(s) como se fossem a razão única do fim do mundo, que estava prestes a acontecer?

Aí logo que entrei na faculdade, aconteceu o famigerado "Caso Isabella", que causou grande comoção nacional pela terrível atrocidade cometida pelo próprio pai contra a indefesa menina de 5 anos de idade.

Se não me engano (me corrijam se estiver enganado), cronologicamente este foi sucedido pela grande Crise Mundial (que, de acordo com alguns foi maior ainda que a de 1929), que deixou os mercados de todo o planeta atônitos, e pobres milhões de pessoas desempregadas, e levou a economia mundial ao colapso.

Depois desse, já em 2009, apareceu a Gripe Suína, a nova gripe do tipo A que era transmissível pelo próprio ar, o que pôs em milhares de conscientes cidadãos de bem as milagrosas máscaras protetoras, seja nas ruas, seja nos metrôs, nos edifícios comerciais e até nos estádios de futebol. A tal gripe fatal fechou o México, fechou escolas, e inclusive atrasou a volta das minhas aulas no segundo semestre de 2009.

Aí teve o caso de corrupção do Arruda (do qual até hoje nao me informei decentemente) que não me aprofundarei aqui, e o mais recente parece ser o terremoto no Haiti, que devastou o país, deixando centenas de milhares de pessoas mortas, e outras tantas milhões de desabrigadas. E ainda devem ter outros tantos nesse meio tempo que ainda me esqueci de mencionar, como o das enchentes em SC em 2008 e as em SP em 2010.

Calma leitor. Meu texto de hoje não se ariscará/ousará a ponto de negar a veracidade (ao menos parcial) tudo isso que é noticiado (e noticiado, e noticiado...) com tanta frequência pelos nossos órgãos de informação.

Mas algumas indagações me são inevitáveis:

Se há décadas e décadas (quem sabe séculos) optou-se pelo desenvolvimento mercantil a todo custo (desde as Grandes Navegações, lembra?), o que devastou, por exemplo, 93% da nossa Mata Atlântica, quase todo nosso pau-brasil (não se iludam, não sou ambientalista) e que ainda hoje põe centenas de árvores no chão lá na Amazônia pra colocar um único boi no lugar, por que é que só agora isso virou um problema de vida ou morte?

Se em toda a sociedade do mundo há infanticídios, e se, mesmo no Brasil a cada dia tem um, por que especificamente o de Isabella tomou proporções tão desproporcionais (perdoem a antítese)? E onde estão os Nardoni hoje?

Se os EUA calcaram durante décadas sua economia na filosofia do "consuma o quanto conseguir", a ponto de permitir a seus cidadãos empréstimos bancários do tamanho da hipoteca de suas casas, qual a surpresa na quebra da economia em algum momento qualquer?

Se o prefeito de São Paulo opta por gastar 1,3 bi alargando as pistas (e diminuindo o leito do rio) da Marginal Tietê aos invés de, com metade deste dinheiro construir pelo curso deste mesmo rio uma linha de trem que ligue o centro da cidade à Zona Leste (que, curiosamente é o lugar onde há mais trabalhadores), qual a surpresa em ver dia-após-dia a Marginal cheia d'água?

O que não vejo em nenhum dos jornais que leio/assisto, é, por exemplo, alguém analisando a mudança nas relações familiares como um todo ocasionada por X, Y, ou Z motivo (falta de amor, excesso de trabalho, de stress, de cobranças, de racionalidade...sei lá), que não é só um problema dos Nardoni, mas sim um problema de nossa sociedade como um todo. Mas é divulgado como se fosse um problema exclusivo deles. "Com o resto tá tudo certo, viu Doutor?"

E a crise mundial, então? Foi analisada como um acaso catastrófico, que podia ter sido evitado se Obama tivesse sido mais rápido para agir. O aquecimento global, então... parece que não existia há 10 anos atrás. Os acontecimentos não têm história; são vendidos como se tivessem se produzido do nada, instantaneamente.

A "Grande Mídia" pega os "Grandes Fatos" e dá a eles enormes proporções, e pior ainda, querem dar a sensação de que é algo totalmente novo, uma aberração inesperada. É nitidamente feito pra causar efeito na sociedade, mudar o assunto (que a própria Grande Mídia tinha posto) em voga, e, (repararam?) para ter sempre um fundo trágico e/ou ameaçador, o que acaba sempre por prender a atenção. É assim que são feitos os jornais de nossos dias.

Ninguém está interessado em explicar que o Haiti foi o primeiro país do mundo a abolir a escravidão, e o segundo nas Américas (atrás somente dos EUA) a proclamar independência, e justamente por isso (adicionando-se o fato de ser um país negro) sofreu um bloqueio comercial de Europa e EUA por 60 anos: ninguém tinha vontade de que o Haiti fosse "pra frente"; muito pelo contrário, por algum tempo, a política internacional haitiana podia ser definida da seguinte maneira: HAITI X PAÍSES BRANCOS DESENVOLVIDOS. Bem, já sabemos quem venceu esta batalha histórica, e quem ficou o país mais pobre das Américas.

Mas os jornais não mostram isso. No caso haitiano, não vejo muitas coisas além das ruínas, lágrimas, sangue, choro, e é claro: a ajuda dos brancos bonzinhos!

Os mesmos jornais que não dizem que a gripe normal mata 70 vezes mais que a suína, dizem "USE MÁSCARA, SENÃO A GRIPE SUÍNA VAI TE PEGAR!". Neste caso, como em tantos outros, os jornais prestam um desserviço à sociedade; desinformam ao invés de informar. Não explicam nada, e o que explicam ainda vem recheado de "erros" (para ser eufemista) e omissões gravíssimas como mostrei nos dois exemplos que mencionei acima. O que importa é fazer escândalo; causar; aparecer. É absurdo. Não dá pra acreditar que haja gente que esteja milionária por produzir este tipo de serviço. Muitos dos que eu conheço fariam muito melhor, e por 1/4 do salário, eu garanto.

Escrever isso me fez lembrar das folclóricas velhas futriqueiras, que passam o dia inteiro falando da vida dos outros. Não se importam com o que está certo ou errado, ou com o que é verdade ou não: o que importa é ter assunto pra falar com as outras futriqueiras. Falar mal da vida dos outros é o que lhes apetece.

Estive pensando comigo se os jornais, ao invés de contarem com grandes equipes muito bem pagas, contassem apenas com duas ou três velhas futriqueiras. A que conclusão cheguei, leitor? Seria muito melhor! Todo mundo poderia discordar delas (afinal são velhas futriqueiras), já que seriam incapazes de dogmatizar qualquer coisa (quer um exemplo de dogmatização pela Grande Mídia? -Apareça como assassino no JN e veja quem acreditará em sua inocência. Provavelmente nem sua mãe!), não precisariam tentar esconder suas opiniões, o que poderia tornar a futricagem (ou jornal?) inclusive mais engraçado. Lógico, não precisariam gastar milhões e milhões para manter um correspondente em cada canto do mundo. E o melhor de tudo: não enganariam ninguém, pois não se arrogariam (nem poderiam) as "difusoras da verdade". Que é que você acha, leitor?

Bom, enquanto as velhas futriqueiras não são descobertas pela "Grande Mídia", acho que meus leitores terão que ficar com este moleque futriqueiro mesmo. E eu tratarei de futricar direito, fiquem tranquilos. É isso por hoje.