quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Natal e as coisas

A maioria dos ricos morre rico, e a maioria dos pobres morre pobre, até que provem o contrário. O que foge disso vira filme.

Não, eu não sou aquele cara de origem humilde, que teve que superar todas as dificuldades possíveis que a vida poderia ter imposto a mim, que no final da vida terá uma história de superação digna de um filme hollywoodiano. Longe disso.

Aliás, as histórias de vida que viram filmes retratam feitos extraordinários, de gente que conseguiu feitos impossíveis. São poucos os filmes que mostram pobres que fracassam, ou ricos que têm sucesso. Ninguém precisa de filme nenhum constatar isso.

Filmes tratam de exceções, pontos fora da linha, outliers. Falando nisso, é para um outlier, que me (de maneira indireta, é verdade) incentivou a escrever algo hoje, que este post quase natalino se oferece.

Fora do "espírito hollywoodiano", sabemos bem como as coisas funcionam. A tendência é a reprodução, e não sou só eu quem fala isso. Marx, Bourdieu..., enfim. Esses caras e outros tantos descrevem mecanismos sociais cuja tendência é fazer com que o abastado siga abastado, e o despossuído siga despossuído.

Quem tiver a oportunidadede ler a teoria de ambos (Marx e Bourdieu, no caso) provavelmente concluirá que esses anciões das ciências sociais têm bastante razão quando caracterizam as relações entre dominantes e dominados pelo aspecto da reprodução da desigualdade geração após geração. Quem, como eu, tiver uma inclinação para o pensamento de esquerda, se identificará mais ainda.

Partindo para o plano prático, e saindo um pouco da teoria, acho cabível uma crítica a um pensamento como esse:

"Caramba, a pessoa sempre teve de tudo na vida, nunca lhe faltou nada... como é que ele pode fazer uma coisa como essa?"

É claro que normalmente um comentário como este se refere a uma atitude alheia que é julgada errada na ótica de quem faz o comentário.

Tenho lá algumas ressalvas a este tipo de pensamento, e é para expô-las que este post se destinará.

Conforto material é muito bom. É algo a que, com raras exceções, todos aspiram de alguma maneira. E é uma aspiração tão generalizada que quem não o possui (ou então não é satisfeito com o que tem) pode pensar que quem possui não pode ter problemas na vida, uma vez que possui tudo o que seria possível ter. E esta é uma das maiores enganações que alguém pode cometer, e vou dizer por quê:

O fato de uma pessoa viver em situação confortável não a torna mais ou menos humana que ninguém. Esta pessoa segue tendo sentimentos, decisões a tomar, relações a manter ou estabelecer... enfim, uma vida a viver. E por que é que uma pessoa dessas estaria menos sujeita às interpéries da vida? Não consigo enxergar nenhum argumento que possa provar este ponto de vista. Por favor me indique se tiver, leitor.

Minha posição é esta:

Se pessoa A pensa que a pessoa B é feliz porque "B" tem tudo o que "A" gostaria de ter, isto significa que:

1º "A" inveja B pelo que B tem.
2º "A" não é feliz com o que tem.
3º "A" imagina que seria feliz se tivesse o que B tem.
4º Por acreditar que B tem tudo o que A gostaria de ter, A acredita que B não pode ser outra coisa, senão totalmente feliz e satisfeito com sua vida.

Os 4 pontos se articulam bem, mas formam um conjunto perigoso. Quem pensa desta maneira dá muito valor às posses e se ilude, em minha opinião. Está acreditando que conforto traz felicidade. E isso não é necessariamente verdade. Para uma pessoa que pensa da maneira acima descrita, seria possível comprar a felicidade, portanto. E isto, para este blogueiro, é um absoluto absurdo. Mais que isso: é pequeno. Atribui sua infelicidade à falta de posses, e a vê refletida nas posses alheias. Chega a dar dó. Alguém assim deve sofrer demais na vida.

A felicidade é algo totalmente subjetivo, isto é, para cada um a felicidade é uma coisa diferente. Isto já me é suficiente para dizer que nem todos serão felizes com o conforto material, e nem todos serão infelizes sem ele. Sempre haverá quem dará muita importância ao que o dinheiro pode trazer. Mas também haverá quem enxerga além (ou aquém) do dinheiro e do mundo "comprável".

Talvez o mais importante seja saber que a felicidade não está nas posses, e sim nas pessoas. Tanto para o rico quanto para o pobre. O rico pode comer o que quiser (seja vegetal, animal ou humano), beber o que quiser, ter o que quiser, enfim. Mas o dinheiro também tem um alcance limitado. O filho rico que passar a Noite de amanhã diante de uma mesa farta, mas somente com a companhia da babá e o cachorro na mansão de sua família difícilmente terá melhores lembranças deste Natal do que o menino pobre que estiver rodeado por sua família, mesmo que seja muita gente pra pouca comida.

Pelo menos amanhã, na Noite de Natal, não será o dinheiro o que fará as pessoas felizes.

Nunca reclame de um presente. Pelo contrário, dê graças aos céus que alguém doou seu trabalho, seu tempo e sua energia pra fazer com que aquele presente, excelente ou horrível, chegasse em suas mãos. Este alguém merece um grande sorriso e um forte abraço, independentemente do que esteja dando. O ato de presentear é muito mais grandioso e importante que o presente em si.

Feliz Natal, fiel leitor.

P.S.: Em 2011 voltamos.

É isso.

domingo, 19 de setembro de 2010

Tiririca e a democracia brasileira

(Continuação do post "Lula e a democracia brasileira")

Se no plano do poder Executivo, o acesso ao poder tornou-se mais democrático com a eleição de Lula, no plano Legislativo o mesmo demorou um pouco mais para ocorrer.

Até 2002, não tínhamos candidatos ao Legislativo diferentes de burocratas engravatados. Talvez a eleição estrondosa de Enéas Carneiro em 2002 fosse um indicativo de que o povo estava cansado de opções tão homogeneamente ruins.

A eleição é uma escolha de representantes. Uma vez que não há no rol dos candidatos ninguém que o eleitor olhe e diga "ah, este cara me representa", a democracia se enfraquece. Poucos são os deputados que se conhece. A relação cidadão-deputado só é mantida por um laço de obrigação eleitoral. Nada mais que isso. Depois da eleição, se esquece quem está lá. Não há identidade.

Clodovil Hernandes em 2006 e Netinho de Paula em 2008 se deram conta disso, e foram eleitos como deputado federal e vereador, respectivamente. Isso já foi um escândalo à sua época. Mas o mais escandaloso ainda estava por vir: O abestado. Tiririca se tornou em fenômeno do horário eleitoral paulista.

Minha opinião: vai se eleger, e provavelmente será o deputado com mais votos em São Paulo, e talvez bata o recorde de Enéas, de 1,57 mi de votos.

Isso é bom?

Tem muita gente metendo o pau no abestado. Dizendo que seria um retrocesso elegê-lo.

"Como é que pode alguém ser tão burro a ponto de votar no Tiririca?"

É o que ouço de diversos cantos. Eleger o abestado seria realmente um retrocesso?

Eu particularmente só não votarei nele por um motivo: ele não irá ao Congresso devidamente trajado caso eleito. Se ele prometesse ir à Câmara dos Deputados como Tiririca, e não como Francisco Everardo Oliveira Silva, certamente teria o meu voto.

Com raras exceções o Legislativo brasileiro em geral é ainda algo que paira a uma gigantesca distância do povo brasileiro. O povo vota porque é obrigado, não porque acha que deve votar.

A questão é que candidatos com quem o eleitor de fato se identifique só começaram a aparecer agora. E o que é representação se não a identificação entre representado e representante?

Tiririca é um homem público. Todo mundo sabe quem ele é, principalmente depois das propagandas políticas. Se ele fizer alguma besteira ou maracutaia enquanto no poder, sua carreira (política e artística) estará acabada. Ele nunca perderá o estigma de corrupto caso se envolva em algum "esquemão" dentro do Congresso Nacional.

Além disso, se eleito, estará sob constante vigilância. De todos. Será de fato um representante. Não será alguém que já nem se lembra quem é um mês depois da eleição.

Este blogueiro interpreta a potencial eleição do "abestado" mais como um progresso no que diz respeito à qualidade e à intensidade da representação política no plano Legislativo brasileiro do que como um retrocesso.

Com a eleição de gente conhecida para a ocupação dos cargos de poder nacionais, a cobrança que pode ser exercida é absurdamente maior. O poder não está nas mãos de um "sem-nome" qualquer, mas sim nas de alguém extremamente conhecido, que será cobrado (principalmente pelos que se opuseram à sua candidatura) até o final de seu mandato, se conseguir chegar lá.

Tiririca é um avanço, não um retrocesso. Uma vez que os engravatados não inspiram a confiança de ninguém, o Tiririca inspira. Mesmo que seja numa espécie de "voto de protesto", ou o que quer que seja.

Além de tudo, o cara ainda zoa, dentro de suas próprias propagandas a distância que separa o povão dos cargos legislativos hoje em dia.

"Você sabe o que faz um deputado federal? Bom, na realidade eu também não sei. Mas vota em mim que eu te conto." Tiririca

E é isso mesmo. Você, leitor, sabe o que faz um deputado Federal? Eu (o blogueiro) tenho uma vaga (eu disse vaga) noção, e olhe que eu estudei Política I, II, III e IV.

"Trouxe minha família para comover o eleitor" [...] "Pede voto, pai. Pede voto, mãe. Sorri, pai. Sorri, mãe." Tiririca

O abestado vai sacudir a política nacional. Já está sacudindo. E muita coisa tende a mudar (pra melhor) com sua eleição. Mesmo que esta mudança seja oriunda de uma reação conservadora partida de quem não admite uma derrota para um palhaço.

"O povo não é palhaço. Mas eu sou." Tiririca

Que você acha do abestado, leitor?

É isso.

Lula e a democracia brasileira

PARTE I

O povo brasileiro não é de forte tradição no que diz respeito à ação política. Há um século, Oliveira Vianna disse que "O Brasil não tem povo."

É claro que dos tempos em que ele escreve (1920) pra cá, houve algumas alterações na vida política brasileira. A tendência de uns tempos pra cá foi a da inclusão política, e uma decorrência disso é o suposto aumento da participação popular nas decisões nacionais.

Até pouquíssimo tempo, a possibilidade de escolha política por parte do povo não dizia muita coisa, uma vez que as opções eram:

- Oligarquia A
- Oligarquia C
-Oligarquia M

Eu não acho que isto signifique um grande salto para a democracia nacional, uma vez que, mesmo com o aumento da participação política (o Brasil foi, por exemplo, um dos primeiros países do mundo a conceder direito de voto às mulheres, em 1932) no plano nacional o leque de opções para o povo não variava muito.

Pode ser que alguém argumente que lá atrás, Getúlio Vargas constituía uma alternativa popular. Concordo parcialmente. Ele é filho de uma família tradicional do RS, de uma elite regional. Claro que durante seu mandato promoveu grandes avanços no que se refere aos direitos sociais dos trabalhadores urbanos, que passaram a ter algo que se possa aproximar de "cidadania" a partir do momento em que Getúlio começou a agir.

O país chorou sua morte não foi à toa. A propósito, seu suicídio é um bom indicativo de que ele estava indo além do que deveria com sua política de ser "O Homem do Povo". Sabemos bem o que foi que o levou ao suicídio.

Pois bem. Veio a ditadura. Durante ela a participação do povo nas eleições aumentou. Mas era uma ditadura. Não sei até onde se pode defender a existência de liberdade política dentro de uma ditadura.

PARTE II

Eis que chegamos ao fim da ditadura e à redemocratização brasileira. O primeiro presidente eleito democraticamente nesse período foi Tancredo Neves, da elite mineira. Depois dele assumiu Sarney, aquele. Depois Collor, da oligarquia alagoana. Itamar, de novo da oligarquia mineira, e FHC, sociólogo carioca erradicado em São Paulo, na USP. Se não era alguém da elite de terras, era alguém da elite intelectual brasileira.

Desde 1500 até FHC, a elite ainda não havia deixado o poder no Brasil.
Isso mudou com Lula, um metalúrgico sem eira nem beira, que teve que perder 3 eleições presidenciais (Collor e FHC duas vezes) até que fosse finalmente eleito em 2002.

Foi (e é) alvo de um enorme preconceito devido a sua origem humilde. É bom que se diga que este preconceito tem origem principalmente do mesmo conjunto de pessoas que elegeu todos os outros presidentes e apoiou a ditadura aqui. Nada mais lógico.

A eleição de Lula foi uma clara demonstração de que a democracia brasileira passava a ser, finalmente, um pouquinho mais democrática. Foi a primeira vez que o que saiu das urnas era algo se pudesse chamar de "uma ação política do povo", com vários poréns.

domingo, 12 de setembro de 2010

Resolução das incertezas

Este meu Blog está com um perfil extremamente acadêmico. Não que isso seja ruim. Mas, se é para ser acadêmico, há muitos lugares em que se pode ler textos acadêmicos muito melhores que os meus, uma vez que eu sequer formado sou (ainda, é bom que se diga).

Assim sendo, esta será uma das primeiras postagens (se não a primeira) cuja inspiração é de fato uma experiência minha, sentida na pele, e que neste momento em que escrevo, parece que ter fechado uma idéia legal e coesa.

Uma pessoa sábia (e modesta...rs) normalmente passa boa parte da vida se questionando. E só se questiona quem pensa. Quem não pensa já logo aceita algo como dado, pronto, imutável e segue a vida inteira com o mesmo parâmetro e o mesmo paradigma. Não estou dizendo que isto seja melhor ou pior, longe de mim. O fato é que eu não sou assim, seja isto bom ou ruim.

"Que seria melhor pra mim?"; "Estou no lugar certo?"; "Estou fazendo o que deveria ser feito?"; "Estou agindo de acordo com a perspectiva que eu aspiro pra mim?"; "Que será de mim daqui um ano?"; "E daqui 5 anos?". Enfim, as perguntas que podem surgir (e surgem) são muitas. Dependendo da fase da vida então... (vixi...), elas podem se multiplicar mais que um casal de coelhos trancafiados numa jaula escura.

Nos últimos meses, passei por um período recheado de incertezas. Não sou alguém que tenha uma relação saudável com incertezas, principalmente quando elas interferem diretamente na minha vida e no meu futuro. Foi um período extremamente angustiante este que passou (reparou o tempo verbal do último verbo?). Não, eu não respondi a todas as minhas perguntas, querido leitor, e nem sei se algum dia terei a resposta pra tudo. Provavelmente não terei. Melhor assim.

Mas nas minhas poucas décadas de vida já pude chegar a algumas conclusões:
1ª- Fazer mal a si próprio não é algo bom
2ª- Fazer mal a outrem tampouco

Isso me soa óbvio. Provavelmente para meus leitores também soará. Mas isso não responde muita coisa, não é?

Não, não é, querido leitor. Imagine o paraíso em que viveríamos se todos tivessem fixas em suas respectivas cabeças estas duas certezas. Não dá pra imaginar.
Bom, isto prova que estas duas certezas não são tão óbvias assim.

Gente que se perde nas drogas, no álcool, na putaria, no jogo..., enfim, são muitas as maneiras por que se pode se prejudicar. Nem entrarei no mérito de cada um dessas "possibilidades de perdição" (isso seria a volta ao academicismo, que é justamente do que estou tentando fugir neste post).

Voltemos às duas certezas. Elas não indicam um caminho a ser percorrido. Mas fazem justamente o oposto: indicam o caminho a não ser percorrido. Isso já é um ótimo começo.

Não é fácil encontrar seu próprio caminho. O meu (se é que eu de fato encontrei) foi escolhido na base de muita reflexão, e da tentativa/erro, e mesmo assim ainda há várias variáveis indefinidas no entorno. Mas as incertezas nunca param de aparecer, e se um dia pararem é sinal de que se parou de pensar.

Minha conclusão não será a resolução para todas as incertezas do mundo. Tentar isso seria tão megalomaníaco quanto burro da minha parte.

Se você tem uma dúvida, é sinal de que você tem uma escolha a fazer. Não são muitos os que podem escolher. Me arrisco a dizer que são muitos os que não podem escolher. Quem escolhe é um privilegiado, alguém que tem uma oportunidade que outros não tem. Para tomar uma decisão pessoal importante é importantíssimo olhar para a pessoa do lado (ou de baixo).

Portanto, pensar no coletivo (e no bem do coletivo) sempre é uma boa escolha. Quem ajuda o coletivo tende a ser ajudado por ele, ou no mínimo por parte dele. E mesmo que o retorno não venha, a simples sensação de dividir com alguém o que te foi dado, mas não foi dado a outrem já deveria ser suficientemente gratificante. Isso ajudou a sanar parte de minhas incertezas, e provavelmente te ajudará a resolver as suas, leitor.

Uma ação voltada para o bem-comum nunca é uma ação errada. Isto é uma certeza.

Tem certeza?

Paro por aqui hoje.

domingo, 5 de setembro de 2010

Mulheres peladas

Há até pouco tempo atrás o preconceito com mulheres que tinham os holofotes virados para si era tão grande, que as artistas mulheres eram socialmente igualadas a prostitutas. Lugar de mulher decente era em casa, ou na Igreja. Jamais em cima de um palco.

Há alguns séculos, nos teatros, as personagens mulheres eram representadas por homens. As próprias óperas de algum tempo atrás não tinham mulheres executando os agudos mais agudos. Esses eram executados por homens, que na grande maioria das vezes eram eunucos.

Os tempos mudaram, e ainda bem que mudaram. Para o bem da arte e do público, os papéis femininos passaram finalmente a ser representados por mulheres. Demorou. Isso fez parte de um grande movimento de emancipação feminina, cujas origens remontam ao Iluminismo e à Revolução Francesa.

O que gostaria de por em questão neste post, leitor, é a maneira pela qual a mulher aparece no campo artístico de modo geral. Não me referirei aqui à cultura erudita, tal como óperas e mesmo operetas, ou teatros de peças extremamente restritas. Não é a isso que estou me referindo por arte.

Meu foco é a "arte pop". É a novela da Globo, é a artista cujo clipe aparece na TV e a música toca no rádio, é a apresentadora de TV... enfim, artistas na pior acepção da palavra. Artistas "a la TV Fama". É a estas que estou me referindo.

A primeira coisa que me passa pela cabeça ao pensar nas mulheres artistas que tenho contato é a quantidade de roupas que costumam usar. Lady Gaga, Madonna, Jennifer Lopez, Angelina Jolie, Carla Perez, Angélica, Xuxa, Mara Maravilha, Eliana, Grazi Massafera, todas as atrizes jovens da Globo, e todas as cantoras jovens que aparecem.

São poucas as exceções, querido leitor.

Agora me diga: quais são os homens artistas que precisam apelar para a "semi-nudez"? Quase nenhum. Não consigo puxar nenhum de memória.

"Ah, será ele vai defender que homens têm que tirar a roupa também?"

De maneira alguma, prezado leitor. Este foi um mero artifício de que me utilizei para ilustrar como é a imagem da mulher na TV. É só ter um pouco mais de proeminência para ser convidada para aparecer pelada na PlayBoy, ou outra do mesmo gênero.

Mais que isso, observando as tendências artísticas contemporâneas, me parece que a mulher artista tende a ter cada vez menos roupa. No clipe "Telephone", Lady Gaga aparece com uma quantidade de roupa suficiente para que o youtube restrinja a exibição do clipe para acessantes maiores de idade. Há 20 anos atrás a Madonna não aparecia tão "descoberta" assim. E quanto mais longe se for no tempo, mais coberta estará a mulher artista.

Talvez o ponto extremo disso seja o Funk. Há quem defenda que certas "linhas" do ritmo, tal como a Gaiola das Popozudas, promovam a emancipação da mulher, por exemplo. Essas colocariam a mulher numa posição superior à do homem, uma vez que seriam elas (as próprias mulheres) quem ditaria a ocorrência ou não do ato sexual e seus desdobramentos. Apareceram defendendo isso no programa da Luciana Gimenes (outro ótimo exemplo do que estou falando) certa vez.

Uma mulher que se auto-denomina Popozuda, e declara seu poder tendo em vista o domínio no campo sexual não me parece alguém muito emancipada da condição de "mulher-objeto". Este vídeo mostra bem a maneira pela qual o Funk emancipa as mulheres.

É dificílimo encontrar uma mulher que apareça na grande mídia que tenha seios pequenos e não tenha colocado silicone, que nunca tenha saído na PlayBoy ou qualquer outra enquanto no auge de sua carreira, que não tenha feito de tudo para se engravidar de um homem famoso enquanto em destaque, que não tenha que usar um decote monstruoso a cada vez que vem a público, ou que nunca tenha feito pelo menos umas 05 cirurgias plásticas. As exceções são (além das atrizes e cantoras mais velhinhas) Denise Fraga, Sandy, Fernanda Torres (esta última ainda com algumas ressalvas), e as apresentadoras de telejornal.

Parece que uma mulher artista não pode se apresentar ao "grande público" como ela mesma enquanto dentro da grande mídia. Não pode ter uma identidade/imagem muito divergente da que se evidencia claramente nas propagandas de cerveja, por exemplo.

Após muitos séculos foi permitido às mulheres que aparecessem em público. Isso foi uma grande conquista. Emanciparam-se da "esfera privada totalizante". Mas pode-se afirmar que de fato tenham um status semelhante ao dos homens no espaço público?

Indo ainda mais a fundo: pode-se afirmar que essas sejam de fato artistas, no sentido de desenvolverem uma arte (pintar ou atuar ou cantar) de maneira extremamente competente?

Deixo resposta a seu cargo, leitor(a).

Por hoje é isso.

sábado, 14 de agosto de 2010

A "lógica", el Mago, e o futebol.

Olá, leitores. Este post está dividido em 04 partes.

PARTE I

Hoje meu post tratará de um assunto que há muito deveria já ter sido tratado neste blog. Talvez eu estivesse esperando a oportunidade certa para falar deste assunto. Esta semana apareceu a oportunidade de ouro. Lá vou eu, então.

Há alguns séculos o "homem ocidental" (usei esta palavra por não ter outra melhor) deixou de trabalhar pra viver, e passou a viver para trabalhar. O dinheiro deixou de ser um meio para atingir as coisas, e as coisas (e até mesmo as pessoas, em alguns casos) se tornaram um meio para chegar ao dinheiro.

É lógico, leitor crítico, que há exceções a isso. Mas imagino que você não discordará de mim se eu disser que a maioria das pessoas "proeminentes" de nossa sociedade acabam por seguir a lógica que descrevi acima. Muitas delas têm justamente nesta lógica a origem de sua proeminência. Nossa sociedade premia com prestígio e reconhecimento social os que "trabalham pesado" e têm grandes riquezas como fruto deste trabalho. São essas pessoas os "modelos" para nossa sociedade, basta ligar a TV ou sair na rua para averiguar isto.

PARTE II

Pois bem. Nesta semana a Sociedade Esportiva Palmeiras apresentou seu reforço, Jorge Luís Valdivia Toro, ou simplesmente "Mago Valdívia" para os palestrinos.

E este blogueiro particularmente é um grande fã deste jogador (tanto que a única imagem permanente deste blog é um gesto de "psiu" feito por este jogador em um dos últimos grandes jogos que tivemos a oportunidade de assistir).

Talvez isto se deva ao fato de que eu, o blogueiro, não vejo o futebol apenas como um jogo. O Vôlei é um jogo. O Tênis é um jogo. O Xadrez é um jogo. Nenhum deles desperta tantas paixões humanas como o futebol. Somente por futebol (e por mais nenhum outro esporte) é que se vive, se mata e se morre. Exatamente por isso que defendo a idéia de que o futebol é algo muito maior do que um simples jogo.

E o Mago Valdívia talvez não seja o mais técnico dos jogadores, apesar de ter jogado a Copa da África-2010 com a 10 do Chile às costas. Mas não é somente sua técnica o que me encanta. Valdívia tem uma capacidade raríssima no futebol moderno: ele sente o jogo. Ele provoca os adversários. Brinca com a bola. Leva a torcida (e este blogueiro) ao delírio, seja com seu "drible do vento", seja pelo fato de não ter vergonha de entortar os adversários com seus dribles, ou pelo fato de provocá-los nas comemorações. Corinthianos, e são-paulinos, nossos dois maiores adversários, sabem do que estou falando.

PARTE III

Em meados de 2008, poucos tempo depois de a S.E. Palmeiras ter se sagrado campeã paulista, Valdívia, mesmo não querendo, acabou sendo vendido. A lógica financeira falou mais alto pelos lados do clube. Aqueles poderiam ter sido os R$ 20 milhões (valor recebido pelo clube) mais caros de nossa história.

A partir do início do ano de 2009, momento que Luiz Gonzaga Belluzzo foi eleito presidente da S.E. Palmeiras, nossa diretoria caiu na real e começou a se mexer pra que os ídolos recentes do clube para cá voltassem. Este movimento está atingindo seu ápice agora, no segundo semestre de 2010. Primeiro voltou Kléber, o Gladiador. Depois, Felipão. Faltava alguém, entretanto. Alguém que nos fazia tanta falta quanto os dois anteriores.

O Palmeiras não tinha, entretanto, dinheiro suficiente para fechar o negócio. Nos faltava pouco mais de R$ 5.000.000,00, o que não é pouca grana. Eis então, que surge o protagonista principal do post de hoje (e não é o Mago Valdívia): Osório Furlan.

Este cara provavelmente não é um nome conhecido de nenhum de meus leitores. Ele é palmeirense, e também é executivo do alto quadro da Sadia. Ao saber que o que faltava para que "El Mago" enfim voltasse para a S.E.P. estava a seu alcance pessoal, foi lá e pôs sua grana.

CONCLUSÃO

É verdade que receberá no futuro seu dinheiro de volta do Palmeiras. Mas não levarei em conta aqui possibilidades do tipo: "ah, ele fez isso para ganhar prestígio político dentro do clube", ou "ele receberá parte do lucro se o atleta for vendido posteriormente", mesmo sabendo que elas podem realmente ser verdadeiras.

Prefiro ficar com o trecho:

" Eu me ofereci, o Belluzzo não me procurou para isso (para que colocasse o dinheiro que faltava). Não fiz pensando em lucro, o retorno virá. Não quero morrer rico, quero morrer feliz." Fonte: Lancenet

Esta última frase, particularmente, me pegou em cheio. O cara está abrindo mão (por algum período de sua vida) de R$ 5,1 milhões. R$ 5,1 milhões que eram sua propriedade, é bom que se diga.

Lembra da "lógica financeira Ocidental" que descrevi no início deste post, caro leitor? Não foi por esta que Furlan conduziu sua ação. Para este homem o dinheiro voltou a ser um meio. Um meio de trazer alegria. Quer melhor maneira de se gastar o dinheiro que esta? Há uma finalidade melhor que esta? Osório Furlan fez, nesse processo, um bem para si. Mas fez um bem muito maior para mim e para todos os que amam este clube. Todos os palestrinos poderão, novamente, ver um de seus melhores jogadores dos últimos tempos em ação, nos representando.

Mas o que é mais emocionante é saber que temos lá em cima pessoas que respeitam e amam o clube do mesmo jeito que fazemos aqui em baixo. Melhor ainda é ver, por meio de um ato como esse, que o Palmeiras é algo que está acima da "lógica" (o que é que é lógico, afinal?!), mesmo que seja só para um cara, e só por um instante.

Pode ser que tudo isto não passe de ilusões e idealizações minhas. Sim, pode ser. Mas prefiro acreditar nisso, pelo menos até quando eu acordar amanhã de manhã.

Longa vida à SEP. Longa vida ao futebol e à superação que ele promove nos homens, estejam eles dentro ou fora de campo.

"Não quero morrer rico, quero morrer feliz." O. Furlan - (eu disse que ainda escreveria algo sobre isso)

Paro por aqui por hoje.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O Ocidente dos antropólogos

Nas férias não tenho a obrigação de ler nada. Talvez seja por isso que as postagens neste blog se tornem mais freqüentes justamente durante o período de férias. Quando a carga de leitura diminui, a carga de raciocínio aumenta.

O post de hoje será absolutamente massante para quem não se interessa por ciências humanas (leia-se antropologia, nesse caso). Mas como a idéia do blog é justamente a de escrever o que acho que deva ser escrito, lá vou eu:

Não sei se existe de fato (um tipo de) "propósito final" na antropologia. Talvez não. Mas certamente pode-se dizer que uma de suas premissas é jamais avaliar o outro de acordo com seus (de quem avalia) próprios parâmetros. Se alguém o faz, este alguém é um etnocêntrico, um cara que avalia outros grupos de acordo com os parâmetros dos grupos nos quais o etnocêntrico está inserido. Esta é uma das lições mais básicas que se aprende em um curso de antropologia.

Pois bem. Pelo pouco que estudei desta matéria, pude perceber que uma forte corrente que se desenvolve nela é o estudo de agrupamentos periféricos (indígenas, na maioria das vezes) e a busca, dentro desses agrupamentos da forma pela qual eles se constroem enquanto grupo.

Isso é muito bonito, em minha opinião. Uma vez que a maioria das pessoas tende a avaliar determinado grupo de acordo com parâmetros que não são os do grupo avaliado, é um trabalho realmente nobre buscar compreender o outro da mesma maneira pela qual ele próprio se concebe.

É a partir daqui que eu entro. Conversando com alguns amigos meus da área, tenho percebido uma recorrente preocupação com a compreensão de grupos periféricos. Não acho que isso não deva ser feito, é bom que se diga.

O problema é que percebo uma espécie de "sinismo" nisso tudo. Sei que a palavra é pesada. Mas é meio revoltante, leitor. Vou explicar a origem da minha "revolta":

Os antropólogos são sempre os primeiros a dizer que não existe raça, cultura... provavelmente em algum tempo nem mesmo a divisão de "sexo" irá sumir. Beleza. O problema é que os estudantes de grupos periféricos buscam sempre uma comparação com o "Ocidente". Este post gostaria de perguntar aos antropólogos:

Quem é o Ocidente?

É a baiana que se veste com aquelas roupas brancas tradicionais, vende acarajé e reza para Iemanjá? Ou é o gaúcho que veste bombacha, toma chimarrão e dança fandango? Ou é o americano que ouve Lady Gaga, dança Michael Jackson e come no McDonald's? Quem é o Ocidente? São todos eles? Ou não é nenhum deles?

Mais ainda:

Se existe uma constante insistência em dizer que cada lugar é um lugar, e que cada "cultura" (sempre com aspas) é uma cultura, então por que é que se põe o "Ocidente" inteiro dentro do mesmo saco? Dª Antropologia, a senhora não julga falar em "Ocidente" um erro conceitual de sua própria constituição? Isso não é uma (espécie de) "generalização do ingeneralizável"?

Me arriscaria dizer que é um mero recurso retórico que permite aos estudantes de grupos periféricos dizer algo do tipo:

"Está vendo, os Xs têm uma concepção de espaço diferente dos ocidentais." ou "Enquanto no Ocidente se pensa assim, nos Ys se pensa de outro jeito." Mas os ocidentais têm realmente entre si uma concepção de espaço que é homogênea? Os ocidentais pensam do mesmo jeito?

Será que o "propósito final" (se é que este existe) da antropologia é se tornar um almanaque de curiosidades? Se não é, gostaria de saber que é "o Ocidente dos antropólogos".

Acho que já fui suficientemente claro em minha proposta. Vou parar por aqui.

É isso.

domingo, 18 de julho de 2010

Polêmica pra cachorro

Minha cabeça está pouco fértil esses últimos tempos. Isso não quer dizer que ela tenha parado de pensar, é bom que se diga.

O post de hoje se dedicará a polemizar. Acho que o que defenderei nele não será algo com que meus leitores(as) concordarão. Entretanto, como o nome do blogue já supõe, não há razão para se recear que ele defenda coisas doidas, não é verdade?

Pois bem. Recentemente recebi em meu email uma mensagem que se referia a um projeto de lei que, se entendi bem, visava proibir o sacrifício de animais no estado de São Paulo. Acho que era isso.

Meu escrito de hoje não se referirá diretamente a esta lei, mas sim ao tipo de relação que julgo ser cabida entre homem e animal dentro de uma sociedade (ao menos) predominantemente humana.

De uns tempos pra cá entrou na moda defender direitos dos animais. Do mesmo modo que também entrou na moda defender o verde e a preservação da natureza. Há 15 anos esse "discurso naturalista/preservacionista" era bem periférico. Hoje é ele quem predomina.

Não sou a favor do assassinato de cães nem da destruição da natureza. É bom que isso fique claro.

Mas o que me incomoda é o discurso de parte dos ativistas (principalmente dos) que defendem os "direitos dos animais". A meu ver, eles colocam os animais na frente dos seres humanos. É isso pra mim o que é inadmissível. Vou repetir: INADMISSÍVEL.

Como me dá raiva ver programas de TV (leia-se Luisa Mell e afins) em que se mostra Shopping para cachorros, estilista para cachorro, psicólogo (pasmem!) para cachorros. O que mais me espanta é saber que tem gente que se digna a gastar dinheiro com (me desculpe) absurdos desse tipo.

Enquanto isso, gente dormindo sobre papelão em calçadas não tão distantes, crianças pedindo esmola na rua, meninas vendendo o corpo aos 12 anos. E gente levando o seu lindo cãozinho ao dog stylist (acredite, esta aberração realmente existe). Muito bonito!

Aí vem o Exmo. Deputado (ou Vereador, ou sei lá o quê) propor que não se sacrifique os cães sem dono do estado. Pergunto ao propositor e aos defensores deste projeto de lei: é quem é que vai cuidar dos cães que não têm dono?

Eles serão cuidados pelo poder público? Então o governo terá que gastar dinheiro para alimentar e cuidar desses cães, certo? Hmmmm... então o que se poderia gastar em transporte, educação, saúde (humana, lógico) se gastará cuidando dos cães sem dono. Hmmmm... ótima maneira de gerir o dinheiro!

Ou então eles serão largados pelas ruas? Para serem atropelados pelos carros que passarem? Para ficarem sujeitos a doenças (que também podem matá-los) e transmití-las aos humanos? Isso realmente é melhor que o sacrifício?

Acho que a única maneira de um projeto de lei como este se tornar socialmente viável é a seguinte:

Uma ONG de defensores dos "direitos dos animais" se prontificar perante a sociedade a gerir com DINHEIRO PRIVADO os cães sem dono da cidade. A essa ONG ficaria a incumbência de promover um eficiente sistema de adoções, e cuidar dos animais enquanto sem dono. Com o dinheiro que ELES forem capazes de arrecadar de maneira privada. Aí sim. Não se pode admitir que se gaste dinheiro público com animais, enquanto há humanos com sérias necessidades, e uma vez que não são os animais os que pagam impostos.

Na inexistência de uma organização PRIVADA que se dedique (e se comprometa com o poder público e preste contas a ele) a isso, não se pode proibir o sacrifício de animais sem dono.

Sou defensor da idéia de que animais devem pertencer à esfera privada, com algun(s) cidadão(s) responsabilizando-se por esse(s) animal (is). Enquanto não perturbarem a ordem pública, ótimo. Se isso não ocorrer, o que vale é a lei da selva.

Para encerrar, uma historinha sobre isso:

Conta-se que na China colonial, devido ao fato de o Império passar por sucessivas crises de fome, o imperador certa vez proibiu que houvesse cães e gatos pelo império. Animal achado era animal na panela.

Justíssimo, a meu ver.

Não se pode admitir que em um lugar onde se passa fome alguém ouse dar comida a um animal ao invés de alimentar a outro humano.

É justamente nessa linha que defendo ser um absurdo se gastar dinheiro cuidando de animais enquanto há outros humanos (como o(s) dono(s) deste dinheiro) com mais necessidades, sendo estas muito mais importantes de serem atendidas do que as dos animais.

É isso.

sábado, 15 de maio de 2010

Amandos e Sucessandos

Como meus leitores mais assíduos já devem ter percebido, tudo que tange as relações entre pessoas é um tema muito caro a este blogueiro. Em um post anterior falei sobre o amor. Essa eu considero a capacidade (nem sempre aproveitada) mais importante que todos possuem. É um raro tesouro que, quando posto em ação produz um bem igualmente grande tanto para o indivíduo quanto para o coletivo em que este se insere.

Como deixei bem evidente naquele post, tenho consciência de que não são muitos os que se aproveitam desta capacidade, um vez que ela exige tempo, devoção, paciência e um monte de outras virtudes que não é necessário explicar para quem ama, e é impossível explicar para quem não ama (blasé). Este blogueiro acredita que o amor é o caminho mais seguro para felicidade, seja ela individual, seja ela coletiva.

Como escrevi no outro post, um blasé pode tentar a busca de sua felicidade por meio do sucesso, do sucesso próprio. O sucesso não demanda relações profundas com ninguém a não ser consigo próprio. Isso põe o sucesso muito mais próximo do alcance do que o amor.

É importante que eu defina a que estou me referindo com a palavra sucesso: é toda e qualquer finalidade individual, seja ela política, econômica, acadêmica, profissional... que pode ser alcançada por meio de algum planejamento racional, e que não atribui nenhuma importância para o amor.

Enquanto quem ama (que, para facilitar a escrita e a leitura chamarei de "Amando") tem que estar a todo o tempo preocupado consigo próprio e com que(m) ama, quem busca o sucesso pessoal (que chamarei se "Sucessando") só tem que se preocupar consigo próprio e com seus intentos pessoais.

Há, entretanto um problema. O Sucessando está tão ou mais imerso no mundo das pessoas quanto o Amando. Mais que isso, o Sucessando depende de muito mais gente do que o Amando.

(Como bem lembrou minha amiga Dani em um comentário ao referido post, não se pode amar a tudo e a todos ao mesmo tempo)

O amor torna certas pessoas/entidades especiais. Essas pessoas/entidades são, portanto, "selecinadas" por quem as ama (os Amandos). Já diria Weber, esta é uma relação social comunitária, que nesse caso se baseia no amor (e faz parte de uma ação social afetiva).

O sucesso já diverge nisso: ele não é um sentimento, mas sim uma finalidade a ser alcançada. Algo racional, portanto. Então, quem visa o sucesso não escolhe com quem se relacionar (durante o tempo em que agir com a finalidade do sucesso, logicamente): se relaciona com quem tiver maior potencial para alavancar-lhe ao sucesso, independentemente de quem seja a pessoa. Ele (Sucessando) converte a relação que tem com outras pessoas em um relação que se tem com um meio (para o sucesso) ou com um obstáculo (ao sucesso). Marx já dizia algo parecido com isso, mas falava da conversão da relação entre pessoas em uma relação entre coisas. Em ambos os casos ocorre uma objetivação das relações pessoais.

O Sucessando é incapaz de enxergar em sua frente algo que divirja do seguinte binarismo: pessoas-meio X pessoas-obstáculo. É com esse tipo de gente (?!) que ele se relaciona.

Eventualmente dois ou mais Sucessandos podem se agregar em torno de uma causa comum a que ambos aspirem. Um se torna uma pessoa-meio para o outro, e dessa maneira eles se agregam. Estabelecerão entre si uma relação de fidelidade, uma vez que há um objetivo em comum sendo perseguido por todos eles. Hmmmmm..... então este é um caminho por meio do qual aproximaram-se do amor os Sucessandos, certo?

Errado!

Uma relação que se estabelece pela existência de um fim comum a todas as pessoas não torna as outras pessoas indispensáveis! Muito pelo contrário, este tipo de relação torna o fim (e somente o fim) indispensável, e as pessoas totalmente dispensáveis.

A partir do momento em que um Sucessando disser para o outro que o fim a que buscam já não é mais o mesmo, irá cada um para seu lado (novamente). Não há nada, absolutamente nada que seja capaz de mantê-los juntos. Se eles se unem é exclusivamente porque há entre eles um objetivo comum. Acabou o objetivo, acabou a relação. Desse jeito. Utilitarismo puro. Os Sucessandos devem conhecer bem esta lógica.

Isso na melhor da hipóteses, já que ainda existe a possibilidade de um Sucessando trair o outro (o que, acredite, não é nada raro). Nesse caso, a glória do Sucessando traidor nunca é maior do que o fracasso do Sucessando traído. Numa situação de traição, o Sucessando traidor muito se orgulhará de ser um Sucessando, e o Sucessando traído se arrependerá (ao menos por um instante) amargamente de ter estabelecido uma relação com este outro Sucessando.

Pode ser que (o traído) se perguntará desesperado "por que razão não sou Amando, meu Deus do céu?". Entretanto, eu acho mais provável que ele se pergunte "por que fui tão burro e não o traí antes?". Não nos esqueçamos de que um Sucessando é racional.

Falando nisso, onde estavam os Amandos durante todo esse tempo? -Bom, provavelmente estavam sorrindo e comendo o bolo que prepararam juntos. Benditos sejam os Amandos. Espero que em algum dia desta minha vida consiga me tornar um deles.

É isso por hoje.

sábado, 24 de abril de 2010

Liberdade?

Quanto mais estudo menos penso. É esta a razão de um lapso tão grande entre o último texto e o de hoje. Já faz mais ou menos 60 dias desde a última postagem, a do Zico.

Bom, hoje mais uma vez começarei meu escrito me referindo à famigerada Revolução Francesa. Não tenho muito como fugir dela, pois é ela o fato que marca o início de Modernidade, e de todos os problemas que esta trouxe consigo.

Feita por uma classe burguesa que estava em busca de emancipação dos moldes da sociedade tradicional, que não lhes (aos burgueses, e todo o resto que não era nem clero nem nobreza) permitia ascensão política, e desta maneira lhes submetia ao poder da nobreza e do clero (cuja extensão se dava por sangue/hereditariedade, e não por posses), a RF (Revolução Francesa) trouxe consigo os ideais que guiam as sociedades modernas até hoje: Liberdade e Igualdade (há também a Fraternidade, mas não tenho esta por objeto em meu texto de hoje).

Uma sociedade em que os homens fossem iguais e livres permitiria aos burgueses ter tanto poder quanto qualquer clérigo ou nobre (o que seria impensável antes disso). Isso nesse tempo foi realmente chocante, um absurdo. Por isso se chamou Revolução (e não Evolução, por exemplo).

Fazendo o link com as sociedades Modernas, que se dizem democráticas, há uma tendência em todas suas legislações que tende a fazer com que a liberdade de um indivíduo e a igualdade deste perante os outros seja incontestável.

Para Kant, ser livre é ser autônomo, isto, é dar a si mesmo as regras a serem seguidas racionalmente. Para Jean-Paul Sartre, a liberdade é a condição ontológica do ser humano: o homem é nada antes de definir-se como algo, e é absolutamente livre para definir-se, engajar-se, encerrar-se, esgotar a si mesmo.

Poderá me perguntar, querido leitor: por que tanto esmero para definir liberdade?

Te responderei, então: numa sociedade em que a lei diz que os homens são todos iguais (então ninguém pode mandar em outro, a não ser que este outro consinta com isso), e dentro dessa igualdade todos são igualmente livres, permite a definição de liberdade como a de Sartre, por exemplo, que diz que o homem é, antes de tudo, livre para definir-se, engajar-se, esgotar-se a si mesmo. É uma liberdade que visa permitir ao homem que seja/faça tudo enquanto não burlar a liberdade/igualdade em relação aos outros. Temos então a definição burguesa de que um homem pode fazer tudo e ter direito a tudo também.

Marx teria uma crítica feroz a isso. Mas não sou marxista. Não poderia, portanto, me restringir à divisão classe dominante/classe dominada para explicar que os homens não têm, nem de longe, esta liberdade que é tão bonitamente descrita pelos homens acima, apesar de achar que este raciocínio tem lá seu fundo de verdade. Tendo mais a ser durkheimiano nesse aspecto.

Os indivíduos livres e iguais da Declaração de Direitos Humanos (produto derivado da RF) são nela tidos como se fossem todos autônomos, mônadas. Em "O Suicídio", Durk(heim) diz que um grupo social, qualquer que seja, deve produzir no indivíduo que a ele (ao grupo) pertence pelo menos duas sensações: a de integração e a de regulação.

Integração ocorre no sentido de sentir-se fazer parte daquilo (do grupo): ter crenças, hábitos, gostos, atitudes... o que quer que seja em comum com os outros pertencentes. Dessa maneira o indivíduo se sente identificado com o agrupamento a que pertence, e não está mais sozinho no mundo.

Regulação ocorre no sentido de que, a partir do momento em que se é parte componente de um agrupamento, haverá um tipo de conduta que se deve tomar, e um tipo de conduta que não se deve tomar para que se siga fazendo parte dele. Um católico não pode cometer adultério; um corinthiano não pode gritar Gol do Flamengo; um maçon não pode revelar seu pertencimento à maçonaria.... e assim por diante.

Bem, espero que até aqui tudo esteja claro. Acho que não há nenhuma novidade até este ponto. É daqui que começo:

Como é que um indivíduo pode ser livre dentro de um grupo? - Considerando que qualquer grupo que seja lhe imporá uma regulação, então o indivíduo nunca será totalmente livre detro de um grupo, qualquer que seja este grupo.

Então liberdade consiste em trocar de grupo quando se quiser? - Imaginando que, dentro de um grupo nunca se terá a liberdade plena, eu diria que esta é a definição que mais se aproxima do que eu descreveria como o máximo de liberdade possível: submeter-se à regulação do grupo a que se escolher pertencer.

Ora, então a liberdade não consiste em fazer tudo o que se puder, mas sim fazer tudo o que seu grupo permitir, e trocar de grupo quando achar que a regulação imposta por um outro é mais agradável (ou menos detestável) do que a do grupo a que já se pertence?! - Eu diria que sim. Nesse caso, liberdade cosistiria em livre troca de regulações, e não de auto-regulação.

Isso é liberdade?

Em minha humilde opinião, não. Por definição, liberdade é algo que só poderia ser objeto de discussão em sociedade. (Me soaria esdrúxulo alguém que morasse sozinho em uma ilha deserta pôr sua liberdade em questão: este pode fazer absolutamente tudo o que quiser: ele não precisa pensar em liberdade, porque o homem fora de sociedade (totalmente auto-suficiente) é, por excelência, a máxima concretização possível da liberdade.)
A sociedade sempre limitará o indivíduo que estiver dentro dela.
Então quem quer a liberdade plena deve abandonar a sociedade? -Considerando que a sociedade sempre exercerá sobre os indivíduos algum tipo de regulação, eu diria que sim.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sobre fortuna, virtú e o Zico

Não é possível ser bem sucedido em tudo na vida. Mesmo porque, o sucesso não é algo que dependa só de uma pessoa, tampouco somente de um único acontecimento, e (ao contrário do que muitos querem tentar nos convencer) não é algo que um bom planejamento consiga garantir. O próprio Maquiavel já dizia que um bom Príncipe deveria ter aliadas em sua pessoa duas características fundamentais para um governante: a FORTUNA e a VIRTÚ (este último vocábulo é, inclusive um termo criado pelo autor dentro desta obra). A virtú seria o talento, o jogo de cintura, o "agir certo na hora certa". Já a fortuna seria o imponderável, o que não se pode prever, nem planejar; a sorte.

Concordo plenamente com a lógica maquiaveliana de que há coisas que se pode controlar (virtú) e outras que não se pode controlar (fortuna). Parto deste pressuposto para o post de hoje.

Quem busca pela excelência nunca terá certeza de que a alcançará, mesmo porque isto não depende exclusivamente de quem a persegue. Entretanto, a vida nos dá chances para que possamos aproximarmo-nos dela. E quando ela (a chance que a vida dá) aparece, pode-se ter diversas reações. Fugir pode ser uma. Deixar para um futuro que nunca chegará pode ser outra. Mas o único caminho que pode conduzir ao máximo da capacidade/potencial que se tem é ir para cima dos desafios. Como já repeti mais de uma vez, ir para cima do desafio significa enfrentá-lo, e não necessariamente vencê-lo.

Da minha parte, julgo que o remorso por não ter tentado será sempre mais intenso do que o desgosto por um eventual fracasso. Por isto sou teimoso demais, e dificilmente fujo das dificuldades que me são impostas por alguém, mesmo que isto me custe altos preços. Há na história um exemplo que acho emblemático para descrever esta minha maneira de pensar/agir.

Dia 21/06/1986.

Quase 25 anos atrás. Após uma copa do mundo em que o Brasil provavelmente jogou seu futebol mais vistoso da história (a copa de 1982), os tupiniquins tentavam honrar o nome do país no México, o país onde o Brasil havia conquistado seu último título mundial em 1970, 16 anos atrás. À sua frente, a perigosa França, do maestro Platini. O jogo estava 1X1, caminhando para o final de seu segundo tempo quando entrou em campo Zico, o astro da Seleção.

2 ou 3 minutos após sua entrada em campo, armou um contra-ataque fulminante para o Brasil, deixando Branco na cara do goleiro, que não teve outra alternativa e derrubou nosso lateral: pênalti para o Brasil. Torcida em êxtase. Zico, a referência daquele time, foi para a cobrança. O resto vocês podem acompanhar som seus próprios olhos aqui.

O jogo terminou empatado e foi para a disputa de pênaltis, onde o Brasil foi eliminado de mais uma Copa do Mundo.

Há muitos meses atrás, talvez um ano, ouvi uma entrevista dele (Zico), que está tendo uma carreira muito bem-sucedida fora dos gramados, onde lhe perguntavam sobre este lance. A pergunta foi algo do tipo: "Ainda hoje (2009, eu acho) você carrega alguma mágoa por ter perdido aquele pênalti em 1986?".

A resposta foi algo assim: "apesar de ainda estar frio e somente há alguns poucos minutos em campo até aquele momento, não me martirizo por ter perdido aquele pênalti. Eu era o centro das atenções naquele momento, a referência do time. Se, ao invés de eu bater, alguém outro o fizesse e perdesse, aí eu teria que conviver com a fama de pipoqueiro até hoje. A responsabilidade era minha. Perdi o pênalti. Mas só perde o pênalti quem bate."

Pra quem não conhece o que este cara jogou em campo, vai aqui um pouquinho disso. Apesar de tudo o que ele sabia de bola, não foi capaz de jogar pra rede aquela bola em 1986. Da mesma maneira que ele, nós, por melhores que sejamos no que fazemos, nunca estaremos a salvo de grandes fracassos e decepções em nossas vidas.

Há acontecimentos na vida que são como testes, que medem o tipo de pessoa que somos. Em 1986, Zico teve o dele. Poderia muito bem ter passado a bucha pra qualquer um dos outros 10 jogadores sob o pretexto "poxa, acabei de entrar, estou frio e não estou confiante". Não foi o que fez. Ciente do craque que era e da responsabilidade que carregava por isso, pegou a bola, pôs na marca da cal e bateu. E perdeu.

Daí terá quem dirá: "ele é maluco"; "quis dar um passo maior que a própria perna"; "se precipitou"... e coisas do tipo. Mas ninguém poderá dizer que ele tenha se apequenado diante de uma situação aguda como aquela. Não jogou a responsabilidade pra ninguém que não ele, e até hoje é cobrado por seu erro. Mas só perde o pênalti quem bate. Num momento como o desse lance, acho muito mais importante o fato em si de se ter tomado coragem e ter batido o pênalti do que o resultado da cobrança. Atitude de quem tem fibra, coisa de gente grande. Belo exemplo. Valeu, Zico.

Comente se se sentir à vontade para fazê-lo. Por hoje é isso.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Os que amam e os blasés

O post de hoje vem quase que num tom de protesto. Não consigo falar racionalmente de coisas que não são racionais.

São poucas pessoas as que têm a capacidade/vontade de amar algo na vida. A explicação para esta falta de amor para mim é muito simples: amar é uma coisa difícil. Demanda tempo, atenção, paciência, sabedoria, muuuuita reflexão.

Talvez por comodismo, talvez por medo de sofrer, talvez por incapacidade mesmo, muitas pessoas optam (ou são cooptadas?) por uma vida de associações superficiais, sem muita profundidade, blasé. Afinal de contas, quem sempre nada na superfície rasa nunca correrá o risco de se afogar. Se todas as pessoas fossem dessa maneira, superficiais para todas as relações que estabelecem, imagino que haveria pouquíssimos problemas de relacionamento. Afinal de contas eles seriam resolvidos de uma maneira fácil: houve um atrito? - corte a relação; mude pra outra, esqueça a pessoa com quem teve o último relacionamento superficial e parta para um novo relacionamento superficial, e assim viveríamos em constantes rodízios de relacionamentos superficiais. E assim relacionar-nos-íamos somente na medida em que o outro fosse necessário para nossa sobrevivência: acabou a necessidade, acabou a relação. Algo muito mais Exato que Humano. Linguagem binária, praticamente.

Sim, na lógica matemática isso funciona muito bem. Pessoas que conheço provavelmente quereriam transformar isso em uma fórmula, tentar numerizar as propriedades relacionamentais que há entre as pessoas. Mas antes que os estatísticos entrem em ação já vou dizendo: esse modelo não fecha. E eu vou dizer o porquê.

Felizmente, (ainda) há pessoas que amam, e que não abrem mão de determinados relacionamentos, e que se dedicarão o quanto puderem para o bem daquilo, afinal de contas o bem do que(m) se ama e o bem da relação que se tem com o que se ama se converte no bem da própria pessoa. Para muitos isso é bem difícil de compreender, justamente porque são muitos os que, por algum motivo são incapazes de entender este tipo de coisa, os blasés.

Aos que têm o "dom do amor", vai aqui meu recado: muitos serão os que vocês encontrarão que não estarão à altura de vosso dom.

Que fazer se estas pessoas cruzarem por vosso caminho? É possível "ensinar" alguém que passou a vida inteira com seus "relacionamentos perecíveis", e que, por consequência tornou-se alguém relacionalmente perecível a "imperecibilizar-se"? É possível ensinar um blasé a amar?

O exemplo melhor que conheço disso são as Igrejas de crentes. Apesar de todo o preconceito que as circunda, elas conseguem, sim Senhor, transformar gente blasé em amantes (pessoas que amam, não me entendam mal). É como se dessem uma causa por que viver às pessoas. Por mais que eu discorde da maneira que isso é feito, conheci pessoas cujas experiências me confirmaram a eficácia destas Igrejas no que diz respeito a isso, e respondem com uma sonoro SIM à última interrogação que pus neste texto.

Mas uma característica própria dessas Igrejas é que elas inserem o "novo crente" em uma comunidade de pessoas que também estão forradas com os princípios cristãos de "amor ao próximo", e que, somente pelo fato de pertencerem a uma mesma comunidade já dedicam a seus pares um "amor fraternal". Fazem com que um blasé, muitas vezes pela primeira vez na vida, sinta-se amado por alguém. É muito mais fácil amar quando já se é amado.

E que resta aos blasés então?
Meu palpite:

1- Tentar serem bem-sucedidos em suas vidas, e converterem seu desejo por felicidade no desejo por sucesso, e se descobrirem felizes por se acharem bem sucedidas (em breve virá um post sobre o sucesso).

2- Dar a sorte de encontrar por aí alguém que esteja disposto a amá-los.

Se sentirem-se à vontade comentem. Por hoje é isso.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Como joga um Grande, e minhas preocupações com o Palmeiras

Muito atrasado, mas me sinto na obrigação de comentar a atual situação do Palmeiras, que vem me afligindo há alguns dias, desde o dia 17/02/2010.

(Vejam aqui o que aconteceu nas últimas horas da quarta-feira)

Nas primeiras horas da quinta-feira 18/02/2010 não saía da minha cabeça o seguinte pensamento:

"Não precisa jogar bonito, não precisa ser campeão, não precisa ganhar tudo. Mas precisa ser Palmeiras."

Apesar de achar o Muricy um técnico muito ético, e muito correto no trabalho que faz, acho que nenhum palmeirense pode negar que o time simplesmente não deu certo nas mãos deste treinador. Até sua chegada (até o memorável jogo Palmeiras 3X0 Corinthians, sob o comando de Jorginho), nossa equipe vinha apresentando um futebol muito vistoso, que dava gosto de assistir e torcer, digno das melhores aspirações de qualquer palmeirense. A partir do momento de sua chegada, e de seu primeiro jogo, um Palmeiras 1X0 Fluminense, começamos a jogar um futebol burocrático.

O futebol burocrático não seria um problema se com ele viessem os resultados. E o problema foi justamente este: eles não vieram. Além de não termos jogado mais um bom futebol, perdemos nossa consistência em campo, e assim perdemos o título brasileiro de 2009, que foi um fim-de-ano pra testar nosso amor por este time.

Começou o Paulista-2010, e mesmo contra as pequenas equipes do interior paulista passávamos um grande sufoco pra vencer (quando vencíamos). O jogo contra o Monte-Azul foi emblemático nesse sentido: gol de pênalti duvidoso, e futebol medonho. Contra o Corinthians então... jogo inteiro com 1 jogador a mais, e não conseguimos marcar um mísero gol de empate. Contra o Botinha de Ribeirão Preto, conseguimos um empate na bacia das almas. E contra o São Caetano..., bom desse jogo não precisa de link nem precisa dizer nada.

Eu particularmente detesto futebol burocrático. Muito mais ainda no Palmeiras, que nunca foi time de jogar futebol burocrático. Futebol burocrático pra mim é coisa de time pequeno. E, ao meu ver, só poderia ser usado no Palmeiras com uma condição: que jogando burocraticamente o Palmeiras ganhasse tudo. Isso, convenhamos, passou bem longe de acontecer no Palestra Itália enquanto sob o comando de Muricy Ramalho.

Não quero saber do que acontece nos bastidores, se a diretoria faz isso ou aquilo, se o presidente (quem muito admiro, e inclusive mereceria um post exclusivamente sobre sua pessoa neste blog) fez ou não fez isso ou aquilo...enfim. Me interessa o que acontece dentro do campo, e não fora dele.

Com o futebol que vínhamos jogando, era possível que nem passássemos para a fase final do Campeonato Paulista, fôssemos eliminados nas oitavas ou quartas-de-final da Copa do Brasil, e não fizéssemos nem cócegas em ninguém no Brasileirão. O fato é que em 34 jogos , Muricy não conseguiu fazer com que o líder do campeonato se tornasse o campeão brasileiro, e teve um dos piores aproveitamentos entre os técnicos que nos dirigiram de uns sete anos pra cá.

Inclusive me pareceu que quanto mais ele trabalhava o time, pior ele jogava. E assim, por mais gente boa e correto que o cara seja, não dá. Fica difícil mantê-lo diante de circunstâncias como estas. Desejo-lhe muita sorte, pois falta em nosso futebol gente como ele. Infelizmente desta vez não deu.

E Palmeiras: FAÇA O FAVOR DE VOLTAR A JOGAR COMO PALMEIRAS! Somos grandes demais pra jogarmos em casa, com 3 volantes e no contra-ataque contra times do interior. Quem tem que ditar o jogo no Palestra é o Palestra, jogue contra Flamengo-PI ou Corinthians. O grande domina o pequeno, e é por isso que se chama os grandes de grandes (que têm torcida e responsabilidade por causa disto) e os pequenos de pequenos (que não têm nem responsabilidade pelo resultado nem torcida por causa disso).

Amanhã à tarde (21/02/2010, às 17hs), poderemos ver se o problema foi resolvido, se estamos na mesma, o se andamos pra trás. Por mim, pode perder de 4, 5, 10, 100X0. Se nosso jogo fôr à altura de nossa grandeza, continuarei cantando e torcendo, e não direi mais nenhuma palavra sobre isso. Paro por aqui por hoje.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O que o "Feminismo" quer para a humanidade?

Nas aulas de legislação que tive no CFC que fiz (sim, em tese aprende-se algo de legislação num curso de CFC), houve um momento em que meu professor falou algo do tipo:

"... não precisa ficar desesperado pra salvar a vida da vítima em caso de acidente no trânsito, nem com medo da punição por omissão de socorro. Basta não fugir, e se necessário aplicar o que se aprendeu nas aulas de primeiros socorros daqui. E no Brasil, a única coisa que dá cadeia sem discussão, é deixar de pagar pensão alimentícia: se o cara atrasa um dia na pensão, no dia sguinte já aparece um oficial de justiça lá na casa dele."

E depois desse parênteses continuou normalmente o assunto da aula.

Isso me fez pensar em uma série de conversas que tenho tido com algumas das minhas amigas feministas (não conheço nenhum homem que se diga feminista). Como não sou um feminista, costumo "travar" boas discussões com as que são.

É bom deixar claro que não tenho nada contra o feminismo, muito menos com as feministas que conheço, e acho justíssima a causa pela qual elas se dedicam. Não se pode negar que desde que o "Ocidente" se conhece como tal, as mulheres são o "sexo frágil", ou o "sexo dominado", ou como quer que queiram que isso seja dito.

Para ilustrar: nos 10 mandamentos de Moisés, há um (o 9°) que diz "não cobiçarás a mulher do teu próximo", mas não há outro que diga "não cobiçarás o marido de tua próxima" (deve-se depreender daí que os mandamentos foram feitos para os homens?). Em Atenas, mulheres não eram cidadãs, por mais bem-nascidas que fossem. E exemplos da Antigüidade até atualidade não faltam para exemplificarmos a dominação da qual elas foram "vítimas" por todos esses tempos.

Eis que a Revolução Francesa proclamou o ideal a que o Ocidente aderiria até os dias de hoje "liberdade, igualdade e fraternidade". Ao proclamarem o(s) ser(es) humano(s) genérico(s) igual(is), e igualmente livre(s), deu-se margem para todos os que não eram brancos, europeus, católicos, heterossexuais e homens a buscarem uma equiparação de direitos e de tratamento em relação aos que possuíam todas as características acima citadas. Foi isso o que possibilitou a ascensão de muitos movimentos que são nossos contemporâneos: movimento negro; feminista; homossexualista; a laicização de tudo, e assim por diante (só se é possível falar de feminismo tendo-se em mente a noção de "ser humano genérico" e de direitos humanos, que surgiram na Revolução Francesa).

Bom, até agora estou contando historinhas. Mas não estou te enrolando, viu leitor?! Só estou te situando na História.

Pois bem. O post de hoje se enfocará no movimento feminista (que trato aqui em nível macro, e não deste, ou daquele feminismo especificamente), e em mais nenhum dos outros movimentos citados dois parágrafos acima. Acho totalmente plausível que um grupo que se sinta reprimido lute por sua "libertação", nada mais justo que isso. O que eu gostaria de discutir aqui, é pelo que o "feminismo" (ou movimento feminista, pra que não seja mal-interpretado) luta. Ou melhor, pelo que não luta.

Não é novidade pra ninguém a luta das mulheres pela equiparação de salários com os homens, a aspiração à igualdade de poder em qualquer esfera da sociedade e em qualquer tipo de relação... Enfim, acho que pode-se agrupar tudo isso em sua (das mulheres) luta pela emancipação das funções domésticas (seu estigma), e pela total igualdade de direitos na sociedade, o que, convenhamos, até hoje não ocorre plenamente. Até aí, têm o meu apoio irrestrito.

Mas o que me deixa com a pulga atrás da orelha, e me motivou à elaboração da doidice de hoje é o seguinte raciocínio: se no caso da separação de um casal com filhos a prioridade de guarda (no caso brasileiro, ao menos) pertence à mulher, isto não constituiria um resquício do pensamento "lugar de mulher é em casa cuidando da comida e dos filhos"?

Se sim, as feministas, que pregam principalmente a igualdade entre os sexos, não deveriam lutar contra isso? Não deveriam tentar abolir esta lei, ou tomar qualquer tipo de postura para mudá-la?

Aliado à prioridade de guarda da mãe, a prisão imediata do homem por atrasar a pensão alimentícia, não é um indicador de que o pensamento "homem sustenta o filho, e mulher cuida" ainda vive? Não lhe soa, querido(a) leitor(a), muito estranho que um acusado de assassinato tenha direito a julgamento, e um homem que atrasa a pensão vá pra prisão sem choro nem vela? Quem luta pela igualdade de direitos entre os sexos não deveria ter alguma política incisiva em relação a isso?

A partir daqui já vou um pouco mais fundo em minha doidice. Chego a pensar se a luta das feministas se limita somente ao bem das mulheres, e não à igualdade e à liberdade, que, ao menos em tese, seria o motivo inicial de sua organização: a (in)eqüidade entre os sexos. Será que não rola algo do tipo "vamos mudar só o que nos prejudica, e não mexamos no que prejudica aos outros, já que nós próprias somos as maiores beneficiadas com isso"?

Ora, se o carro-chefe do feminismo for, ao invés de equiparar a relação entre os sexos, inverter a relação de dominação, aí passarei a discordar de todas suas causas, pois já não as acharei justas. Acho que a única pessoa que deve ser subjugada é aquela que acha justo subjugar aos outros. Enquanto se luta para sua liberdade/libertação, esta luta é justíssima. A partir do momento em que se luta para encarcerar ao outro, seria melhor se não se lutasse. Isso (lutar para encarcerar ao outro) já gerou muitas guerras que mataram muita gente. Espero que eu esteja enganado sobre este aparente aspecto do feminismo.

Se falei alguma besteira, por favor me corrijam. Por hoje é isso.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O jornalismo e as velhas futriqueiras

Já faz algum tempo que tenho pensado sobre este assunto, mas acho que só agora ele "deu a liga" suficiente na minha cabeça pra que eu postasse algo sobre.

Hoje falarei sobre nossa "Grande Mídia", e aos "Grandes Fatos" que ela vive nos "informando" (quantas aspas, ?!).

Principalmente depois de ter entrado na faculdade comecei a ter um olhar um pouco mais crítico para o que me era dito uma, duas, três, cinco, dez, cem vezes pelos jornais, principalmente pelos televisivos (que são, ainda hoje, os mais massificados), mas sem tirar desse grupo também os radiofônicos, os escritos, e (por quê não?) também a internet (se bem que esta última permite ao "informado" ter uma mobilidade maior dentro do que lhe é noticiado).

Bem, antes mesmo de entrar na faculdade já me incomodou um pouco a grande repercussão que foi dada ao problema do "Aquecimento Global", já que (pensava eu), por se tratar de um acontecimento que foi sendo construído ao longo de séculos de mau uso do meio-ambiente, por que então justamente naquele momento ele (o Aquecimento Global e problemas ambientais afins) era(m) posto(s) como se fossem a razão única do fim do mundo, que estava prestes a acontecer?

Aí logo que entrei na faculdade, aconteceu o famigerado "Caso Isabella", que causou grande comoção nacional pela terrível atrocidade cometida pelo próprio pai contra a indefesa menina de 5 anos de idade.

Se não me engano (me corrijam se estiver enganado), cronologicamente este foi sucedido pela grande Crise Mundial (que, de acordo com alguns foi maior ainda que a de 1929), que deixou os mercados de todo o planeta atônitos, e pobres milhões de pessoas desempregadas, e levou a economia mundial ao colapso.

Depois desse, já em 2009, apareceu a Gripe Suína, a nova gripe do tipo A que era transmissível pelo próprio ar, o que pôs em milhares de conscientes cidadãos de bem as milagrosas máscaras protetoras, seja nas ruas, seja nos metrôs, nos edifícios comerciais e até nos estádios de futebol. A tal gripe fatal fechou o México, fechou escolas, e inclusive atrasou a volta das minhas aulas no segundo semestre de 2009.

Aí teve o caso de corrupção do Arruda (do qual até hoje nao me informei decentemente) que não me aprofundarei aqui, e o mais recente parece ser o terremoto no Haiti, que devastou o país, deixando centenas de milhares de pessoas mortas, e outras tantas milhões de desabrigadas. E ainda devem ter outros tantos nesse meio tempo que ainda me esqueci de mencionar, como o das enchentes em SC em 2008 e as em SP em 2010.

Calma leitor. Meu texto de hoje não se ariscará/ousará a ponto de negar a veracidade (ao menos parcial) tudo isso que é noticiado (e noticiado, e noticiado...) com tanta frequência pelos nossos órgãos de informação.

Mas algumas indagações me são inevitáveis:

Se há décadas e décadas (quem sabe séculos) optou-se pelo desenvolvimento mercantil a todo custo (desde as Grandes Navegações, lembra?), o que devastou, por exemplo, 93% da nossa Mata Atlântica, quase todo nosso pau-brasil (não se iludam, não sou ambientalista) e que ainda hoje põe centenas de árvores no chão lá na Amazônia pra colocar um único boi no lugar, por que é que só agora isso virou um problema de vida ou morte?

Se em toda a sociedade do mundo há infanticídios, e se, mesmo no Brasil a cada dia tem um, por que especificamente o de Isabella tomou proporções tão desproporcionais (perdoem a antítese)? E onde estão os Nardoni hoje?

Se os EUA calcaram durante décadas sua economia na filosofia do "consuma o quanto conseguir", a ponto de permitir a seus cidadãos empréstimos bancários do tamanho da hipoteca de suas casas, qual a surpresa na quebra da economia em algum momento qualquer?

Se o prefeito de São Paulo opta por gastar 1,3 bi alargando as pistas (e diminuindo o leito do rio) da Marginal Tietê aos invés de, com metade deste dinheiro construir pelo curso deste mesmo rio uma linha de trem que ligue o centro da cidade à Zona Leste (que, curiosamente é o lugar onde há mais trabalhadores), qual a surpresa em ver dia-após-dia a Marginal cheia d'água?

O que não vejo em nenhum dos jornais que leio/assisto, é, por exemplo, alguém analisando a mudança nas relações familiares como um todo ocasionada por X, Y, ou Z motivo (falta de amor, excesso de trabalho, de stress, de cobranças, de racionalidade...sei lá), que não é só um problema dos Nardoni, mas sim um problema de nossa sociedade como um todo. Mas é divulgado como se fosse um problema exclusivo deles. "Com o resto tá tudo certo, viu Doutor?"

E a crise mundial, então? Foi analisada como um acaso catastrófico, que podia ter sido evitado se Obama tivesse sido mais rápido para agir. O aquecimento global, então... parece que não existia há 10 anos atrás. Os acontecimentos não têm história; são vendidos como se tivessem se produzido do nada, instantaneamente.

A "Grande Mídia" pega os "Grandes Fatos" e dá a eles enormes proporções, e pior ainda, querem dar a sensação de que é algo totalmente novo, uma aberração inesperada. É nitidamente feito pra causar efeito na sociedade, mudar o assunto (que a própria Grande Mídia tinha posto) em voga, e, (repararam?) para ter sempre um fundo trágico e/ou ameaçador, o que acaba sempre por prender a atenção. É assim que são feitos os jornais de nossos dias.

Ninguém está interessado em explicar que o Haiti foi o primeiro país do mundo a abolir a escravidão, e o segundo nas Américas (atrás somente dos EUA) a proclamar independência, e justamente por isso (adicionando-se o fato de ser um país negro) sofreu um bloqueio comercial de Europa e EUA por 60 anos: ninguém tinha vontade de que o Haiti fosse "pra frente"; muito pelo contrário, por algum tempo, a política internacional haitiana podia ser definida da seguinte maneira: HAITI X PAÍSES BRANCOS DESENVOLVIDOS. Bem, já sabemos quem venceu esta batalha histórica, e quem ficou o país mais pobre das Américas.

Mas os jornais não mostram isso. No caso haitiano, não vejo muitas coisas além das ruínas, lágrimas, sangue, choro, e é claro: a ajuda dos brancos bonzinhos!

Os mesmos jornais que não dizem que a gripe normal mata 70 vezes mais que a suína, dizem "USE MÁSCARA, SENÃO A GRIPE SUÍNA VAI TE PEGAR!". Neste caso, como em tantos outros, os jornais prestam um desserviço à sociedade; desinformam ao invés de informar. Não explicam nada, e o que explicam ainda vem recheado de "erros" (para ser eufemista) e omissões gravíssimas como mostrei nos dois exemplos que mencionei acima. O que importa é fazer escândalo; causar; aparecer. É absurdo. Não dá pra acreditar que haja gente que esteja milionária por produzir este tipo de serviço. Muitos dos que eu conheço fariam muito melhor, e por 1/4 do salário, eu garanto.

Escrever isso me fez lembrar das folclóricas velhas futriqueiras, que passam o dia inteiro falando da vida dos outros. Não se importam com o que está certo ou errado, ou com o que é verdade ou não: o que importa é ter assunto pra falar com as outras futriqueiras. Falar mal da vida dos outros é o que lhes apetece.

Estive pensando comigo se os jornais, ao invés de contarem com grandes equipes muito bem pagas, contassem apenas com duas ou três velhas futriqueiras. A que conclusão cheguei, leitor? Seria muito melhor! Todo mundo poderia discordar delas (afinal são velhas futriqueiras), já que seriam incapazes de dogmatizar qualquer coisa (quer um exemplo de dogmatização pela Grande Mídia? -Apareça como assassino no JN e veja quem acreditará em sua inocência. Provavelmente nem sua mãe!), não precisariam tentar esconder suas opiniões, o que poderia tornar a futricagem (ou jornal?) inclusive mais engraçado. Lógico, não precisariam gastar milhões e milhões para manter um correspondente em cada canto do mundo. E o melhor de tudo: não enganariam ninguém, pois não se arrogariam (nem poderiam) as "difusoras da verdade". Que é que você acha, leitor?

Bom, enquanto as velhas futriqueiras não são descobertas pela "Grande Mídia", acho que meus leitores terão que ficar com este moleque futriqueiro mesmo. E eu tratarei de futricar direito, fiquem tranquilos. É isso por hoje.

sábado, 30 de janeiro de 2010

A era das Inovações Descartáveis

Gostaria de começar este post agradecendo aos que me prestigiaram com seus comentários no post anterior. Não esperava mais que um comentário para o primeiro post pra valer. Obrigado!

O segundo pra valer deste blog vai começar com um historinha verídica que ouvi ontem à noite. Minha doidice aparecerá depois dela (da história). Bom, vamos a ela:

Minha querida "escolinha", o (hoje) IF-SP , há dois anos retomou seus tradicionais cursos integrados (onde se cursa ensino médio e curso técnico concomitantemente). Em um deles, (o de Mecânica) tenho além de alguns amigos e conhecidos, meu irmão, que foi o interlocutor desta.

No longínquo ano de 1964, a então ETFSP comprou uma fresadora húngara, se não me engano de marca Strigon, que já havia sido usada antes desse ano, inclusive. Esta máquina era usada pelos alunos do curso de mecânica e talvez de outros cursos daqueles tempos, provavelmente até meados dos anos 1990 (quando alguns cursos técnicos (incluindo o de Mecânica) foram abolidos em virtude da separação do curso técnico do curso de ensino médio).

Algumas máquinas ficaram guardadas, parcialmente esquecidas enquanto não eram usadas.

Voltamos ao ano de 2009. Para os alunos do 2° ano do curso de Mecânica, que teriam que aprender a mexer com as famigeradas fresadoras, foram adquiridas pelo Governo Federal 7 pomposas máquinas chinesas, que, sendo complementadas por outras 3 sobreviventes do milênio anterior comporiam um conjunto de 10.

A turma de 30 alunos foi dividida em 3 subturmas de 10 alunos, que durante o ano fariam um rodízio pelas máquinas a serem aprendidas por eles naquele período, a saber: torno, lima, e... FRESADORA.

Bem, logo na turma que trabalhou com a dita máquina no primeiro terço do ano, quebrou uma chinesinha. No segundo terço, outra. E no terceiro terço...outras duas! Os alunos que fizerem esta matéria neste ano de 2010 conhecerão 3 chinesinhas de um ano (que provavelmente já não estarão vivas em seu segundo aniversário), e uma húngara de 46 (que é possível que ainda trabalhe com seus filhos, se eles resolverem fazer o curso daqui uns 20 anos). Não sei vocês, amigos, mas achei este fato um absurdo! Como é que pode uma máquina ser tão ruim que de 7 do mesmo tipo, mais que a metade dura menos de um ano?! É aqui que começa minha doidice de hoje.

Atualmente as coisas não são feitas pra durar. E quando falo em coisas, infelizmente não me refiro somente às fresadoras chinesas. Pensemos nas coisas fabricadas há algumas décadas: quantos Fuscas/Brasílias ainda circulam pelas nossas ruas? Quem não conhece alguém que tenha uma lavadora de 30 anos, uma geladeira, uma máquina de costura da mesma idade (aqui em casa tem das três)... peguem uma máquina de escrever de seus pais/avós, vejam se ela ainda não está escrevendo!

O avanço e o aprimoramento do capitalismo demonstrou aos "EMPREENDEDORES" que lhes é muito mais lucrativo (logo, muito mais racional) não pôrem todo o conhecimento por eles (e seus pesquisadores) adquiridos/desenvolvidos no que produzissem , mas sim fazer máquinas mais baratas e mais bonitas de baixa/baixíssima duração, e de conserto muito caro/difícil, de modo a induzir o consumidor a comprar uma máquina nova, e de jeito nenhum arrume uma velha.

(Responda aí: quem já tentou arrumar um celular, ou um computador, ou um DVD com mais de três anos de uso? E quem já arrumou uma Kombi, um Fusca, uma Brasília, uma TV, um rádio, um telefone com mais de 25 anos de uso?)

As “chinesinhas” são filhas desse período recente que culminou com o auge do capitalismo e com os “anos de ouro” de sua maior potência, os EUA. A diferença destes (do período e das máquinas) para as décadas passadas em que foi produzida velha húngara, é que hoje são pouquíssimos os fabricantes que buscam fazer algo produto cujo intento seja, além de ser útil, ser durável e fácil de consertar.

A nova tendência, ao contrário da(s) outra(s) é produzir algo que se tem a certeza de que em pouco tempo terá de ser substituído, tal como as fresadoras chinesas, ou um celular, ou um DVD, ou uma TV de 29 polegadas ou qualquer outra coisa. Coisas que duram pouco precisam de mais substituições, e se as substitutas sempre são inovadoras e glamurosas, isso gera, além de um círculo vicioso, muito lixo (imagine onde serão postas as quatro fresadoras quebradas), e um consumo descontrolado e obsessivo. É a era da inovação descatável.

O pior de tudo é que nossa economia está calcada neste consumo, que por sua vez não pode se desgrudar da inovação descartável, de modo que se ele (este tipo de consumo) cessar de uma hora pra outra, provavelmente os engravatados dirão que haverá outra crise que “deixará 1929 no chinelo”.

Estranho. De um monte de antropólogos que estudam índios mundo afora, nunca ouvi falar de relatos dos índios de que eles estavam em uma “crise econômica”. Provavelmente eles nem sabem o que “aterrorizou” a engravatados e não-engravatados do Ocidente.

Será que teremos que voltar a viver em ocas, dormir em redes e comer mandioca com banana para assim, pelo menos não mergulharmos a Terra no mar de fumaça preta? Se isso acontecer (voltarmos pras ocas), pelo menos teremos um fresadora Strigon para produzirmos as novas engrenagens de nosso mundo. Mas, pelo jeito, acho que os bixos do meu irmão ainda vão ter que aprender muito chinês (boa sorte, bixos!).

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Quem é que é grande?

Não, este blog não é um blog exclusivamente futebolístico. Entretanto, como visa satisfazer às minhas vontades de escrever, e frequentemente tenho vontade de escrever sobre este esporte, provavelmente frequentemente postarei textos referentes a isto.

Bom, há um vídeo circulando no youtube que não estou me cansando ver.

Quase que todo dia dou uma passadinha para vê-lo, já que ele me intriga bastante. Não é um épico com um final feliz, tal como os filmes hollywoodianos. Muito pelo contrário, passa por momentos extremamente emocionantes, sendo esses grandes alegrias ou grandes decepções (inclusive seu desfecho é a decepção mais recente que nós tivemos, os palmeirenses) os quais passei a acompanhar com assiduidade a partir de meus seis anos de idade.

Isso me fez refletir sobre o que consiste a grandeza de um time de futebol.
Será ela a expressão das vitórias e glórias de cada time?
Será ela contabilizável pela quantidade de títulos que cada clube possui? Ou pela quantidade de torcedores medida pelo Ibope (o que contabiliza flamenguistas do Acre, por exemplo)? Ou então pelo tamanho do estádio do qual o time é dono?

Bom, meu(s) caro(s), após pensar bastante, acho que tenho algo a dizer sobre grandeza.

O primeiro vídeo é da final do Brasileirão de 2001. O segundo, de um jogo do Paulistão 2010, que inclusive conferiu a liderança provisória do certame paulista corrente ao time do ABC.

Notável, que o mesmo estádio, o Anacleto Campanella está abarrotado de gente no primeiro vídeo (um jogo importante), e com um conjunto de testemunhas que se pode contar nos dedos no segundo.

Lembra das perguntas que fiz acima buscando uma que desse a resposta a em que consistiria a grandeza de um clube? Pois bem. Não acho que nenhuma delas sirva para este propósito. Ótimo, desconstrui tudo o que corre por aí. E agora?! Bom, agora começa a doidice.

Acho que a grandeza de um time não pode, de maneira nenhuma, ser avaliada em um momento de vacas gordas, com sequenciais finais e semifinais de libertadores, títulos aqui e acolá. É na FILA, meu amigo, que se sabe quem é grande e quem é pequeno.

Um clube vitorioso, por onde passar arrebanhará um monte de fãs (e não torcedores). O sucesso atrai. Mas isso não diz nada. A não ser que este clube seja imune a turbulências (você conhece alguém que nunca entrou em crise? -bom, eu não), quando as vacas magras chegarem saberemos quem é torcedor (não fã, nem admirador: torcedor!) do Clube, e quem é fã do sucesso (que está com o que está no topo), o tipo de pessoa que responde à pergunta "pra que time você torce?" com um irritante "pro que estiver ganhando", e que não tem em sua playlist nenhuma música que tenha mais de seis meses de idade.

O Corinthians, que em sua fila que foi de 1954 até 1977 viu sua torcida (e não fã-clube) aumentar, o Palmeiras, que viu o Palestra Itália lotado e vibrante contra o Mogi-mirim numa estréia após a grande decepção que ocorrera em 2009, todos os clubes que encheram suas canchas em todos os jogos enquanto estavam na Série B... esses sim, podem ser chamados de grandes, pois de fato o são.

Acho que o maior exemplo disso é o Santa Cruz-PE, que em algum momento da Série D (eu disse D) de 2009 teve a maior média de público de todas as divisões do campeonato brasileiro. Esses clubes são dignos de meus aplausos e reconhecimento. E não correm o risco de se extingüirem, pois independentemente de onde estiverem jogando, sempre haverá alguém que os ama atrás deles, que os acompanhará, e que se necessário entrará em campo pra representar seu time, na ausência de jogadores oportunistas/não-mercenários.

Clubes grandes são os que despertam amor nas pessoas. Os pequenos são os que ou não despertam nada, ou despertam nas pessoas uma admiração pelo sucesso, que pode ser transferida ou acabada quando o sucesso abandonar o time, seja ele qual for. Minha opinião. Um time que se preocupa em ancorar sua "torcida" (e ponha muuuuitas aspas nisso) em seu sucesso, e não em sua essência, tende a acabar/falir/sumir quando o seu sucesso (que nunca será eterno) acabar. Que é que você acha?

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Apresentação

Acabei de criar este endereço. Por enquanto estou sem criatividade nem vontade para escrever nada. A idéia deste http://doicices.blogspot.com/ é eu ter um espaço onde possa publicizar tudo o que se passa nesta minha cabeça, (o que não é pouca coisa) por mais heterodoxa/doida (daí o nome) que ela possa parecer.

A princípio, a idéia é comentar, em nível macro, as coisas que me agradam e me revoltam a meu redor. Como bem foi escrito na descrição deste, não tenho por objetivo nem amaciar nem acabar com a vida de ninguém.

Uma coisa importante, e que não está presente na descrição é que a única pessoa a quem este blog não pode deixar de agradar sou eu. Por isto mesmo, desde já deixo o lembrete: ninguém é obrigado a estar aqui. Quem não quiser ler o que aqui é escrito, que não leia. E se discordar de algo que for escrito aqui, comente (na seção comenários), escreva em seu blog (e me mande ler sua resposta). Só não me peça pra mudar o que está escrito.

Ainda não sei o que será disso. Isso só o tempo dirá. Por ora, fui!