Quanto mais estudo menos penso. É esta a razão de um lapso tão grande entre o último texto e o de hoje. Já faz mais ou menos 60 dias desde a última postagem, a do Zico.
Bom, hoje mais uma vez começarei meu escrito me referindo à famigerada Revolução Francesa. Não tenho muito como fugir dela, pois é ela o fato que marca o início de Modernidade, e de todos os problemas que esta trouxe consigo.
Feita por uma classe burguesa que estava em busca de emancipação dos moldes da sociedade tradicional, que não lhes (aos burgueses, e todo o resto que não era nem clero nem nobreza) permitia ascensão política, e desta maneira lhes submetia ao poder da nobreza e do clero (cuja extensão se dava por sangue/hereditariedade, e não por posses), a RF (Revolução Francesa) trouxe consigo os ideais que guiam as sociedades modernas até hoje: Liberdade e Igualdade (há também a Fraternidade, mas não tenho esta por objeto em meu texto de hoje).
Uma sociedade em que os homens fossem iguais e livres permitiria aos burgueses ter tanto poder quanto qualquer clérigo ou nobre (o que seria impensável antes disso). Isso nesse tempo foi realmente chocante, um absurdo. Por isso se chamou Revolução (e não Evolução, por exemplo).
Fazendo o link com as sociedades Modernas, que se dizem democráticas, há uma tendência em todas suas legislações que tende a fazer com que a liberdade de um indivíduo e a igualdade deste perante os outros seja incontestável.
Para Kant, ser livre é ser autônomo, isto, é dar a si mesmo as regras a serem seguidas racionalmente. Para Jean-Paul Sartre, a liberdade é a condição ontológica do ser humano: o homem é nada antes de definir-se como algo, e é absolutamente livre para definir-se, engajar-se, encerrar-se, esgotar a si mesmo.
Poderá me perguntar, querido leitor: por que tanto esmero para definir liberdade?
Te responderei, então: numa sociedade em que a lei diz que os homens são todos iguais (então ninguém pode mandar em outro, a não ser que este outro consinta com isso), e dentro dessa igualdade todos são igualmente livres, permite a definição de liberdade como a de Sartre, por exemplo, que diz que o homem é, antes de tudo, livre para definir-se, engajar-se, esgotar-se a si mesmo. É uma liberdade que visa permitir ao homem que seja/faça tudo enquanto não burlar a liberdade/igualdade em relação aos outros. Temos então a definição burguesa de que um homem pode fazer tudo e ter direito a tudo também.
Marx teria uma crítica feroz a isso. Mas não sou marxista. Não poderia, portanto, me restringir à divisão classe dominante/classe dominada para explicar que os homens não têm, nem de longe, esta liberdade que é tão bonitamente descrita pelos homens acima, apesar de achar que este raciocínio tem lá seu fundo de verdade. Tendo mais a ser durkheimiano nesse aspecto.
Os indivíduos livres e iguais da Declaração de Direitos Humanos (produto derivado da RF) são nela tidos como se fossem todos autônomos, mônadas. Em "O Suicídio", Durk(heim) diz que um grupo social, qualquer que seja, deve produzir no indivíduo que a ele (ao grupo) pertence pelo menos duas sensações: a de integração e a de regulação.
Integração ocorre no sentido de sentir-se fazer parte daquilo (do grupo): ter crenças, hábitos, gostos, atitudes... o que quer que seja em comum com os outros pertencentes. Dessa maneira o indivíduo se sente identificado com o agrupamento a que pertence, e não está mais sozinho no mundo.
Regulação ocorre no sentido de que, a partir do momento em que se é parte componente de um agrupamento, haverá um tipo de conduta que se deve tomar, e um tipo de conduta que não se deve tomar para que se siga fazendo parte dele. Um católico não pode cometer adultério; um corinthiano não pode gritar Gol do Flamengo; um maçon não pode revelar seu pertencimento à maçonaria.... e assim por diante.
Bem, espero que até aqui tudo esteja claro. Acho que não há nenhuma novidade até este ponto. É daqui que começo:
Como é que um indivíduo pode ser livre dentro de um grupo? - Considerando que qualquer grupo que seja lhe imporá uma regulação, então o indivíduo nunca será totalmente livre detro de um grupo, qualquer que seja este grupo.
Então liberdade consiste em trocar de grupo quando se quiser? - Imaginando que, dentro de um grupo nunca se terá a liberdade plena, eu diria que esta é a definição que mais se aproxima do que eu descreveria como o máximo de liberdade possível: submeter-se à regulação do grupo a que se escolher pertencer.
Ora, então a liberdade não consiste em fazer tudo o que se puder, mas sim fazer tudo o que seu grupo permitir, e trocar de grupo quando achar que a regulação imposta por um outro é mais agradável (ou menos detestável) do que a do grupo a que já se pertence?! - Eu diria que sim. Nesse caso, liberdade cosistiria em livre troca de regulações, e não de auto-regulação.
Isso é liberdade?
Em minha humilde opinião, não. Por definição, liberdade é algo que só poderia ser objeto de discussão em sociedade. (Me soaria esdrúxulo alguém que morasse sozinho em uma ilha deserta pôr sua liberdade em questão: este pode fazer absolutamente tudo o que quiser: ele não precisa pensar em liberdade, porque o homem fora de sociedade (totalmente auto-suficiente) é, por excelência, a máxima concretização possível da liberdade.)
A sociedade sempre limitará o indivíduo que estiver dentro dela.
Então quem quer a liberdade plena deve abandonar a sociedade? -Considerando que a sociedade sempre exercerá sobre os indivíduos algum tipo de regulação, eu diria que sim.
sábado, 24 de abril de 2010
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Hmm... Bem interessante... voltarei para comentar esse tema, sem dúvidas.
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