Há até pouco tempo atrás o preconceito com mulheres que tinham os holofotes virados para si era tão grande, que as artistas mulheres eram socialmente igualadas a prostitutas. Lugar de mulher decente era em casa, ou na Igreja. Jamais em cima de um palco.
Há alguns séculos, nos teatros, as personagens mulheres eram representadas por homens. As próprias óperas de algum tempo atrás não tinham mulheres executando os agudos mais agudos. Esses eram executados por homens, que na grande maioria das vezes eram eunucos.
Os tempos mudaram, e ainda bem que mudaram. Para o bem da arte e do público, os papéis femininos passaram finalmente a ser representados por mulheres. Demorou. Isso fez parte de um grande movimento de emancipação feminina, cujas origens remontam ao Iluminismo e à Revolução Francesa.
O que gostaria de por em questão neste post, leitor, é a maneira pela qual a mulher aparece no campo artístico de modo geral. Não me referirei aqui à cultura erudita, tal como óperas e mesmo operetas, ou teatros de peças extremamente restritas. Não é a isso que estou me referindo por arte.
Meu foco é a "arte pop". É a novela da Globo, é a artista cujo clipe aparece na TV e a música toca no rádio, é a apresentadora de TV... enfim, artistas na pior acepção da palavra. Artistas "a la TV Fama". É a estas que estou me referindo.
A primeira coisa que me passa pela cabeça ao pensar nas mulheres artistas que tenho contato é a quantidade de roupas que costumam usar. Lady Gaga, Madonna, Jennifer Lopez, Angelina Jolie, Carla Perez, Angélica, Xuxa, Mara Maravilha, Eliana, Grazi Massafera, todas as atrizes jovens da Globo, e todas as cantoras jovens que aparecem.
São poucas as exceções, querido leitor.
Agora me diga: quais são os homens artistas que precisam apelar para a "semi-nudez"? Quase nenhum. Não consigo puxar nenhum de memória.
"Ah, será ele vai defender que homens têm que tirar a roupa também?"
De maneira alguma, prezado leitor. Este foi um mero artifício de que me utilizei para ilustrar como é a imagem da mulher na TV. É só ter um pouco mais de proeminência para ser convidada para aparecer pelada na PlayBoy, ou outra do mesmo gênero.
Mais que isso, observando as tendências artísticas contemporâneas, me parece que a mulher artista tende a ter cada vez menos roupa. No clipe "Telephone", Lady Gaga aparece com uma quantidade de roupa suficiente para que o youtube restrinja a exibição do clipe para acessantes maiores de idade. Há 20 anos atrás a Madonna não aparecia tão "descoberta" assim. E quanto mais longe se for no tempo, mais coberta estará a mulher artista.
Talvez o ponto extremo disso seja o Funk. Há quem defenda que certas "linhas" do ritmo, tal como a Gaiola das Popozudas, promovam a emancipação da mulher, por exemplo. Essas colocariam a mulher numa posição superior à do homem, uma vez que seriam elas (as próprias mulheres) quem ditaria a ocorrência ou não do ato sexual e seus desdobramentos. Apareceram defendendo isso no programa da Luciana Gimenes (outro ótimo exemplo do que estou falando) certa vez.
Uma mulher que se auto-denomina Popozuda, e declara seu poder tendo em vista o domínio no campo sexual não me parece alguém muito emancipada da condição de "mulher-objeto". Este vídeo mostra bem a maneira pela qual o Funk emancipa as mulheres.
É dificílimo encontrar uma mulher que apareça na grande mídia que tenha seios pequenos e não tenha colocado silicone, que nunca tenha saído na PlayBoy ou qualquer outra enquanto no auge de sua carreira, que não tenha feito de tudo para se engravidar de um homem famoso enquanto em destaque, que não tenha que usar um decote monstruoso a cada vez que vem a público, ou que nunca tenha feito pelo menos umas 05 cirurgias plásticas. As exceções são (além das atrizes e cantoras mais velhinhas) Denise Fraga, Sandy, Fernanda Torres (esta última ainda com algumas ressalvas), e as apresentadoras de telejornal.
Parece que uma mulher artista não pode se apresentar ao "grande público" como ela mesma enquanto dentro da grande mídia. Não pode ter uma identidade/imagem muito divergente da que se evidencia claramente nas propagandas de cerveja, por exemplo.
Após muitos séculos foi permitido às mulheres que aparecessem em público. Isso foi uma grande conquista. Emanciparam-se da "esfera privada totalizante". Mas pode-se afirmar que de fato tenham um status semelhante ao dos homens no espaço público?
Indo ainda mais a fundo: pode-se afirmar que essas sejam de fato artistas, no sentido de desenvolverem uma arte (pintar ou atuar ou cantar) de maneira extremamente competente?
Deixo resposta a seu cargo, leitor(a).
Por hoje é isso.
domingo, 5 de setembro de 2010
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