domingo, 19 de setembro de 2010

Lula e a democracia brasileira

PARTE I

O povo brasileiro não é de forte tradição no que diz respeito à ação política. Há um século, Oliveira Vianna disse que "O Brasil não tem povo."

É claro que dos tempos em que ele escreve (1920) pra cá, houve algumas alterações na vida política brasileira. A tendência de uns tempos pra cá foi a da inclusão política, e uma decorrência disso é o suposto aumento da participação popular nas decisões nacionais.

Até pouquíssimo tempo, a possibilidade de escolha política por parte do povo não dizia muita coisa, uma vez que as opções eram:

- Oligarquia A
- Oligarquia C
-Oligarquia M

Eu não acho que isto signifique um grande salto para a democracia nacional, uma vez que, mesmo com o aumento da participação política (o Brasil foi, por exemplo, um dos primeiros países do mundo a conceder direito de voto às mulheres, em 1932) no plano nacional o leque de opções para o povo não variava muito.

Pode ser que alguém argumente que lá atrás, Getúlio Vargas constituía uma alternativa popular. Concordo parcialmente. Ele é filho de uma família tradicional do RS, de uma elite regional. Claro que durante seu mandato promoveu grandes avanços no que se refere aos direitos sociais dos trabalhadores urbanos, que passaram a ter algo que se possa aproximar de "cidadania" a partir do momento em que Getúlio começou a agir.

O país chorou sua morte não foi à toa. A propósito, seu suicídio é um bom indicativo de que ele estava indo além do que deveria com sua política de ser "O Homem do Povo". Sabemos bem o que foi que o levou ao suicídio.

Pois bem. Veio a ditadura. Durante ela a participação do povo nas eleições aumentou. Mas era uma ditadura. Não sei até onde se pode defender a existência de liberdade política dentro de uma ditadura.

PARTE II

Eis que chegamos ao fim da ditadura e à redemocratização brasileira. O primeiro presidente eleito democraticamente nesse período foi Tancredo Neves, da elite mineira. Depois dele assumiu Sarney, aquele. Depois Collor, da oligarquia alagoana. Itamar, de novo da oligarquia mineira, e FHC, sociólogo carioca erradicado em São Paulo, na USP. Se não era alguém da elite de terras, era alguém da elite intelectual brasileira.

Desde 1500 até FHC, a elite ainda não havia deixado o poder no Brasil.
Isso mudou com Lula, um metalúrgico sem eira nem beira, que teve que perder 3 eleições presidenciais (Collor e FHC duas vezes) até que fosse finalmente eleito em 2002.

Foi (e é) alvo de um enorme preconceito devido a sua origem humilde. É bom que se diga que este preconceito tem origem principalmente do mesmo conjunto de pessoas que elegeu todos os outros presidentes e apoiou a ditadura aqui. Nada mais lógico.

A eleição de Lula foi uma clara demonstração de que a democracia brasileira passava a ser, finalmente, um pouquinho mais democrática. Foi a primeira vez que o que saiu das urnas era algo se pudesse chamar de "uma ação política do povo", com vários poréns.

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