Não, este blog não é um blog exclusivamente futebolístico. Entretanto, como visa satisfazer às minhas vontades de escrever, e frequentemente tenho vontade de escrever sobre este esporte, provavelmente frequentemente postarei textos referentes a isto.
Bom, há um vídeo circulando no youtube que não estou me cansando ver.
Quase que todo dia dou uma passadinha para vê-lo, já que ele me intriga bastante. Não é um épico com um final feliz, tal como os filmes hollywoodianos. Muito pelo contrário, passa por momentos extremamente emocionantes, sendo esses grandes alegrias ou grandes decepções (inclusive seu desfecho é a decepção mais recente que nós tivemos, os palmeirenses) os quais passei a acompanhar com assiduidade a partir de meus seis anos de idade.
Isso me fez refletir sobre o que consiste a grandeza de um time de futebol.
Será ela a expressão das vitórias e glórias de cada time?
Será ela contabilizável pela quantidade de títulos que cada clube possui? Ou pela quantidade de torcedores medida pelo Ibope (o que contabiliza flamenguistas do Acre, por exemplo)? Ou então pelo tamanho do estádio do qual o time é dono?
Bom, meu(s) caro(s), após pensar bastante, acho que tenho algo a dizer sobre grandeza.
O primeiro vídeo é da final do Brasileirão de 2001. O segundo, de um jogo do Paulistão 2010, que inclusive conferiu a liderança provisória do certame paulista corrente ao time do ABC.
Notável, que o mesmo estádio, o Anacleto Campanella está abarrotado de gente no primeiro vídeo (um jogo importante), e com um conjunto de testemunhas que se pode contar nos dedos no segundo.
Lembra das perguntas que fiz acima buscando uma que desse a resposta a em que consistiria a grandeza de um clube? Pois bem. Não acho que nenhuma delas sirva para este propósito. Ótimo, desconstrui tudo o que corre por aí. E agora?! Bom, agora começa a doidice.
Acho que a grandeza de um time não pode, de maneira nenhuma, ser avaliada em um momento de vacas gordas, com sequenciais finais e semifinais de libertadores, títulos aqui e acolá. É na FILA, meu amigo, que se sabe quem é grande e quem é pequeno.
Um clube vitorioso, por onde passar arrebanhará um monte de fãs (e não torcedores). O sucesso atrai. Mas isso não diz nada. A não ser que este clube seja imune a turbulências (você conhece alguém que nunca entrou em crise? -bom, eu não), quando as vacas magras chegarem saberemos quem é torcedor (não fã, nem admirador: torcedor!) do Clube, e quem é fã do sucesso (que está com o que está no topo), o tipo de pessoa que responde à pergunta "pra que time você torce?" com um irritante "pro que estiver ganhando", e que não tem em sua playlist nenhuma música que tenha mais de seis meses de idade.
O Corinthians, que em sua fila que foi de 1954 até 1977 viu sua torcida (e não fã-clube) aumentar, o Palmeiras, que viu o Palestra Itália lotado e vibrante contra o Mogi-mirim numa estréia após a grande decepção que ocorrera em 2009, todos os clubes que encheram suas canchas em todos os jogos enquanto estavam na Série B... esses sim, podem ser chamados de grandes, pois de fato o são.
Acho que o maior exemplo disso é o Santa Cruz-PE, que em algum momento da Série D (eu disse D) de 2009 teve a maior média de público de todas as divisões do campeonato brasileiro. Esses clubes são dignos de meus aplausos e reconhecimento. E não correm o risco de se extingüirem, pois independentemente de onde estiverem jogando, sempre haverá alguém que os ama atrás deles, que os acompanhará, e que se necessário entrará em campo pra representar seu time, na ausência de jogadores oportunistas/não-mercenários.
Clubes grandes são os que despertam amor nas pessoas. Os pequenos são os que ou não despertam nada, ou despertam nas pessoas uma admiração pelo sucesso, que pode ser transferida ou acabada quando o sucesso abandonar o time, seja ele qual for. Minha opinião. Um time que se preocupa em ancorar sua "torcida" (e ponha muuuuitas aspas nisso) em seu sucesso, e não em sua essência, tende a acabar/falir/sumir quando o seu sucesso (que nunca será eterno) acabar. Que é que você acha?
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
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Há pouquíssimo tempo esse tema foi debate em alguma mesa redonda, e eu li em algum colunista também sobre a polêmica. Alguém (que, claro, não sei quem) dizia que time grande é aquele que não depende de ninguém para ser estável, ou pra sobreviver, algo assim. Ou seja, estava criticando os clubes que dependem de parcerias. Claro que as parcerias as vezes podem prejudicar muito o time, e fazer com que momentos de crise e de glória se revezem constantemente, mas refletindo um pouco acho que isso é coisa muito pequena para se medir a grandeza de um clube. Com certeza ela não está em questões administrativas. O time que não depende de parcerias pode ser considerado um time estruturado.
ResponderExcluirAgora a sua idéia da torcida me é nova, mesmo porque só depois do texto comecei a refletir sobre o que é um time grande. Acho que faz todo sentido, mas também como afirmar que times "pequenos" de interior, com torcidas fiéis, são grandes? Acho que todos os times com uma torcida fiel e relevante já foram vitoriosos em algum momento. E posso perceber que o time novo aqui de São Carlos começa a mobilizar mais gente quando anuncia investimentos ou quando sobe no campeonato paulista...
Sem dúvida que os times que têm torcida fiel perdurarão, mas pode-se dizer que eles todos são grandes?
Continua a polêmica!
E como se define a "essência" de um time?
ResponderExcluirPrimeiramente, parabéns pela iniciativa do blog, acompanharei sempre! Muito interessante o tema e a ideia apresentada no post cara. Eu penso que não devemos ser maniqueistas de excluir o fator sucesso da construção da grandeza de um clube. Seus torcedores torcem por acreditarem que o time pode ser vencedor no futuro. Sem nunca terem sentido o gostinho do sucesso, mesmo que momentaneamente e de maneira pontual na história, a torcida nunca passará de um conjuntinho de testemunhas nas arquibancadas, conhecidos como torcedores "bairristas". É o que provam torcidas de tantos clubes do paulistinha. Tantos corinthianos, palmeirenses e "santa cruzenses"(?) só foram fiéis por longos anos de fila, porque já tinha sentido por muitas vezes o que é ser o 1°. Mas o inverso também penso ser válido, não se pode ser grande sem fidelidade do torcedor. São 2 fatores que acredito serem indispensáveis para a grandeza de um clube.
ResponderExcluirPrimeiro agradeço aos comentários feitos nesse meu primeiro texto "pra valer". Não esperava mais de um (comentário) pra esse primeiro (texto).
ResponderExcluirBom, me sinto na obrigação de responder aos que me prestigiaram. Acho que a essência de um time não é algo objetivo (respondendo à Samantha), imagino que o que desperta o amor por um mesmo Clube X pode variar de pessoa pra pessoa. Acredito, entretanto, que de time pra time, normalmente ocorre uma espécie de "intersubjetividade" durante a escolha, de maneira que acredito que pode ocorrer de as pessoas escolherem um mesmo time por terem subjetividades semelhantes (isso dá muuuuuito pano pra manga), o que, se realmente ocorrer, pode ser a origem de um ETHOS clubístico. Isso dá margem pra muitas outras suposições...
Concordo totalmente que a dita "estrutura" (Dani) se refere somente à organização, e não tem nada a ver com grandeza. Prova disso é o Barueri, que tem uma ótima estrutura, mas que em minha opinião é menor que o Juventus da rua Javari, por exemplo.
Você tocou num ponto importante: acho que todo time muito grande realmente em algum momento já foi um time vencedor. O que quero dizer é que nem todos os times vencedores são grandes, entende?
Por isso peguei o exemplo do São Caetano, que pra cada mil torcedores que tinha em seu estádio no jogo de 2001 (época áurea), tinha 1 no vídeo de 2010 (tempo de fila).
Entretanto (Davi), não diria que os dois de Campinas, o Juventus, e talvez até a própria Ferroviária de Araraquara sejam times pequenos, por exemplo. São times de história e tradição, bairristas sim, mas que não se tornam "visitantes de sua própria casa" (o que, em minha opinião, é o maior sinal de pequeneza), mesmo quando jogam contra os grandes da capital.
Agradeço a todos, e se quiserem, sigamos com o debate. Devo postar outras coisas sobre outros assuntos em breve.
Até mais!
Vou postar este comentário meio atrasado, já que tem até outro texto, mas acho que ainda vale...
ResponderExcluirAchei a idéia de que a grandeza de um clube é medida pela fidelidade dos torcedores durante os momentos de vacas magras muito interessante porque é provocativa. Subverte o tipo um de visão sobre o futebol, infelizmente dominante, que enxerga somente o que está sob os holofotes, que considera times como o Chelsea ou o Manchester City como grandes clubes.
Eu seria capaz de defender esse critério radical de grandeza em qualquer discussão sobre futebol porque acho que ele se baseia totalmente na perspectiva do futebol que eu admiro: a do torcedor real de futebol, aquele que é apaixonado pelo time, que acompanha o seu time da maneira mais próxima que pode, que leva o futebol como um estilo de vida. Como está muito bem dito no texto, não é um admirador, nem um fã, muito menos um CONSUMIDOR de futebol. Essa visão que eu estou falando se difere da visão de futebol que está contida num comercial de fornecedora de material esportivo ou numa transmissão de TV de um jogo internacional, por exemplo.
Porém, apesar de achar legal essa forma de identificar um grande ou um pequeno clube, eu concordo com o davi quanto à importância das conquistas e dos títulos. Na verdade, acho que o critério de grandeza de um time é como se fosse uma fórmula, que contém vários fatores que se deve considerar. Dentre esse fatores, acho que dá pra incluir, a fidelidade da torcida, o tamanho dela, os títulos, os períodos de hegemonia, os craques que pertenceram ao clube, a importância da escola de futebol do país em que o clube está localizado (por pior que estejam no momento, o Ajax ou o Feyenoord da Holanda são muito maiores que qualquer grande da Grécia, da Turquia ou da Rússia.), etc. Se o pessoal quiser continuar a discussão, podemos pegar alguns times e ver se eles são grandes ou não. Tem alguns casos que eu acho interessantes, como o Botafogo, que poucos títulos expressivos, tem uma torcida não muito grande, também não muito fiel (como posso de longe e preconceituosamente perceber), mas que é o time que mais forneceu jogadores à Seleção Brasileira e que tem uma série de lendas do futebol que jogaram por ele. Tem também o Atlético-MG, o Cosmos de Nova York (que já teve no time Beckenbauer, Pelé, Carlos Alberto Torres e hoje não existe mais...), os times argentinos, etc.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAdorei seu comentário, Augustão. Inclusive pensei bastante na conversa que tivemos naquele dia à noite na república dos moleques pra escrever esse texto.
ResponderExcluirAcho que a quantidade/qualidade de "jogadores ícones" que passaram por cada time realmente afeta bastante sua visibilidade, o interesse no time, e de maneira indireta (em minha opinião, óbvio) em sua grandeza.
Entretanto, discordo totalmente da afirmação de que o Cosmos-NY seja um time grande. Como é que pode um time grande falir (ou sei lá qual foi o motivo do fim de sua existência, o fato é que times grandes não acabam!), meu Deus do céu?!
O Racing-Arg é um ótimo exemplo disso. Na década de 1990 o clube faliu, mas foi salvo pelos torcedores, que assumiram a dívida e reergueram o clube. E depois de ter feito isso, fizeram a letra de música mais bonita que já ouvi uma torcida cantar, narrando esse acontecimento. O link disso deixo aqui abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=oStE1WnZGDg
A letra é esta:
"De pendejo te sigo/
Junto a Racing siempre a todos lados/
Nos bancamos la quiebra, un descenso y fuimos alquilados/
No me olvido ese dia que una vieja chiflada decía/
Que Racing no existía,/
que tenía que ser liquidado/
Si llenamos nuestra cancha y no jugamos ô-ô-ô/
Defendimos del remate nuestra sede ô-ô-ô/
Si la nuestra es una hinchada diferente/
No es amarga como la de Independiente ô-ô-ô/
Los Bosteros, San Lorenzo y las gallinas/
Nunca llenaron 2 canchas un mismo dia ô-ô-ô/
Y a vos Independiente yo te digo/
Vos sos amargos/
y pecho frio/
Vos sos amargo/
y tira tiro!"
E sigamos a discussão!
Abraço!
Cara, o Racing é um ótimo exemplo para discutir. Quando falei em times argentinos eu pensei nele e no Estudiantes que, apesar de ter 4 libertadores e ter tido como jogadores os dois Verons, não é considerado pelo que eu ouço falar um grade argentino (Dizem que são River, Boca, Independiente, San Lorenzo, Racing e, talvez, o Velez). Aliás, que coisa maravilhosa é esse canto da torcida do Racing.
ResponderExcluirQuanto ao Cosmos, eu com certeza também não o considero um grande; justamente o coloquei pra discussão para mostrar que somente ter tido grandes jogadores não significa grandeza, especialmente se o vínculo que esses jogadores tem com o time é principalmente financeiro. O Cosmos não estava localizado em uma grande escola do futebol, (e por isso) não tem grandes glórias ou conquista e não tem, pelo que eu sei, algo que se pareça com uma torcida de futebol. Não tem como comprar grandeza.
Uma coisa que eu gostaria de colocar para a discussão é se existe qualidades de torcidas que possam ser medidas, ou seja, se existe uma maneira de torcer melhor que outras. Pelo que eu conheço do seu gosto futebolístico e pelo que dá pra ver no texto, Alemão, acho que você aprecia muito um estilo fiel de torcida, que quando está no estádio empurra o time mesmo que este esteja em dificuldade ou jogando mal, que declara a todo momento seu amor incondicional ao time em canticos e em diversas formas de simbolização, mais ou menos como eu acho que é o estilo de algumas torcidas argentinas. Mas, o que eu quero por em questão é: Será que este é um jeito de torcer superior à outras maneiras? Frequentando os jogos do Santo André eu tenho reparado num estilo que eu acho que deve ser típico do Brasil, que são os tiozões corneteiros. No começo dá vontade de bater nesses velhos chatos(e depois também), porque quando o time está mal,nem precisa ser muito, eles encham MUITO o saco dos jogadores, dos técnicos e de suas respectivas mães. Dá a impressão de que eles são oportunistas, que abandonam o time quando está mal. Mas na verdade, eu começei a ver que, mesmo nos momentos de pindaíba pelo qual o time passou, esses caras sempre estavam lá. Esbravejando, com raiva, mas estavam lá. Acho que na verdade, eles não deixam de ser torcedores só porque são exigentes demais. Seu estilo de torcer é que determina essa expressão pentelha de fidelidade ao time. Acredito que, por ser a maior escola de futebol do mundo, o Brasil acostumou mal seus torcedores, que, apesar de gostarem muito de futebol, são mimadinhos.
Augustão, será um prazer imensurável seguir nessa discussão contigo.
ResponderExcluirPra mim, sua frase que disse "não se pode comprar grandeza" sacramentou tudo o que penso do Cosmos e de qualquer outro time norte-americano. Aliás, me arrisco a dizer que os estado-unidenses não sabem o que é torcer. Lá tudo o que se tem (e são) são fãs, ou fans (mas há controvérsias...).
Acho que não posso negar minha admiração pelo jeito argentino de torcer, acho realmente invejável a maneira como eles parecem levar sua relação com seus clubes, seu ethos.
Sobre o "ethos corneteiro" do brasileiro, acho que se o cara corneta, xinga, exige melhoras, é porque das duas uma: ou ele está realmente preocupado com o time, ou ele está preocupado com o fardo que se tornará pra ele admitir perante seus próximos que ele torce para um "time perdedor", o que a cada dia é menos valorizado socialmente (mas não por mim).
Bom, se sua (deste corneteiro) preocupação for de fato com o time, ótimo, não vejo problemas se feitas (as cornetagens) em hora e lugar corretos. Entretanto, se esta for com seu próprio umbigo, e com "o que é que eu vou dizer lá em casa?", aí pode parar. Esse tipo de gente está preocupada consigo própria, e não com o time, então eu não acho que se possa classificá-los por "torcedores".
Por fim, concordo plenamente com o que você disse que o fato de o Brasil ser a maior escola de futebol do mundo acostumou mal seus torcedores, que apesar de gostarem muito (e ponha muito nisso) de futebol, são mimadinhos. Assino embaixo. Muito obrigado por seu comentário, Augustão! É um prazer discutir contigo. Abraço!
Alemão, estava revendo o video da torcida do Racing. Você reparou que sai um gol durante o canto, no final do video, muito provavelmente do time adversário? Tive essa impressão pelo barulho do fundo e pela cara que alguns torcedores fazem. Mas mesmo assim o grito continua praticamente na mesma intesidade. Impressionante...
ResponderExcluirNão foi só impressão não, Augustão. Realmente no final do vídeo sai um gol do outro time (acho que era o Independiente, o maior rival do Racing). E os torcedores continuam "alentando" (como eles gostam de dizer lá em Buenos Aires), do mesmo jeito que antes. Este jogo o Racing perdeu por 2X0, e se bem sei este aí foi o gol que sacramentou a derrota deles (o 2°, no caso).
ResponderExcluirAdmirável. Exemplar, a meu ver.