A maioria dos ricos morre rico, e a maioria dos pobres morre pobre, até que provem o contrário. O que foge disso vira filme.
Não, eu não sou aquele cara de origem humilde, que teve que superar todas as dificuldades possíveis que a vida poderia ter imposto a mim, que no final da vida terá uma história de superação digna de um filme hollywoodiano. Longe disso.
Aliás, as histórias de vida que viram filmes retratam feitos extraordinários, de gente que conseguiu feitos impossíveis. São poucos os filmes que mostram pobres que fracassam, ou ricos que têm sucesso. Ninguém precisa de filme nenhum constatar isso.
Filmes tratam de exceções, pontos fora da linha, outliers. Falando nisso, é para um outlier, que me (de maneira indireta, é verdade) incentivou a escrever algo hoje, que este post quase natalino se oferece.
Fora do "espírito hollywoodiano", sabemos bem como as coisas funcionam. A tendência é a reprodução, e não sou só eu quem fala isso. Marx, Bourdieu..., enfim. Esses caras e outros tantos descrevem mecanismos sociais cuja tendência é fazer com que o abastado siga abastado, e o despossuído siga despossuído.
Quem tiver a oportunidadede ler a teoria de ambos (Marx e Bourdieu, no caso) provavelmente concluirá que esses anciões das ciências sociais têm bastante razão quando caracterizam as relações entre dominantes e dominados pelo aspecto da reprodução da desigualdade geração após geração. Quem, como eu, tiver uma inclinação para o pensamento de esquerda, se identificará mais ainda.
Partindo para o plano prático, e saindo um pouco da teoria, acho cabível uma crítica a um pensamento como esse:
"Caramba, a pessoa sempre teve de tudo na vida, nunca lhe faltou nada... como é que ele pode fazer uma coisa como essa?"
É claro que normalmente um comentário como este se refere a uma atitude alheia que é julgada errada na ótica de quem faz o comentário.
Tenho lá algumas ressalvas a este tipo de pensamento, e é para expô-las que este post se destinará.
Conforto material é muito bom. É algo a que, com raras exceções, todos aspiram de alguma maneira. E é uma aspiração tão generalizada que quem não o possui (ou então não é satisfeito com o que tem) pode pensar que quem possui não pode ter problemas na vida, uma vez que possui tudo o que seria possível ter. E esta é uma das maiores enganações que alguém pode cometer, e vou dizer por quê:
O fato de uma pessoa viver em situação confortável não a torna mais ou menos humana que ninguém. Esta pessoa segue tendo sentimentos, decisões a tomar, relações a manter ou estabelecer... enfim, uma vida a viver. E por que é que uma pessoa dessas estaria menos sujeita às interpéries da vida? Não consigo enxergar nenhum argumento que possa provar este ponto de vista. Por favor me indique se tiver, leitor.
Minha posição é esta:
Se pessoa A pensa que a pessoa B é feliz porque "B" tem tudo o que "A" gostaria de ter, isto significa que:
1º "A" inveja B pelo que B tem.
2º "A" não é feliz com o que tem.
3º "A" imagina que seria feliz se tivesse o que B tem.
4º Por acreditar que B tem tudo o que A gostaria de ter, A acredita que B não pode ser outra coisa, senão totalmente feliz e satisfeito com sua vida.
Os 4 pontos se articulam bem, mas formam um conjunto perigoso. Quem pensa desta maneira dá muito valor às posses e se ilude, em minha opinião. Está acreditando que conforto traz felicidade. E isso não é necessariamente verdade. Para uma pessoa que pensa da maneira acima descrita, seria possível comprar a felicidade, portanto. E isto, para este blogueiro, é um absoluto absurdo. Mais que isso: é pequeno. Atribui sua infelicidade à falta de posses, e a vê refletida nas posses alheias. Chega a dar dó. Alguém assim deve sofrer demais na vida.
A felicidade é algo totalmente subjetivo, isto é, para cada um a felicidade é uma coisa diferente. Isto já me é suficiente para dizer que nem todos serão felizes com o conforto material, e nem todos serão infelizes sem ele. Sempre haverá quem dará muita importância ao que o dinheiro pode trazer. Mas também haverá quem enxerga além (ou aquém) do dinheiro e do mundo "comprável".
Talvez o mais importante seja saber que a felicidade não está nas posses, e sim nas pessoas. Tanto para o rico quanto para o pobre. O rico pode comer o que quiser (seja vegetal, animal ou humano), beber o que quiser, ter o que quiser, enfim. Mas o dinheiro também tem um alcance limitado. O filho rico que passar a Noite de amanhã diante de uma mesa farta, mas somente com a companhia da babá e o cachorro na mansão de sua família difícilmente terá melhores lembranças deste Natal do que o menino pobre que estiver rodeado por sua família, mesmo que seja muita gente pra pouca comida.
Pelo menos amanhã, na Noite de Natal, não será o dinheiro o que fará as pessoas felizes.
Nunca reclame de um presente. Pelo contrário, dê graças aos céus que alguém doou seu trabalho, seu tempo e sua energia pra fazer com que aquele presente, excelente ou horrível, chegasse em suas mãos. Este alguém merece um grande sorriso e um forte abraço, independentemente do que esteja dando. O ato de presentear é muito mais grandioso e importante que o presente em si.
Feliz Natal, fiel leitor.
P.S.: Em 2011 voltamos.
É isso.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
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