(Continuação do post "Lula e a democracia brasileira")
Se no plano do poder Executivo, o acesso ao poder tornou-se mais democrático com a eleição de Lula, no plano Legislativo o mesmo demorou um pouco mais para ocorrer.
Até 2002, não tínhamos candidatos ao Legislativo diferentes de burocratas engravatados. Talvez a eleição estrondosa de Enéas Carneiro em 2002 fosse um indicativo de que o povo estava cansado de opções tão homogeneamente ruins.
A eleição é uma escolha de representantes. Uma vez que não há no rol dos candidatos ninguém que o eleitor olhe e diga "ah, este cara me representa", a democracia se enfraquece. Poucos são os deputados que se conhece. A relação cidadão-deputado só é mantida por um laço de obrigação eleitoral. Nada mais que isso. Depois da eleição, se esquece quem está lá. Não há identidade.
Clodovil Hernandes em 2006 e Netinho de Paula em 2008 se deram conta disso, e foram eleitos como deputado federal e vereador, respectivamente. Isso já foi um escândalo à sua época. Mas o mais escandaloso ainda estava por vir: O abestado. Tiririca se tornou em fenômeno do horário eleitoral paulista.
Minha opinião: vai se eleger, e provavelmente será o deputado com mais votos em São Paulo, e talvez bata o recorde de Enéas, de 1,57 mi de votos.
Isso é bom?
Tem muita gente metendo o pau no abestado. Dizendo que seria um retrocesso elegê-lo.
"Como é que pode alguém ser tão burro a ponto de votar no Tiririca?"
É o que ouço de diversos cantos. Eleger o abestado seria realmente um retrocesso?
Eu particularmente só não votarei nele por um motivo: ele não irá ao Congresso devidamente trajado caso eleito. Se ele prometesse ir à Câmara dos Deputados como Tiririca, e não como Francisco Everardo Oliveira Silva, certamente teria o meu voto.
Com raras exceções o Legislativo brasileiro em geral é ainda algo que paira a uma gigantesca distância do povo brasileiro. O povo vota porque é obrigado, não porque acha que deve votar.
A questão é que candidatos com quem o eleitor de fato se identifique só começaram a aparecer agora. E o que é representação se não a identificação entre representado e representante?
Tiririca é um homem público. Todo mundo sabe quem ele é, principalmente depois das propagandas políticas. Se ele fizer alguma besteira ou maracutaia enquanto no poder, sua carreira (política e artística) estará acabada. Ele nunca perderá o estigma de corrupto caso se envolva em algum "esquemão" dentro do Congresso Nacional.
Além disso, se eleito, estará sob constante vigilância. De todos. Será de fato um representante. Não será alguém que já nem se lembra quem é um mês depois da eleição.
Este blogueiro interpreta a potencial eleição do "abestado" mais como um progresso no que diz respeito à qualidade e à intensidade da representação política no plano Legislativo brasileiro do que como um retrocesso.
Com a eleição de gente conhecida para a ocupação dos cargos de poder nacionais, a cobrança que pode ser exercida é absurdamente maior. O poder não está nas mãos de um "sem-nome" qualquer, mas sim nas de alguém extremamente conhecido, que será cobrado (principalmente pelos que se opuseram à sua candidatura) até o final de seu mandato, se conseguir chegar lá.
Tiririca é um avanço, não um retrocesso. Uma vez que os engravatados não inspiram a confiança de ninguém, o Tiririca inspira. Mesmo que seja numa espécie de "voto de protesto", ou o que quer que seja.
Além de tudo, o cara ainda zoa, dentro de suas próprias propagandas a distância que separa o povão dos cargos legislativos hoje em dia.
"Você sabe o que faz um deputado federal? Bom, na realidade eu também não sei. Mas vota em mim que eu te conto." Tiririca
E é isso mesmo. Você, leitor, sabe o que faz um deputado Federal? Eu (o blogueiro) tenho uma vaga (eu disse vaga) noção, e olhe que eu estudei Política I, II, III e IV.
"Trouxe minha família para comover o eleitor" [...] "Pede voto, pai. Pede voto, mãe. Sorri, pai. Sorri, mãe." Tiririca
O abestado vai sacudir a política nacional. Já está sacudindo. E muita coisa tende a mudar (pra melhor) com sua eleição. Mesmo que esta mudança seja oriunda de uma reação conservadora partida de quem não admite uma derrota para um palhaço.
"O povo não é palhaço. Mas eu sou." Tiririca
Que você acha do abestado, leitor?
É isso.
domingo, 19 de setembro de 2010
Lula e a democracia brasileira
PARTE I
O povo brasileiro não é de forte tradição no que diz respeito à ação política. Há um século, Oliveira Vianna disse que "O Brasil não tem povo."
É claro que dos tempos em que ele escreve (1920) pra cá, houve algumas alterações na vida política brasileira. A tendência de uns tempos pra cá foi a da inclusão política, e uma decorrência disso é o suposto aumento da participação popular nas decisões nacionais.
Até pouquíssimo tempo, a possibilidade de escolha política por parte do povo não dizia muita coisa, uma vez que as opções eram:
- Oligarquia A
- Oligarquia C
-Oligarquia M
Eu não acho que isto signifique um grande salto para a democracia nacional, uma vez que, mesmo com o aumento da participação política (o Brasil foi, por exemplo, um dos primeiros países do mundo a conceder direito de voto às mulheres, em 1932) no plano nacional o leque de opções para o povo não variava muito.
Pode ser que alguém argumente que lá atrás, Getúlio Vargas constituía uma alternativa popular. Concordo parcialmente. Ele é filho de uma família tradicional do RS, de uma elite regional. Claro que durante seu mandato promoveu grandes avanços no que se refere aos direitos sociais dos trabalhadores urbanos, que passaram a ter algo que se possa aproximar de "cidadania" a partir do momento em que Getúlio começou a agir.
O país chorou sua morte não foi à toa. A propósito, seu suicídio é um bom indicativo de que ele estava indo além do que deveria com sua política de ser "O Homem do Povo". Sabemos bem o que foi que o levou ao suicídio.
Pois bem. Veio a ditadura. Durante ela a participação do povo nas eleições aumentou. Mas era uma ditadura. Não sei até onde se pode defender a existência de liberdade política dentro de uma ditadura.
PARTE II
Eis que chegamos ao fim da ditadura e à redemocratização brasileira. O primeiro presidente eleito democraticamente nesse período foi Tancredo Neves, da elite mineira. Depois dele assumiu Sarney, aquele. Depois Collor, da oligarquia alagoana. Itamar, de novo da oligarquia mineira, e FHC, sociólogo carioca erradicado em São Paulo, na USP. Se não era alguém da elite de terras, era alguém da elite intelectual brasileira.
Desde 1500 até FHC, a elite ainda não havia deixado o poder no Brasil.
Isso mudou com Lula, um metalúrgico sem eira nem beira, que teve que perder 3 eleições presidenciais (Collor e FHC duas vezes) até que fosse finalmente eleito em 2002.
Foi (e é) alvo de um enorme preconceito devido a sua origem humilde. É bom que se diga que este preconceito tem origem principalmente do mesmo conjunto de pessoas que elegeu todos os outros presidentes e apoiou a ditadura aqui. Nada mais lógico.
A eleição de Lula foi uma clara demonstração de que a democracia brasileira passava a ser, finalmente, um pouquinho mais democrática. Foi a primeira vez que o que saiu das urnas era algo se pudesse chamar de "uma ação política do povo", com vários poréns.
O povo brasileiro não é de forte tradição no que diz respeito à ação política. Há um século, Oliveira Vianna disse que "O Brasil não tem povo."
É claro que dos tempos em que ele escreve (1920) pra cá, houve algumas alterações na vida política brasileira. A tendência de uns tempos pra cá foi a da inclusão política, e uma decorrência disso é o suposto aumento da participação popular nas decisões nacionais.
Até pouquíssimo tempo, a possibilidade de escolha política por parte do povo não dizia muita coisa, uma vez que as opções eram:
- Oligarquia A
- Oligarquia C
-Oligarquia M
Eu não acho que isto signifique um grande salto para a democracia nacional, uma vez que, mesmo com o aumento da participação política (o Brasil foi, por exemplo, um dos primeiros países do mundo a conceder direito de voto às mulheres, em 1932) no plano nacional o leque de opções para o povo não variava muito.
Pode ser que alguém argumente que lá atrás, Getúlio Vargas constituía uma alternativa popular. Concordo parcialmente. Ele é filho de uma família tradicional do RS, de uma elite regional. Claro que durante seu mandato promoveu grandes avanços no que se refere aos direitos sociais dos trabalhadores urbanos, que passaram a ter algo que se possa aproximar de "cidadania" a partir do momento em que Getúlio começou a agir.
O país chorou sua morte não foi à toa. A propósito, seu suicídio é um bom indicativo de que ele estava indo além do que deveria com sua política de ser "O Homem do Povo". Sabemos bem o que foi que o levou ao suicídio.
Pois bem. Veio a ditadura. Durante ela a participação do povo nas eleições aumentou. Mas era uma ditadura. Não sei até onde se pode defender a existência de liberdade política dentro de uma ditadura.
PARTE II
Eis que chegamos ao fim da ditadura e à redemocratização brasileira. O primeiro presidente eleito democraticamente nesse período foi Tancredo Neves, da elite mineira. Depois dele assumiu Sarney, aquele. Depois Collor, da oligarquia alagoana. Itamar, de novo da oligarquia mineira, e FHC, sociólogo carioca erradicado em São Paulo, na USP. Se não era alguém da elite de terras, era alguém da elite intelectual brasileira.
Desde 1500 até FHC, a elite ainda não havia deixado o poder no Brasil.
Isso mudou com Lula, um metalúrgico sem eira nem beira, que teve que perder 3 eleições presidenciais (Collor e FHC duas vezes) até que fosse finalmente eleito em 2002.
Foi (e é) alvo de um enorme preconceito devido a sua origem humilde. É bom que se diga que este preconceito tem origem principalmente do mesmo conjunto de pessoas que elegeu todos os outros presidentes e apoiou a ditadura aqui. Nada mais lógico.
A eleição de Lula foi uma clara demonstração de que a democracia brasileira passava a ser, finalmente, um pouquinho mais democrática. Foi a primeira vez que o que saiu das urnas era algo se pudesse chamar de "uma ação política do povo", com vários poréns.
domingo, 12 de setembro de 2010
Resolução das incertezas
Este meu Blog está com um perfil extremamente acadêmico. Não que isso seja ruim. Mas, se é para ser acadêmico, há muitos lugares em que se pode ler textos acadêmicos muito melhores que os meus, uma vez que eu sequer formado sou (ainda, é bom que se diga).
Assim sendo, esta será uma das primeiras postagens (se não a primeira) cuja inspiração é de fato uma experiência minha, sentida na pele, e que neste momento em que escrevo, parece que ter fechado uma idéia legal e coesa.
Uma pessoa sábia (e modesta...rs) normalmente passa boa parte da vida se questionando. E só se questiona quem pensa. Quem não pensa já logo aceita algo como dado, pronto, imutável e segue a vida inteira com o mesmo parâmetro e o mesmo paradigma. Não estou dizendo que isto seja melhor ou pior, longe de mim. O fato é que eu não sou assim, seja isto bom ou ruim.
"Que seria melhor pra mim?"; "Estou no lugar certo?"; "Estou fazendo o que deveria ser feito?"; "Estou agindo de acordo com a perspectiva que eu aspiro pra mim?"; "Que será de mim daqui um ano?"; "E daqui 5 anos?". Enfim, as perguntas que podem surgir (e surgem) são muitas. Dependendo da fase da vida então... (vixi...), elas podem se multiplicar mais que um casal de coelhos trancafiados numa jaula escura.
Nos últimos meses, passei por um período recheado de incertezas. Não sou alguém que tenha uma relação saudável com incertezas, principalmente quando elas interferem diretamente na minha vida e no meu futuro. Foi um período extremamente angustiante este que passou (reparou o tempo verbal do último verbo?). Não, eu não respondi a todas as minhas perguntas, querido leitor, e nem sei se algum dia terei a resposta pra tudo. Provavelmente não terei. Melhor assim.
Mas nas minhas poucas décadas de vida já pude chegar a algumas conclusões:
1ª- Fazer mal a si próprio não é algo bom
2ª- Fazer mal a outrem tampouco
Isso me soa óbvio. Provavelmente para meus leitores também soará. Mas isso não responde muita coisa, não é?
Não, não é, querido leitor. Imagine o paraíso em que viveríamos se todos tivessem fixas em suas respectivas cabeças estas duas certezas. Não dá pra imaginar.
Bom, isto prova que estas duas certezas não são tão óbvias assim.
Gente que se perde nas drogas, no álcool, na putaria, no jogo..., enfim, são muitas as maneiras por que se pode se prejudicar. Nem entrarei no mérito de cada um dessas "possibilidades de perdição" (isso seria a volta ao academicismo, que é justamente do que estou tentando fugir neste post).
Voltemos às duas certezas. Elas não indicam um caminho a ser percorrido. Mas fazem justamente o oposto: indicam o caminho a não ser percorrido. Isso já é um ótimo começo.
Não é fácil encontrar seu próprio caminho. O meu (se é que eu de fato encontrei) foi escolhido na base de muita reflexão, e da tentativa/erro, e mesmo assim ainda há várias variáveis indefinidas no entorno. Mas as incertezas nunca param de aparecer, e se um dia pararem é sinal de que se parou de pensar.
Minha conclusão não será a resolução para todas as incertezas do mundo. Tentar isso seria tão megalomaníaco quanto burro da minha parte.
Se você tem uma dúvida, é sinal de que você tem uma escolha a fazer. Não são muitos os que podem escolher. Me arrisco a dizer que são muitos os que não podem escolher. Quem escolhe é um privilegiado, alguém que tem uma oportunidade que outros não tem. Para tomar uma decisão pessoal importante é importantíssimo olhar para a pessoa do lado (ou de baixo).
Portanto, pensar no coletivo (e no bem do coletivo) sempre é uma boa escolha. Quem ajuda o coletivo tende a ser ajudado por ele, ou no mínimo por parte dele. E mesmo que o retorno não venha, a simples sensação de dividir com alguém o que te foi dado, mas não foi dado a outrem já deveria ser suficientemente gratificante. Isso ajudou a sanar parte de minhas incertezas, e provavelmente te ajudará a resolver as suas, leitor.
Uma ação voltada para o bem-comum nunca é uma ação errada. Isto é uma certeza.
Tem certeza?
Paro por aqui hoje.
Assim sendo, esta será uma das primeiras postagens (se não a primeira) cuja inspiração é de fato uma experiência minha, sentida na pele, e que neste momento em que escrevo, parece que ter fechado uma idéia legal e coesa.
Uma pessoa sábia (e modesta...rs) normalmente passa boa parte da vida se questionando. E só se questiona quem pensa. Quem não pensa já logo aceita algo como dado, pronto, imutável e segue a vida inteira com o mesmo parâmetro e o mesmo paradigma. Não estou dizendo que isto seja melhor ou pior, longe de mim. O fato é que eu não sou assim, seja isto bom ou ruim.
"Que seria melhor pra mim?"; "Estou no lugar certo?"; "Estou fazendo o que deveria ser feito?"; "Estou agindo de acordo com a perspectiva que eu aspiro pra mim?"; "Que será de mim daqui um ano?"; "E daqui 5 anos?". Enfim, as perguntas que podem surgir (e surgem) são muitas. Dependendo da fase da vida então... (vixi...), elas podem se multiplicar mais que um casal de coelhos trancafiados numa jaula escura.
Nos últimos meses, passei por um período recheado de incertezas. Não sou alguém que tenha uma relação saudável com incertezas, principalmente quando elas interferem diretamente na minha vida e no meu futuro. Foi um período extremamente angustiante este que passou (reparou o tempo verbal do último verbo?). Não, eu não respondi a todas as minhas perguntas, querido leitor, e nem sei se algum dia terei a resposta pra tudo. Provavelmente não terei. Melhor assim.
Mas nas minhas poucas décadas de vida já pude chegar a algumas conclusões:
1ª- Fazer mal a si próprio não é algo bom
2ª- Fazer mal a outrem tampouco
Isso me soa óbvio. Provavelmente para meus leitores também soará. Mas isso não responde muita coisa, não é?
Não, não é, querido leitor. Imagine o paraíso em que viveríamos se todos tivessem fixas em suas respectivas cabeças estas duas certezas. Não dá pra imaginar.
Bom, isto prova que estas duas certezas não são tão óbvias assim.
Gente que se perde nas drogas, no álcool, na putaria, no jogo..., enfim, são muitas as maneiras por que se pode se prejudicar. Nem entrarei no mérito de cada um dessas "possibilidades de perdição" (isso seria a volta ao academicismo, que é justamente do que estou tentando fugir neste post).
Voltemos às duas certezas. Elas não indicam um caminho a ser percorrido. Mas fazem justamente o oposto: indicam o caminho a não ser percorrido. Isso já é um ótimo começo.
Não é fácil encontrar seu próprio caminho. O meu (se é que eu de fato encontrei) foi escolhido na base de muita reflexão, e da tentativa/erro, e mesmo assim ainda há várias variáveis indefinidas no entorno. Mas as incertezas nunca param de aparecer, e se um dia pararem é sinal de que se parou de pensar.
Minha conclusão não será a resolução para todas as incertezas do mundo. Tentar isso seria tão megalomaníaco quanto burro da minha parte.
Se você tem uma dúvida, é sinal de que você tem uma escolha a fazer. Não são muitos os que podem escolher. Me arrisco a dizer que são muitos os que não podem escolher. Quem escolhe é um privilegiado, alguém que tem uma oportunidade que outros não tem. Para tomar uma decisão pessoal importante é importantíssimo olhar para a pessoa do lado (ou de baixo).
Portanto, pensar no coletivo (e no bem do coletivo) sempre é uma boa escolha. Quem ajuda o coletivo tende a ser ajudado por ele, ou no mínimo por parte dele. E mesmo que o retorno não venha, a simples sensação de dividir com alguém o que te foi dado, mas não foi dado a outrem já deveria ser suficientemente gratificante. Isso ajudou a sanar parte de minhas incertezas, e provavelmente te ajudará a resolver as suas, leitor.
Uma ação voltada para o bem-comum nunca é uma ação errada. Isto é uma certeza.
Tem certeza?
Paro por aqui hoje.
domingo, 5 de setembro de 2010
Mulheres peladas
Há até pouco tempo atrás o preconceito com mulheres que tinham os holofotes virados para si era tão grande, que as artistas mulheres eram socialmente igualadas a prostitutas. Lugar de mulher decente era em casa, ou na Igreja. Jamais em cima de um palco.
Há alguns séculos, nos teatros, as personagens mulheres eram representadas por homens. As próprias óperas de algum tempo atrás não tinham mulheres executando os agudos mais agudos. Esses eram executados por homens, que na grande maioria das vezes eram eunucos.
Os tempos mudaram, e ainda bem que mudaram. Para o bem da arte e do público, os papéis femininos passaram finalmente a ser representados por mulheres. Demorou. Isso fez parte de um grande movimento de emancipação feminina, cujas origens remontam ao Iluminismo e à Revolução Francesa.
O que gostaria de por em questão neste post, leitor, é a maneira pela qual a mulher aparece no campo artístico de modo geral. Não me referirei aqui à cultura erudita, tal como óperas e mesmo operetas, ou teatros de peças extremamente restritas. Não é a isso que estou me referindo por arte.
Meu foco é a "arte pop". É a novela da Globo, é a artista cujo clipe aparece na TV e a música toca no rádio, é a apresentadora de TV... enfim, artistas na pior acepção da palavra. Artistas "a la TV Fama". É a estas que estou me referindo.
A primeira coisa que me passa pela cabeça ao pensar nas mulheres artistas que tenho contato é a quantidade de roupas que costumam usar. Lady Gaga, Madonna, Jennifer Lopez, Angelina Jolie, Carla Perez, Angélica, Xuxa, Mara Maravilha, Eliana, Grazi Massafera, todas as atrizes jovens da Globo, e todas as cantoras jovens que aparecem.
São poucas as exceções, querido leitor.
Agora me diga: quais são os homens artistas que precisam apelar para a "semi-nudez"? Quase nenhum. Não consigo puxar nenhum de memória.
"Ah, será ele vai defender que homens têm que tirar a roupa também?"
De maneira alguma, prezado leitor. Este foi um mero artifício de que me utilizei para ilustrar como é a imagem da mulher na TV. É só ter um pouco mais de proeminência para ser convidada para aparecer pelada na PlayBoy, ou outra do mesmo gênero.
Mais que isso, observando as tendências artísticas contemporâneas, me parece que a mulher artista tende a ter cada vez menos roupa. No clipe "Telephone", Lady Gaga aparece com uma quantidade de roupa suficiente para que o youtube restrinja a exibição do clipe para acessantes maiores de idade. Há 20 anos atrás a Madonna não aparecia tão "descoberta" assim. E quanto mais longe se for no tempo, mais coberta estará a mulher artista.
Talvez o ponto extremo disso seja o Funk. Há quem defenda que certas "linhas" do ritmo, tal como a Gaiola das Popozudas, promovam a emancipação da mulher, por exemplo. Essas colocariam a mulher numa posição superior à do homem, uma vez que seriam elas (as próprias mulheres) quem ditaria a ocorrência ou não do ato sexual e seus desdobramentos. Apareceram defendendo isso no programa da Luciana Gimenes (outro ótimo exemplo do que estou falando) certa vez.
Uma mulher que se auto-denomina Popozuda, e declara seu poder tendo em vista o domínio no campo sexual não me parece alguém muito emancipada da condição de "mulher-objeto". Este vídeo mostra bem a maneira pela qual o Funk emancipa as mulheres.
É dificílimo encontrar uma mulher que apareça na grande mídia que tenha seios pequenos e não tenha colocado silicone, que nunca tenha saído na PlayBoy ou qualquer outra enquanto no auge de sua carreira, que não tenha feito de tudo para se engravidar de um homem famoso enquanto em destaque, que não tenha que usar um decote monstruoso a cada vez que vem a público, ou que nunca tenha feito pelo menos umas 05 cirurgias plásticas. As exceções são (além das atrizes e cantoras mais velhinhas) Denise Fraga, Sandy, Fernanda Torres (esta última ainda com algumas ressalvas), e as apresentadoras de telejornal.
Parece que uma mulher artista não pode se apresentar ao "grande público" como ela mesma enquanto dentro da grande mídia. Não pode ter uma identidade/imagem muito divergente da que se evidencia claramente nas propagandas de cerveja, por exemplo.
Após muitos séculos foi permitido às mulheres que aparecessem em público. Isso foi uma grande conquista. Emanciparam-se da "esfera privada totalizante". Mas pode-se afirmar que de fato tenham um status semelhante ao dos homens no espaço público?
Indo ainda mais a fundo: pode-se afirmar que essas sejam de fato artistas, no sentido de desenvolverem uma arte (pintar ou atuar ou cantar) de maneira extremamente competente?
Deixo resposta a seu cargo, leitor(a).
Por hoje é isso.
Há alguns séculos, nos teatros, as personagens mulheres eram representadas por homens. As próprias óperas de algum tempo atrás não tinham mulheres executando os agudos mais agudos. Esses eram executados por homens, que na grande maioria das vezes eram eunucos.
Os tempos mudaram, e ainda bem que mudaram. Para o bem da arte e do público, os papéis femininos passaram finalmente a ser representados por mulheres. Demorou. Isso fez parte de um grande movimento de emancipação feminina, cujas origens remontam ao Iluminismo e à Revolução Francesa.
O que gostaria de por em questão neste post, leitor, é a maneira pela qual a mulher aparece no campo artístico de modo geral. Não me referirei aqui à cultura erudita, tal como óperas e mesmo operetas, ou teatros de peças extremamente restritas. Não é a isso que estou me referindo por arte.
Meu foco é a "arte pop". É a novela da Globo, é a artista cujo clipe aparece na TV e a música toca no rádio, é a apresentadora de TV... enfim, artistas na pior acepção da palavra. Artistas "a la TV Fama". É a estas que estou me referindo.
A primeira coisa que me passa pela cabeça ao pensar nas mulheres artistas que tenho contato é a quantidade de roupas que costumam usar. Lady Gaga, Madonna, Jennifer Lopez, Angelina Jolie, Carla Perez, Angélica, Xuxa, Mara Maravilha, Eliana, Grazi Massafera, todas as atrizes jovens da Globo, e todas as cantoras jovens que aparecem.
São poucas as exceções, querido leitor.
Agora me diga: quais são os homens artistas que precisam apelar para a "semi-nudez"? Quase nenhum. Não consigo puxar nenhum de memória.
"Ah, será ele vai defender que homens têm que tirar a roupa também?"
De maneira alguma, prezado leitor. Este foi um mero artifício de que me utilizei para ilustrar como é a imagem da mulher na TV. É só ter um pouco mais de proeminência para ser convidada para aparecer pelada na PlayBoy, ou outra do mesmo gênero.
Mais que isso, observando as tendências artísticas contemporâneas, me parece que a mulher artista tende a ter cada vez menos roupa. No clipe "Telephone", Lady Gaga aparece com uma quantidade de roupa suficiente para que o youtube restrinja a exibição do clipe para acessantes maiores de idade. Há 20 anos atrás a Madonna não aparecia tão "descoberta" assim. E quanto mais longe se for no tempo, mais coberta estará a mulher artista.
Talvez o ponto extremo disso seja o Funk. Há quem defenda que certas "linhas" do ritmo, tal como a Gaiola das Popozudas, promovam a emancipação da mulher, por exemplo. Essas colocariam a mulher numa posição superior à do homem, uma vez que seriam elas (as próprias mulheres) quem ditaria a ocorrência ou não do ato sexual e seus desdobramentos. Apareceram defendendo isso no programa da Luciana Gimenes (outro ótimo exemplo do que estou falando) certa vez.
Uma mulher que se auto-denomina Popozuda, e declara seu poder tendo em vista o domínio no campo sexual não me parece alguém muito emancipada da condição de "mulher-objeto". Este vídeo mostra bem a maneira pela qual o Funk emancipa as mulheres.
É dificílimo encontrar uma mulher que apareça na grande mídia que tenha seios pequenos e não tenha colocado silicone, que nunca tenha saído na PlayBoy ou qualquer outra enquanto no auge de sua carreira, que não tenha feito de tudo para se engravidar de um homem famoso enquanto em destaque, que não tenha que usar um decote monstruoso a cada vez que vem a público, ou que nunca tenha feito pelo menos umas 05 cirurgias plásticas. As exceções são (além das atrizes e cantoras mais velhinhas) Denise Fraga, Sandy, Fernanda Torres (esta última ainda com algumas ressalvas), e as apresentadoras de telejornal.
Parece que uma mulher artista não pode se apresentar ao "grande público" como ela mesma enquanto dentro da grande mídia. Não pode ter uma identidade/imagem muito divergente da que se evidencia claramente nas propagandas de cerveja, por exemplo.
Após muitos séculos foi permitido às mulheres que aparecessem em público. Isso foi uma grande conquista. Emanciparam-se da "esfera privada totalizante". Mas pode-se afirmar que de fato tenham um status semelhante ao dos homens no espaço público?
Indo ainda mais a fundo: pode-se afirmar que essas sejam de fato artistas, no sentido de desenvolverem uma arte (pintar ou atuar ou cantar) de maneira extremamente competente?
Deixo resposta a seu cargo, leitor(a).
Por hoje é isso.
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